O Pacto

Título: O Pacto

Autor: Joe Hill

Editora: Arqueiro

Páginas: 320

ISBN: 9788599296882

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Ignatius Perrish acorda com uma dor de cabeça terrível e descobre que durante a noite havia criado chifres. Claro que para Ig aquilo não poderia passar de uma alucinação, afinal sua mente andava perturbada e deprimida há muito tempo. Os chifres, que tinham o tamanho do seu dedo anular, grossos na base, afinavam à medida que faziam uma curva para cima, até formar uma ponta. Em se tratando de chifres, não eram lá grande coisa, mas Ig poderia estar doente, provavelmente um tumor estaria provocando as alucinações e ir ao médico era uma boa ideia. 

Ou não. Na sala de espera, uma mãe não aguenta mais o berreiro da filha, que diz odiar a mãe e querer queimar ela toda botando fogo na cama dela. Dentro do consultório as coisas não poderiam ser mais bizarras, o médico não lhe dá ouvidos, está cansado dos pacientes que "só se preocupam com eles mesmos" e o que mais quer é dar uma cheirada. Para surpresa de Ig (tem mais?), ao tocar o médico ele descobre coisas nada agradáveis, como o fato do Dr. Renald assediar as amigas de sua filha de 17 anos. 

Se um médico não pode ajudar Ig, um padre talvez possa. Mas, mais uma vez, Ig se surpreende ao encontrar padre Mould confidenciando o que existe de pior dentro de si. Descobre também que as pessoas pedem permissão a ele para cometerem os atos mais terríveis ou mais bobos, como se Ig liberasse nas pessoas uma parte que todos escondem muitíssimo bem e, por vezes, nem possuem consciência de existir dentro delas (ou não tem coragem de sequer cogitar), mas os desejos estão lá, sendo impulsionados pela presença de Ig, basta ele querer, permitir. 

Ig sempre foi uma boa pessoa e viera de uma família de recursos. Seu pai tocara com Sinatra e Dean Martin, seu irmão tinha um programa de TV que misturava música e comédia e sua mãe havia sido uma vedete em Las Vegas, tendo participado de uma porção de programas na televisão e filmes. Ig também teria sido músico como o pai e o irmão se não fosse a asma e hoje, aos 26 anos, restara-lhe o Gremlin AMC 1972, a única coisa que ele podia chamar de sua. Após a morte de Merrin, há um ano, Ig nunca mais fora o mesmo, vivendo num purgatório de sofrimento e solidão. 

Merrin, a qual conhecera muito cedo, foi o amor da sua vida, sua alma-gêmea e fora estuprada e morta. Ig havia sido o principal suspeito pelo seu assassinato e ainda estava sob investigação e sabia que todos na pequena cidade desconfiavam dele, mas não poderia imaginar o ódio que guardavam dele ao ouvir todos os segredos da população. O lugar que deveria lhe trazer mais conforto deveria ser a sua casa, mas Ig acaba sendo recebido como em tantos outros lugares, com a agravante de ouvir da sua própria família o quanto não é bem vindo. Mas a surpresa está na confissão de seu irmão, que acaba revelando para Ig quem matou Merrin. 

Nosso herói, um pária, decide tirar proveito do seu novo e bizarro dom para vingar a morte de Merrin, afinal ser bom e rezar não adiantou nada para Ig.

Em O Pacto, de Joe Hill, somos levados, assim como o personagem principal, a tatear pelo desconhecido, pois assim como Ig, não sabemos de onde os chifres surgiram. Acompanhamos Ig em sua busca por respostas, ficando chocados com os acontecimentos que vão se desenrolando na trama, como se estivéssemos em sua pele. Ao nos depararmos com a verborragia dos personagens, confessando seus pecados, segredos e desejos mais obscuros, descobrimos que a verdade vai mais além daquilo que chamamos de verdade e que a verdade é algo com o qual não estamos preparados para lidar, e isso vale até mesmo para as nossas verdades mais secretas. 

Li comentários negativos sobre o livro, muitos dizendo sobre como o autor não colocou os "pingos nos is", explicando como tudo se deu na história. Amei o livro e sou fã do Joe Hill e por ser fã não significa que devo gostar de tudo o que ele faça. Mas, para mim, o autor não precisa justificar certas coisas em seu livro, especialmente se essa "falta" de explicações não afeta em nada o desenvolvimento e o entendimento da leitura. Nos livros do autor, sempre existe uma atmosfera lúdica que se mistura ao horror e ao sobrenatural, criando um aspecto imagético, assim, nada acaba se perdendo "de vista".  

Aqui temos uma história que fala sobre amor, ciúmes e a falta de esperança, repleta de alusões, sendo a cereja, acredito, a maior delas. Além disso, o bem e o mal são discutidos, não de forma maçante, levando-nos a refletir se o mal é uma consequência ou se é algo simplesmente inerente ao homem. 

A única coisa que eu não gostei foi o título que deram aqui no Brasil, que não tem nada a ver com a história (o título original é Horns "Chifres", "Cornos"). 

Leia as resenhas de outros livros do autor:

Fantasmas do Século XX

A Estrada da Noite

Nosferatu

A adaptação, que estreia nos cinemas dos Estados Unidos no dia 31 de outubro, ainda não tem previsão de lançamento aqui no Brasil. No elenco: Daniel Radcliff, Juno Temple, James Remar, Kelli Garner, Heather Graham, Joe Anderson, Max Minghella. A direção é de Alexandre Aja (Viagem Maldita e Piranha 3D). 

Saíram novas fotos com a transformação do Daniel Radcliff (adoreei!), o que vocês acham?

Crédito das imagens: AdoroCinema