Páginas: 416
ISBN: 9788581632407
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"(...)
Um murmúrio se destacou dos outros. De certo modo era algo conhecido, mas tinha um timbre diferente. Gage não tinha prestado atenção a essa voz em particular. Era uma voz cansada. Uma que havia passado por uma experiência dolorosa. Era a voz de um velho em um jovem.
Gage se concentrou naquela voz com mais cuidado. Havia mais coisa por trás da sua história. Significativamente mais. Uma sensação de desconexão. Essa história tinha terminado antes mesmo de começar.
(...)
Quando a oportunidade surgisse, Gage ia oferecer a eles a ponte. No entanto, os dois iam precisar atravessá-la sozinhos. Precisariam encontrar seu próprio caminho para harmonizar seus sussurros.
Até isso acontecer, Gage continuaria a escutar.
Essas histórias continham muitas promessas." (p. 47 e 48)
Chris, o pai de Becky, havia se mudado de casa fazia quatro anos, não morava mais em Moorewood, onde sua ex-mulher, Polly, morava. Preferiu por Standridge, não ficava muito distante e assim ele podia buscar Becky para os jantares as terças à noite e aos sábados, uma vez por mês, em que a filha dormia em sua casa. Chris não estava feliz com essa condição, tudo reduzido a planos e momentos agendados, além da tentativa de manter um nível de continuidade em seu relacionamento com Becky, que mostrava-se distante do pai, através de conversas telefônicas e ocasionais mensagens de texto. A mudança para Standridge mostrou-se a mais sensata: Chris não se sentia bem em encontrar pessoas que conheciam ele e Polly em Moorewood, esse tipo de encontro sempre o constrangia e o fazia perceber que praticamente todos os seus amigos eram na verdade amigos de Polly. Sentia que fora simplesmente um acessório durante todos os anos de casamento.
E mesmo passados os quatro anos após a separação, Chris ainda se sentia confuso com o fim repentino de seu casamento, apesar de saber que as coisas não iam nada bem, especialmente quando Becky adoeceu. Discutiam todos os dias e as diferenças de opiniões, antes dribladas, tornaram-se impossíveis de lidar. A leucemia de Becky, então com cinco anos de idade, parecia ter separado os dois de várias maneiras. Apesar do casamento ter se tornado impossível, Chris não queria o divórcio, não queria ficar longe da filha. Ele sabia que logo ela entraria na adolescência e então não iria passar tanto tempo com a família, preferindo os amigos, mas Chris queria se certificar que sempre estaria perto de Becky e que ela soubesse disso. Mesmo adolescente, seu pai estaria lá, e seria tão legal para ela quanto foi em sua infância.
E agora as coisas funcionavam dessa forma, uma Becky de quatorze anos distante e uma Polly que não conseguia encarar o ex-marido. Até mesmo Al, atual marido de Polly, conseguia ser mais simpático com Chris.
"Chris encarou o cardápio, confuso. Ele nunca sabia como responder quando Becky se comportava desse modo. Como os pais rompem essas barreiras criadas pelos filhos? Ele imaginou se ela agia da mesma maneira com a mãe. Se o seu relacionamento com a ex-mulher fosse um pouquinho diferente, talvez pudesse perguntar a ela. Do jeito como as coisas estavam entre eles, não poderia confessar esses problemas de comunicação com a filha. Seria muita munição para o inimigo." (p. 31 e 32)
Chris sentia-se péssimo pelo estado atual de sua relação com Becky, afinal os dois sempre haviam se relacionado muito bem. Lembrava-se com carinho e nostalgia um dos momentos mais fascinantes que vivenciara: a criação de Tamarisk. Logo após o início do tratamento de quimioterapia de Becky, a garotinha estava muito assustada e confusa, tinha dificuldades para dormir e seu pai já havia passado várias noites com ela pensando em alguma maneira de consolá-la. Chris acreditava que Becky não iria morrer e seu otimismo ou fracasso em "levar sua doença a sério" foi um dos pontos que levaram marido e mulher a brigarem na época. Mas de qual outra forma ele conseguiria incutir confiança na filha?
Em uma noite Chris teve uma ideia, criar algo com a mente dos dois, uma história, mas não uma simples história, criaria com Becky um mundo inteiro para colocar lá em suas mentes. O reino foi chamado de Tamarisk e pai e filha ficaram tão envolvidos no exercício de inventar as partes do mundo, que só começaram a criar uma história na outra noite. Ao longo dos anos a história evoluiu de diversas formas e à medida que Becky ficava mais velha, ia desenvolvendo uma lógica interna dentro desse mundo.
"Embora algumas coisas ali não mudassem nunca. O mesmo rei e a mesma rainha ainda reinavam no país, eles ainda tinham como seus mais ferozes inimigos os thorns, povo que fazia fronteira ao sul do reino, muito embora isso não seguisse as regras da nomenclatura, e a linda, inteligente, sofisticada e brilhante princesa ainda estrelava quase todas as aventuras." (p. 56 e 57)
Quando o câncer de Becky entrou em remissão as visitas noturnas a Tamarisk se tornaram o ponto alto dos dias. Os dois sempre davam um jeito de darem uma passadinha rápida pelo mundo que haviam criado. Mas com o final de seu casamento, tudo acabou. No dia em que Chris se mudou, Becky disse que nunca mais iria querer contar outra história de Tamarisk. Havia sido incrível, uma fuga com Becky, mas todos aqueles anos de criação haviam chegado ao fim.
Enquanto isso, Becky sofre em silêncio por sentir tonturas e perceber que os sangramentos em seu nariz tornam-se mais constantes. Isso nunca mais havia acontecido, pelo menos não depois de a quimioterapia funcionar quando ela tinha cinco anos e ela melhorar. Ela não estava curada, mas em remissão. Mas depois de tanto tempo, será que não havia derrotado a "coisa"?
Paralelamente, sem Becky ou Chris terem conhecimento, Tamarisk continua viva, contando a sua própria história. Miea, a princesa e agora rainha, enfrenta um grande problema: uma doença em Tamarisk devasta todas as plantas e com isso extingue animais e plantações. Vários especialistas trabalham para encontrar o motivo da praga, mas ninguém consegue entender o que está acontecendo.
Becky sentia a falta do pai e precisava de ajuda. Miea estava devastada e também precisava de ajuda.
"- Eu não sabia o que estava procurando. Mas, pensando bem, um pouco antes disso acontecer, eu pedi ajuda.
- Pra quem?
- Eu não sei. Pra qualquer um.
- Talvez tenha algo aqui pra nós duas. Nada que a gente possa perceber só olhando.
- Por falar nisso, sou a Becky. Eu me refiro a você como Vossa Majestade?
Miea estremeceu.
- Seria muito bom se você fosse a única pessoa que conheço que não me tratasse assim. E nestas circunstâncias, não parece apropriado.
- Quais são as circunstâncias?
- Acho que isso é algo pra nós duas descobrirmos." (p. 99)
Esse encontro definitivamente aproximaria Becky de seu pai, afinal ele era louco por Tamarisk e não só por ser algo que ele podia fazer com ela, mas porque ele parecia realmente levar tudo muito a sério. Mal sabia Becky que seu pai faria tudo para se reaproximar da filha. Tamarisk era real para ela, mas como convencê-lo?
"Ouça, Lon, tem uma coisa que eu não contei pra você.
Lonnie ergueu a sobrancelha curiosa.
- Em circunstâncias normais eu estaria me preparando para uma má notícia se alguém dissesse alguma coisa assim pra mim, mas acho que eu já passei dessa fase.
Becky sorriu carinhosamente para a melhor amiga.
- Não, não são más notícias, mas você vai achar que elas são bem estranhas.
- Estou pronta. Pelo menos eu acho.
- Parte dos motivos pelo qual eu preciso passar mais tempo na casa do meu pai é o fato de eu precisar fazer uma coisa que eu só consigo fazer lá e em nenhum outro lugar. Lá eu posso viajar pra Tamarisk." (p. 305)
A Menina Que Semeava, de Lou Aronica é lindo! Uma história emocionante e mágica, que me surpreendeu e me deu um nó na garganta (ok, eu chorei). Sabe aquele livro que tem vários aspectos positivos e nada para se reclamar? A Menina Que Semeava é assim, não consigo ver um defeito ou algo que tenha me desagradado. A história flui tão bem, com capítulos que vão intercalando o que se passa no mundo de Becky e em Tamarisk, aliás, esse último é um lugar fantástico, mágico! As descrições que o autor usa para esse mundo são maravilhosas, levam o leitor direto para Tamarisk e o deixam deliciado com tanta beleza, seres e objetos diferentes, cheiros, música e costumes.
Os personagens dos "dois lados" são cativantes, cheios de profundidade, assim como a história. Mesmo não tendo gostado da Polly de início, entendi seu comportamento ao longo da história. São, ao mesmo tempo, frágeis e fortes (mais uma vez, assim como a história). A Menina Que Semeava é um livro com uma história delicada, que só poderia ser escrita com muito sentimento.
Outro dos muitos pontos positivos do livro é a interpretação que cada um que o lê pode dar. A Menina Que Semeava está livre para diversas opiniões. Quem é Gage? Tamarisk realmente é real? E tantas outras indagações. Cheguei a uma conclusão mas não irei compartilhá-la aqui, acredito que cada um deve ser "raptado" para este mundo repleto de magia e poder e ficar até tarde da noite sendo mantido acordado para chegar a sua conclusão. Vale a pena! (:
Que legal! um livro onde cada pessoa tira as proprias conclusões, adoro livros assim, é tão bom debater com outra pessoa seu ponto de vista *o*
ResponderExcluirPretendo ler o livro e tirar minhas conclusões ^^
Que maravilhoso ler uma resenha como essa! Eu já tava esperando muito desse livro desde que o vi numa lista no estadão (eu acho), mas não achei que fosse tudo isso, sabe? Que maravilhoso. Me interessei ainda mais. Ótima resenha!
ResponderExcluirliterallypitseleh.blogspot.com.br
Eu sempre vejo resenhas sobre esse livro e ele parece ser realmente maravilhoso! Espero algum dia ter a oportunidade de lê-lo!! :')
ResponderExcluirDesde o lançamento fiquei empolgada com este livro. Parece ser surpreendente mesmo.
ResponderExcluirRealmente estava preocupada, pois li algumas resenhas negativas que estavam acabando com minha animação =/ Mas é bom saber que são a minoria, rs.