Te vendo um cachorro


Título: Te vendo um cachorro
Título original: Te vendo un perro
Autor: Juan Pablo Villalobos
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 248
ISBN: 9788535926316
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Não li Festa no covil nem Se vivêssemos em um lugar normal que, com Te vendo um cachorro, formam a trilogia sobre o México de Juan Pablo Villalobos. Sabendo que a leitura fora de ordem não iria interferir em nada e com o crescente interesse que venho nutrindo pelos autores latino-americanos, não pensei nem duas vezes e solicitei o livro a Companhia das Letras, que o lançou mês passado.

A escrita de Juan Pablo Villalobos é fantástica, sua narrativa flui de forma maravilhosa e os personagens criados pelo autor são demasiadamente humanos, tudo isso em conjunto com uma história extremamente rica e densa, mesmo que o romance possua poucas páginas. Aliás, o autor distribui muito bem nas 248 páginas do livro o humor, a literatura, a política, a história, o sarcasmo, a vida adulta e a velhice e o México.

Teo fracassou na pintura, assim como o seu pai, mas dele herdou o temperamento artístico. Agora, aos 78 anos, Teo vive em um prédio tão velho e decrépito quanto os seus habitantes, que se dedicam a atividades organizadas por eles mesmos, como aulas de modelagem em miolo de pão, ginástica aeróbia, ioga, informática e macramê, tudo intercalado com o novo desafio da tertúlia literária: ler os sete tomos de Em busca do tempo perdido, de Proust (edição comemorativa da Aliança Francesa, que reuni os sete volumes em um só: quatro mil duzentas e trinta páginas, capa dura, papel-bíblia, três quilos e meio). A tertúlia, que para Teo está mais para uma seita satânica, é liderada por Francesca, a síndica do prédio, com quem ele mantém uma relação de amor e ódio. 

Mas não só a tertúlia e as atividades irritam Teo, as baratas são uma verdadeira praga naquele edifício e todos os moradores insistem no fato de que Teo está escrevendo um romance, coisa que ele deixa bem clara de não estar fazendo. 

"- Pode-se saber do que estou sendo acusado? De ser escritor? Pois eu me declaro inocente!" (p. 81)

Enquanto Teo passa os dias no boteco bebendo cerveja (e contando quantas cervejas pode tomar de acordo com as economias que lhe restam), na quitanda de Juliette (fornecedora oficial de todas as revoltas com os seus tomates fétidos), importunando os tertulianos, recebendo a visita do jovem mórmon "Güílen" e usando como arma, escudo e amuleto a Teoria estética, de Adorno, o leitor encontra uma narrativa que passeia pelo passado e o presente, conhece um jovem Teo que herdou do tio uma taqueria e, com ela, a técnica de preparar tacos à base de filés caninos, um Teo apaixonado, uma mãe que dedica sua vida aos cães e um garoto que vê neles lucro para o seu negócio. 

O autor passeia pela história e política do México, fala do mexicano, traz arte, literatura, pintura, loucura e esquecimento, situações realmente cômicas que encobrem tragédias. Te vendo um cachorro tem elementos absurdos e poéticos, um livro cheio de sentidos escondidos por trás da ironia de suas páginas e de seu personagem. 

2 comentários:

  1. Eu só descobri esse livro recentemente e não me vi interessada em lê-lo. A premissa não me conquistou.
    Porém, gostei muito da capa. Remente aos totens mexicanos e tals e também leituras de cordel aqui do Brasil.
    Beijos
    Balaio de Babados

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  2. Mistura interessante de literaturas e historia .

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