Meu Amor, Meu Bem, Meu Querido



Título: Meu Amor, Meu Bem, Meu Querido
Autor: Deb Caletti

Editora: Novo Conceito
Páginas: 240
ISBN: 9788581631585
Ruby McQueen, também conhecida como a Garota Calada, é uma adolescente de 16 anos que vive no nordeste da cidade de Nine Mile Falls. A relação com sua mãe, Ann, e seu irmão mais novo, Chip Jr., é ótima, mas Ruby sentia falta de alguma coisa e com o verão se aproximando ansiava por uma vida emocionante e cheia de aventuras, uma vida como as dos livros da biblioteca em que sua mãe trabalhava. Afinal, Ruby acreditava que o verão é uma época em que grandes coisas acontecem, especialmente para as pessoa caladas. Nesse curto período de tempo ela não precisaria ser o que todo mundo pensa que ela é, haviam tantas possibilidades e todo aquele clima parecia dar a coragem que ela não teve ao longo do ano. Além disso, Ruby poderia ser quem quisesse, sem que ninguém ficasse reparando nela, e poderia ser alguém sem passado, alguém que poderia deixar de lado todas as coisas embaraçosas que passara no colégio e a tornara uma pessoa tímida e fechada, mas nada que nenhum adolescente já não houvesse passado, apenas episódios de uma garota que entrava no tão apavorante mundo da puberdade.

Seu pai era um artista, um cantor que trabalhava em um parque de diversões com motivos do Velho Oeste, no Oregon. Ele partira, deixando Ann, Ruby e Chip Jr., para entrar no show business, embora ele tivesse outra idéia de show business na cabeça. E ainda tinha. Ele esperava que algo grande fosse acontecer, como um produtor que fosse contratá-lo ou em um cantor de música country que desejasse gravar uma de suas composições.

A mãe de Ruby sempre imaginava que Chip McQueen voltaria para casa. Dez anos haviam se passado e ele ainda não voltara.

"Eis o que Peach, uma das Rainhas Caçarolas, diz sobre os homens, as mulheres e o amor: sabe aquela cena de Romeu e Julieta em que ele está debaixo da sacada olhando para ela? Um dos momentos mais românticos da história da literatura? Peach diz que de jeito nenhum Romeu iria confessar sua devoção por Julieta. A verdade é que Romeu estava apenas tentando olhar a calcinha dela". (p. 26)

Ruby acaba conhecendo Travis Becker, um garoto lindo e rico, e que também é louco por emoções. Para Ruby, Travis poderia ter sido um príncipe mimado e doente de muito tempo atrás, um artista condenado dos anos 30 ou Vronsky, de Ana Karenina, era um rapaz elegante, o tipo de cara que atrai as mulheres e por quem elas se atiram embaixo de um trem. E Travis parecia ter consciência disso, vestia roupas antiquadas, que pareciam de outro tempo, mas que nele ficavam maravilhosamente bem.

"Sempre achei uma maravilha poder voar, como em As mil e uma noites, talvez, sobre um tapete voador, sobrevoando países estrangeiros, cidades com pequenas torres, ou mesmo com minhas próprias asas, levitando contra a gravidade, vendo coisas sob uma perspectiva rara. Pegar carona na moto de Travis Becker foi uma experiência próxima a voar, para mim". (p. 31)

Ao lado de Travis, Ruby não se reconhecia, era como se fosse outra pessoa e não tinha certeza se gostava dela. Essa "nova" Ruby não tinha medo, mas deixava a "velha" Ruby nervosa. Mas ela poderia ser daquele jeito, da forma que Travis acreditava que ela fosse, poderia, aliás, ser muitas coisas que não havia considerado antes. Mas de uma coisa Ruby tinha quase certeza: Travis Becker era meio louco.

Enquanto Ruby encara o seu novo papel, na sua casa existe outra transformação: Ann, sua mãe, deixa de ser a bibliotecária eficiente para se tornar de um minuto para o outro na perfeita dona de casa dos anos 1950, isso porque seu pai está de visita.

"Para minha mãe, ele não parecia nem um pouco menor, no entanto. A julgar pelo brilho em seu olhar, a falta dele fazia que ela o imaginasse possuidor de uma força que a realidade não poderia alterar. Ela se apegaria aos detalhes de sua visão pessoal, do mesmo modo que fazemos quando lemos um bom livro de ficção. Ela gostava da imagem que criara. Não havia dúvida de que se ela visse o filme, teria odiado e reclamado de que não tinha nada a ver com o original ou com as intenções do autor". (p. 40 e 41)

Ruby preocupava-se com sua mãe. As visitas de seu pai faziam com que Ann o perdoasse por tudo, talvez por não querer lidar com a perda, mesmo sabendo que a pessoa em questão não merece o perdão. A partida de Chip sempre deixava sua mãe com o coração aos pedaços e ao mesmo tempo esperançosa, mas essa visita revelou-se mais triste que as outras, surpreendendo Ann e até mesmo Ruby.

Enquanto sua mãe sofria e isolava-se, Ruby se aproximava mais de Travis. Acabou conhecendo seus amigos, dos quais não gostou nem um pouco. Aquilo era muita "patricice" para ela, mas Travis parecia não ter sido "infectado" por toda aquela superficialidade, pelo menos era o que parecia.

"Eu não tinha medo de nada, porque era isso que o que ele queria de mim. Talvez fosse melhor eu ser quem ele queria do que quem eu pensava que era. De qualquer modo, tudo o que sei é que fiz a minha parte, que era segurar a onda e segui-lo. Daquele dia em diante, as coisas se aceleraram demais. Travis Becker era um pouco louco. Mas os nossos corações batiam em uníssono, e era isso que importava". (p. 62)

Estar fazendo coisas grandes, ter uma vida escondida, fazia Ruby sentir-se única, e ela gostava disso. Mas as coisas acabaram saindo do controle, fazendo Ruby seguir de forma voluntária o estilo de vida de Travis, repleto de privilégios e ilegalidade. Ela se arrisca cada vez mais e quando faz o impensável não pode aguentar a culpa e a vergonha. Ao mesmo tempo, seus pensamentos sempre se dirigem para Travis de forma descontrolada, como um alcoólatra ou chocólatra. Sua mãe sabia sobre Travis, mas não tudo.

"- Ele é um cara legal? - ela perguntou.
- Não - respondi com sinceridade.
- Bom, então você está tentando parar de se encontrar com ele. Pelo menos, é o que eu espero.
- Certo". (p. 88)

Mas é tão difícil! Travis é como um visitante indesejado, que controla os impulsos de Ruby. Para ajudar a filha e a si mesma, Ann leva Ruby até as Rainhas Caçarolas, grupo de estudos de literatura composto por senhoras que Ann lidera. Elas se autodenominavam "as Rainhas Caçarolas" por sempre levarem comida para a casa das recém-viúvas, na esperança de arranjar um marido. E mesmo que entre elas houvesse um membro masculino, ainda se chamavam assim. Aliás, Ann dizia para Ruby que Harold havia sido aceito por ter sido um chef e por fazer ótimos brownies.

"- Acho que a maioria das pessoas não é sábia; elas são só velhas - disse Miz June.
- A gente é tão ferrado como qualquer um - falou Peach.
- Fale por si - disse Harold.
- E dóceis! Eles pensam que somos dóceis só porque somos velhos. Pelo amor de Deus!
- Tenho certeza de que você não tem este problema - disse Harold.
- Lembre-se disto. - Peach balançou o dedo na minha cara. - Se uma pessoa é velha e dócil, provavelmente ela sempre foi dócil. Se ela é sábia, provavelmente sempre foi inteligente. Ninguém muda tanto.
- Bem, todo mundo muda bastante. - Miz June suspirou.
- Eu acho que a pele do meu pescoço parece uma laranja, se você tirar as sementes com o dedo - disse Anna Bee. E levantou o queixo para que a gente visse. Tinha razão. 
- Você devia ver minha tatuagem de borboleta que fiz no traseiro há anos. Agora está na parte de trás da coxa - disse Peach. - Como se tivesse voado". (p. 102)

O grupo discutia o livro A vida multiplicada por dois, de Charles Whitney e, claro, comiam e discutiam entre eles, além de Harold adorar pregar peças nelas. Peach tinha certeza que Rose, personagem do livro de Charles, era o amor da vida do autor e que Rose era Lilian, uma das Rainhas Caçarolas que acabara de sofrer um derrame e havia perdido a voz, além dos movimentos do braço e da perna esquerdos. Frágil, em uma cadeira de rodas, Lilian ainda mantinha os olhos vivos, alertas, observadores. Mas digamos que Peach já havia se enganado muito e ninguém deu muita bola para ela, menos Ann.

No entanto, após a leitura de alguns trechos do livro de Charles, Lilian chorou bastante e fora impedida de ir no próximo encontro do grupo por suas filhas, que também tomaram o livro do autor da mãe.

"Lilian saiu pela porta e seguiu pelo jardim, tão longe quanto pôde, até que as rodas da cadeira de rodas a impediram de ir adiante e a desesperança daquele ato a dominou. Alguém chamou a polícia e descreveu ter ouvido um "grito de angústia". Quando a polícia chegou, encontrou Lilian com a cabeça jogada para trás na cadeira de rodas, o cabelo e as roupas encharcados. O peito soluçava. Mesmo assim, ela não soltaria o livro que tinha nas mãos. Ela o protegeu da chuva com toda a força do seu corpo diminuto". (p. 138)

Infelizmente Lilian é levada para a Casa de Repouso Anos Dourados, o que enfurece as Rainhas Caçarolas. Mas elas tem um plano e enquanto Ruby gostaria de dizer que não pensa mais em Travis, ele arranja um jeito de entrar em sua cabeça, como se caminhasse por ali e pegasse coisas que não lhe pertenciam. Agora ela irá embarcar em uma missão com sua mãe, seu irmão e as Rainhas Caçarolas que irá render uma rica jornada para todos.

Meu Amor, Meu Bem, Meu Querido, de Deb Caletti, autora de Um Lugar Para Ficar (resenha aqui), é um livro lindo, encantador, envolvente, emocionante e cativante! Ri e chorei com os personagens, as situações, os diálogos... a narrativa é impecável, em primeira pessoa, inteligente e divertida, e é impossível não se encantar por Ruby e nutrir um enorme carinho pelas Rainhas Caçarolas.

O livro compreende diversas gerações. Temos Ruby, uma adolescente que ainda está tentando se encontrar, mas que possui uma personalidade forte e opiniões bem formadas, mas que acaba sendo levada por algo que pensa que é amor; temos Ann e Chip, seus pais, que também passam por problemas, adultos que sonham, sentem, choram, são egoístas etc., e não super-heróis que imaginamos quando crianças. Temos as Rainhas Caçarolas, hilárias, prontas para dar conselhos e divertirem-se. Chip Jr. é uma figura, um garoto inteligente e engraçado, e juntamente com sua mãe e irmã, formam uma família unida e amorosa, onde um ajuda o outro. Travis é o bad-boy pelo qual tantas garotas se apaixonam, mas que possui uma personalidade autodestrutiva, seu mundo é completamente diferente do de Ruby. E não posso esquecer de Poe, o terrier da família, ou como Ruby o descreve "um terrier Jack Russell", capaz de fazer estragos homéricos.

As paisagens descritas no livro são de tirar o fôlego, são lindas e é possível sentir a temperatura enquanto está se lendo. Ruby é extremamente bem-humorada e irônica e somando-se essa personalidade à narrativa mais a história que é ricamente emotiva e de uma sensibilidade enorme, temos um livro repleto de energia. 

6 comentários:

  1. Ah sua resenha me deixou bem animada para ler esse livro.
    Li umas resenhas bem negativas por aí...
    Parece que todo Travis é bad boy, aff!

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  2. Travis, é impossível pra mim não lembrar do Travis de Belo Desastre q eu amo!!!! Concordo com a Gladys! Amei a resenha e saber mais detalhes sobre o livro. Fiquei muito curiosa. Achei bem interessante o livro ter várias gerações, parece q no final fez muita diferença, na evolução dos personagens!

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  3. Um amor de verão. *-*
    Mas concordo com a menina, depois de tanto bafafá, sempre que vejo o nome Travis atribuo ao de Belo desastre. XD
    Mas falando da sua resenha, eu simplesmente adorei, parece um livro que dá para ler sem querer largar por um segundo sequer.
    Uma mãe bibliotecária, e ela se mete com um bad boy? Garota com tanto livro para ler, eu preferiria os mocinhos e bad boys de papel. hahahaha
    Seria um reflexo do relacionamento da mãe?
    Achei bem interessante. Quero muitoooo!!!

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  4. Deve ser um livro realmente divertido, a Ruby se juntando com todas aquelas senhoras, rsrsrs.
    Nunca li uma resenha sobre esse livro tão bem explicada assim, dá pra entender o livro, e agora fiquei mais curiosa ainda para ler.

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  5. Não li o livro ainda, mas quero muito!
    Esse Travis pela resenha eu achei ele um bad-boy muito chato, aliás todos bad-boys são kkkk
    Eu fiquei um pouco sem vontade de ler por causa dele mas com vontade de conhecer a história da Ruby ^^

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  6. Tenho o livro Um Lugar Para Ficar, mas ainda não li. Quero muito ler este livro, parece ser muito bom mesmo. Bom saber que é um livro que emociona, adoro livros que causam está sensação em mim ou que me façam rir, quero muito ler o livro.
    Devo dizer que a NC fez um ótimo trabalho neste livro, a capa está linda, eu estou apaixonada nela.

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