Título: A Hora dos Ruminantes
Autor: José J. Veiga
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 152
ISBN: 9788535925371
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Manarairema é uma cidade interiorana pacata que vê sua realidade diária ser interrompida pela chegada de misteriosos homens que acampam do outro lado do rio, chegada que gera comoção entre os habitantes de Manarairema, especialmente quando alguns desses habitantes travam contato com os visitantes misteriosos.
Enquanto a curiosidade dá lugar a especulação sobre as intenções do grupo, Manarairema é invadida por um número enorme de cachorros que ocupam a cidade como demônios alucinados, deixando um rastro de urina, estrume pisado e cheiro de pelo suado.
Acuados em suas casas, os moradores de Manarairema tem suas suspeitas intensificadas com relação aos recém chegados e o medo passa a imperar naquela cidade, especialmente quando, mais uma vez inexplicavelmente, centenas de bois chegam a cidade, enchendo becos, ruas e desembocando no largo. Nem mesmo dentro de casa as pessoas ficavam tranquilas e, com as janelas abertas, eram obrigadas a conviver com os olhos bovinos e um par de chifres.
"Pensando bem, só as crianças de Manarairema é que estavam refugando as novidades trazidas pelos homens da tapera. A gente grande era cheia de prudências, de conveniências, de esperanças de vantagens, ou então de simples medo". (p. 117)
As situações que beiram o surreal em A Hora dos Ruminates compreendem o realismo fantástico de José J. Veiga, que neste romance metafórico lançado em 1966, dois anos após o golpe militar, consegue em pouquíssimas páginas colocar o terror da dominação gradativa de uns sobre outros através de uma narrativa, mesmo em terceira pessoa, em que deixa o leitor consciente dos fatos apenas por meio dos habitantes de Manarairema e, junto com eles, o leitor encontra-se tanto ignorante quanto perplexo.
A Hora dos Ruminantes é um livro repleto de símbolos, ainda assim, uma leitura nada difícil e um livro escrito com perfeição.
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