A Metamorfose possui um humor melancólico, amargo. Ao acordar certa manhã, Gregor Samsa encontra-se metamorfoseado em um inseto. A primeira coisa que me veio a cabeça foi o filme A Mosca, mas ao contrário do cientista Seth Brundie, Gregor não passou por nenhum experimento científico, na verdade, não ficamos sabemos sabendo nada sobre como se iniciou a transformação, apenas seguimos adiante em uma história sombria.
O jovem Gregor é um caixeiro-viajante que vive e sustenta a família (mãe, pai e irmã mais nova). No dia em que se transforma, Gregor está mais preocupado com os detalhes práticos de sua vida cotidiana: sair da cama, não se atrasar, trabalhar. O problema é que nada disso é possível, já que sua vida mudou completamente (afinal, ele virou um inseto!).
As coisas apenas pioram, quando o jovem passa a não conseguir mais se comunicar com as pessoas a sua volta e como os insetos, enconde-se sob os móveis e come restos de comida. A mãe, que possui a saúde frágil e o pai, um homem que não trabalha e vive de roupão (mesmo sendo capaz de trabalhar), trancam o filho no quarto. Apenas a irmã mostra alguma consideração pelo irmão, levando comida e arrumando seu quarto.
O que nos deixa com raiva no livro é o comportamento passivo de Gregor. Por que ele virou um inseto? Ora, sua vida já era bem medíocre e o rapaz não possuía respeito próprio algum. Vivia uma vida sem sentido, com um trabalho que não gostava e tinha uma família que não era lá grande coisa. O próprio Gregor já era um inseto (e se via como um) quando humano, a transformação só deixou isso mais claro.
Agora estou louca para ler a adaptação de Peter Kuper de A Metamorfose na versão em graphic novel.
O autor
Franz Kafka nasceu no dia 3 de julho de 1883 em Praga, na Tchecoslováquia. O autor ficou conhecido pela descrição concisa e lúcida de situações incompreensíveis. O romancista também possuía muita originalidade de pensamento e tinha a visão fantasmagórica de uma máquina de Estado opressiva que sufocava o indivíduo com complexidades burocráticas.
Kafka publicou poucas obras enquanto estava vivo e deixou instruções ao seu amigo e também testamenteiro literário, Max Brod, para que os originais inéditos não fossem publicados, mas queimados. O pedido não foi acatado depois da morte de Kafka em 3 de junho de 1924, em Kierling, na Áustria.
As obras do autor variam de temas que vão de situações corriqueiras até mesmo outras que beiram ao ridículo. Sua primeira coleção de contos (Contemplação) foi publicada em 1913, mas a grande virada veio com O Veredicto, onde um filho comete suicídio a pedido do pai e com A Metamorfose. Em seu romance O Processo, Kafka descreve um sistema de Estado que antecipava os regimes totalitaristas que viriam a surgir na Europa mais tarde.
Eu já vi esse "O Processo" em algum lugar. Agora não lembro se li (memória boa, né?). Vou procurar "O Veredicto", achei interessante e macabra a história :x
ResponderExcluirMas falando d'A Metamorfose, lembrei muito do coronel, do livro "Ninguém escreve ao coronel", do Garcia Marquez.