Um Gato de rua chamado Bob



Título: Um Gato de rua chamado Bob
Autor: James Bowen
Editora: Novo Conceito
Páginas: 240
ISBN: 9788581631523
"Há uma citação famosa que li em algum lugar. Ela diz que recebemos segundas chances a cada dia de nossas vidas. Elas estão ali para serem agarradas, só que não costumamos agarrá-las". (p. 9)

James já havia recebido um monte de oportunidades, mas por um longo tempo falhou em não se agarrar a nenhuma delas. Isso finalmente mudou na primavera de 2007, quando James fez amizade com Bob, e olhando bem, James acredita que aquela foi uma segunda chance para ambos. 

A primeira vez que James encontrou o gato que mudaria completamente a sua vida foi em março e Londres ainda não havia se livrado inteiramente do inverno, com o frio cortante nas ruas e até mesmo um indício de geada no ar naquela noite, o que fez James voltar para sua moradia subvencionada mais cedo do que o de costume depois de um dia fazendo suas apresentações de rua na região de Covent Garden. Naquela noite trazia consigo seus antigos companheiros: o estojo de guitarra e a mochila, ambos pendurados nos ombros. Mas também estava acompanhado por sua amiga mais próxima, Belle, com quem pretendia assistir a um filme na pequena televisão preto e branco e comer alguma comida pronta e barata. 

Como de costume, o elevador do prédio estava parado e ambos dirigiram-se para as escadas, quando James notou um par de olhos brilhantes nas sombras. Quando chegou mais perto, viu um gato laranja enrolado sobre o capacho de um dos apartamentos do andar térreo e como James cresceu em meio a gatos, sempre teve uma queda por eles. 

"Eu não o havia visto antes perto dos apartamentos, mas, mesmo na escuridão, pude notar que havia algo de especial nele. Eu já era capaz de afirmar que ele tinha certa personalidade. Ele não estava nem um pouco nervoso; na verdade, era exatamente o oposto. Havia nele uma confiança calma e imperturbável. Parecia estar muito bem acomodado ali nas sombras e, a julgar pela forma como me fitava com um olhar firme, curioso e inteligente, era eu quem estava entrando em seu território. Era como se ele estivesse me dizendo: "Então, quem é você e o que o traz aqui?". (p. 10)

James não resistiu e logo afagou o gato, percebendo que ele não usava nenhuma coleira e não possuía nenhuma forma de identificação, além disso, sua pelagem estava em mau estado e, claramente, precisava de uma boa refeição. Parecia ser um vira-lata e percebendo o carinho e preocupação aumentando no amigo, Belle, que sabia sobre sua queda por gatos, logo disse que James não poderia ficar com ele, afinal o gato não poderia ter surgido do nada e devia pertencer a alguém que morasse em algum dos apartamentos e que logo voltaria.

James sabia que não podia sair por aí pegando um gato que poderia pertencer a alguém, ele também não precisava agora de uma responsabilidade extra: como músico fracassado e viciado em drogas em recuperação, vivendo uma existência precária em uma moradia subvencionada, assumir a responsabilidade por sua própria vida já era bastante difícil. 

Na manhã seguinte o laranjinha continuava sentado no mesmo lugar e James caiu de joelhos e o acariciou, coisa que o gato parecia adorar, mesmo ainda não confiando completamente em James mas parecendo simpatizar com ele. À luz do dia, James observou um pouco mais aquele gato laranja e percebeu que se tratava de uma criatura maravilhosa: a expressão era impressionante, os olhos eram verdes e penetrantes, apesar de poder afirmar que o laranjinha estivera envolvido em alguma briga, pois possuía arranhões na face e pernas. Apesar de estar preocupado com o gato, saiu para pegar o ônibus em Tottenham ao centro de Londres e Covent Garden, onde tentaria, mais uma vez, ganhar dinheiro com as suas apresentações de rua. Quando voltou naquela noite o laranjinha não estava lá, o que o deixou decepcionado. 

No dia seguinte o laranjinha estava lá novamente, mas dessa vez mais fragilizado e desgrenhado. Aquela situação já havia durado muito e James resolveu tomar alguma atitude. Primeiro perguntou aos vizinhos se alguém era o dono do gato, mas não obteve nenhuma afirmativa. Buscou pelas ruas algum cartaz com alguém procurando um gato, mas nada. 

"Era óbvio que ele não queria me deixar. À medida que vagávamos, não podia fazer outra coisa além de me perguntar a respeito de sua história: de que lugar ele vinha e que tipo de vida levava antes de vir sentar-se no capacho no térreo". (p. 17)

"Londres sempre teve uma grande população de gatos de rua, os quais vagam por aí vivendo de restos de comida e do conforto de estranhos. Quinhentos ou seiscentos anos atrás, lugares como a Rua Gresham, no bairro financeiro, Clerkenwell Green e Alameda Drury costumavam ser conhecidos como "ruas de gatos" e eram tomados por eles. Aqueles vira-latas eram os destroços e refugos da cidade, andando a esmo e lutando pela sobrevivência a cada dia. Muitos deles eram como aquele laranjinha: criaturas espancadas e quebradas. Talvez ele tivesse visto em mim uma alma semelhante". (p. 19)

James resolveu levá-lo para o Centro da RSPCA (Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals, ou Sociedade Real para a Prevenção de Crueldade com Animais) para cuidar daquele machucado em sua perna, que não iria melhorar apenas com o curativo improvisado e ver se o laranjinha possuía qualquer outros problemas de saúde.

"- Isso vai lhe custar 22 libras, querido, por favor - disse ela. 
Meu coração afundou.
- Vinte e duas libras! É sério? - disse à enfermeira, parecendo simpático, mas ao mesmo tempo, implacável". (p. 25)

James entregou as 30 libras que possuía para pagar os remédios. Aquilo era muito dinheiro para ele, o salário de um dia. Mas sabia que não tinha outra opção, e como o tratamento duraria quinze dias, James e o laranjinha estariam presos um ao outro pelo menos pela próxima quinzena.

James não sabia o por quê, mas sentia-se responsável por aquele gato. Não queria vê-lo na rua antes de completar seu tratamento e tomar seus medicamentos. Naquele momento sentia como se tivesse um propósito extra em sua vida, algo de positivo a fazer por alguém (ou por um animal), além dele mesmo.

"Naquela noite, tive que deixá-lo sozinho e me dirigir para Covent Garden com minha guitarra. Agora, tinha duas bocas para alimentar". (p. 26)

Com o passar dos dias, James conhecia um pouco mais o laranjinha. Foi nesse período que lhe deu um nome: Bob. A idéia veio enquanto assistia a um DVD de uma de suas antigas séries de TV favoritas, Twin Peeks, onde há um personagem chamado Bob Assassino. Bob é esquizofrênico, mais ou menos um Dr. Jekyll e Mr. Hyde: parte do tempo é um cara normal e em outros momentos é uma espécie de louco descontrolado. James achava o laranjinha um pouco assim: quando feliz, não existia gato mais calmo e gentil; mas quando a agitação o dominava, tornava-se um completo maníaco, correndo pelo apartamento. 

Os dois haviam entrado em uma rotina: Bob ficava no apartamento pela manhã enquanto James se dirigia para Covent Garden onde tocava até ter dinheiro suficiente. Quando voltava para casa, lá estava Bob, esperando-o na porta da frente. Seguia James até o sofá e então assistia televisão com o rapaz.

James gostava, e muito, da companhia de Bob, mas sabia que tinha que ter cuidado. Se forjasse uma amizade muito forte, mais cedo ou mais tarde Bob iria querer voltar para as ruas, pois não era o tipo de gato que gostava de ficar fechado permanentemente, não era um gato doméstico. Mas por enquanto James era seu guardião e iria fazer o seu melhor para cumprir esse papel.

E as perguntas sobre o passado de Bob continuavam, assim como os dois pareciam ter muita coisa em comum.

Desde que James passara a viver nas ruas, as pessoas tentavam imaginar sobre seu passado. Perguntavam como ele havia chegado aquela situação. Ele já havia conversado com dezenas de assistentes sociais, psicólogos e até mesmo policiais, mas muitas pessoas comuns também lhe perguntavam sobre isso.

"Não sei por que, mas as pessoas parecem ficar fascinadas em saber como alguns membros da sociedade caem pelas rachaduras. Creio que, em parte, é por causa daquela sensação de que "foi a vontade de Deus", que poderia acontecer com qualquer um. Mas também creio que isso faz com que as pessoas se sintam melhores com suas próprias vidas. Isso as faz pensar: "Bom, acho que minha vida é ruim, mas poderia ser pior - eu poderia ser aquele pobre coitado". (p. 31)

James havia vivido uma infância sem raízes, especialmente porque a passou viajando entre o Reino Unido e a Austrália. Nasceu em Surrey, mas quando tinha três anos sua família se mudou para Melbourne. Sua mãe e seu pai já haviam se separado e seu pai ficara na cidade onde James nascera. Dois anos depois, James e sua mãe mudaram-se para a Austrália Ocidental, ficando por lá durante quatro ou cinco anos, até ele ter uns nove anos. Eles viviam em uma sucessão de grandes bangalôs, com grandes jardins atrás, um espaço enorme para brincar e uma linda paisagem. Mas James não tinha amigos. Era difícil se adaptar na escola, especialmente por se mudar tanto. Mas quando James tinha nove anos eles se mudaram de novo, voltando para o Reino Unido. Não durou muito, pois com doze anos mudou-se novamente, voltando para a Austrália Ocidental.

James acabou sofrendo bullyng nessa época: ainda mantinha o sotaque britânico e tinha uma atitude ansiosa por agradar, era um alvo fácil. Também não se dava bem com o padrasto e como sua mãe trabalhava com vários empreendimentos, às vezes eles tinham muito dinheiro, outras vezes não tinham nada. Foi na metade da adolescência que James resolveu largar a escola, tornara-se um rebelde, desafiava sua mãe e torcia o nariz para qualquer tipo de autoridade, logo desenvolveu um talento especial: o de se envolver em problemas.

Preocupada, sua mãe o levou ao psiquiatra, que o diagnosticou com todas as coisas: de esquizofrenia e psicose maníaco-depressiva (hoje conhecida como transtorno bipolar) a TDAH (transtorno do déficit de atenção com hiperatividade).

"De maneira previsível, entrei nas drogas, no início foi cheirando cola, provavelmente para fugir da realidade. Não me tornei viciado em cola. Só cheirei algumas vezes depois de ver outro garoto cheirando. Mas foi o início do processo". (p. 33)

Em 1998, James era totalmente dependente da heroína e havia chegado perto da morte diversas vezes, mesmo que, de tão alienado, não notasse. Durante esse período da sua vida não pensou em procurar a sua família, desapareceu e não se importava com isso.

"Sabia que aquela era a minha chance de mudar a situação. E eu sabia que tinha que a agarrar dessa vez. Se fosse um gato, estaria em minha sétima vida". (p. 39)

Bob já estava a caminho da recuperação e se tornara uma bola de energia. A quinzena chegara ao fim e James sabia que tinha que colocar Bob para fora do apartamento, no entanto, apesar das tentativas não obteve sucesso, Bob queria ficar. Parte de James ficou satisfeita, mas quando pensava de forma sensata sabia que aquilo não era certo, afinal estava em um programa de dependentes químicos, e estaria por um longo tempo. Ele ainda tinha que lutar para cuidar dele, como poderia cuidar dos dois? Seria justo?

Um dia saindo para o trabalho, James viu Bob sentado no corredor e olhava para trás para ter certeza de que ele não o seguiria. Para chegar até o ponto de ônibus que o levaria até Covent Garden, James atravessava umas das estradas mais movimentadas e mais perigosas do norte de Londres. Para a sua surpresa, enquanto buscava identificar uma brecha para que pudesse correr até o ônibus, sentiu algo se esfregando em sua perna: era Bob, procurando uma oportunidade para atravessar.

Sabendo que não podia deixá-lo correr o risco de atravessar aquela estrada, colocou-o no seu ombro, onde ele adorava ficar sentado. Bob se esgueirou pela multidão e foi embora. Assim que James entrou no ônibus, mais uma surpresa: lá estava Bob.

"Era estranho. Embora soubesse que ele era um gato de rua e poderia fugir a qualquer momento, tinha uma sensação profunda de que ele entrara em minha vida para ficar. De alguma forma, senti que não seria a última vez que faríamos aquela viagem juntos". (p. 55)

Geralmente ninguém falava ou trocava um olhar com James, ele era uma espécie de pedinte e aquela era Londres. Ele simplesmente não existia. James era uma pessoa para ser evitada, até mesmo repudiada, mas quando estava com Bob a coisa era bem diferente. Todas as pessoas pelas quais passavam olhavam para ele, ou melhor, para Bob, aquele gato laranja nos ombros do rapaz de cabelos compridos.

"Ter Bob comigo já havia feito a diferença na forma como eu estava vivendo a vida. Ele me fizera "limpar" meu agir em mais de um sentido. Além de me trazer mais rotina e senso de responsabilidade, ele também me fez dar uma boa olhada em mim mesmo. E não gostei do que vi". (p. 101)

Um Gato de rua chamado Bob, de James Bowen, é um lindo relato sobre a amizade que surge entre James e o gato que ele encontra no prédio em que mora. Bob é um gato cheio de personalidade e os dois passam por situações engraçadas, como dois estranhos que estão se conhecendo. Mas nem tudo é fácil e existe um longo caminho a ser percorrido. James está seguro de que esta é sua segunda chance e ele irá enfrentar qualquer tipo de problema para se tornar um homem melhor, pois quando a responsabilidade de acolher e manter outro ser é colocada por ele, suas prioridades acabam mudando e sua vida direciona-se para novos caminhos.

A narrativa é bem clara e sem muita "enrolação". O autor vai direto ao ponto, o que acaba deixando a leitura "vaga" no quesito ambientação, personagens etc. Mas não deixa de ser uma linda história e mostra o quanto o homem possui uma enorme força dentro de si mesmo, bastando apenas, às vezes, um novo amigo para lhe mostrar essa força.

Agora, uma coisa ficou "martelando" na minha cabeça: as pessoas nunca olharam para James e, se olhavam, faziam-no com nojo. Com Bob, ele deixou de ser invisível, as pessoas os paravam e queriam tirar fotos de Bob, o dinheiro colocado no estojo vazio da guitarra aumentava mais e mais, só porque Bob estava lá. Agora James não era um vagabundo ou um batedor de carteiras, mas um cara com um gato fofo. Mulheres entregavam presentinhos para Bob: brinquedinhos para gatos, ração, petiscos, roupinhas de tricô etc. Para o James? Nada. Não sei o que acontece com algumas pessoas, mas já presenciei uma cena há poucos dias (várias vezes, na verdade) em que um rapaz estava sentado na rua pedindo dinheiro e ao lado dele estava um cão vira-lata: o rapaz era magro e nesse frio estava com roupas de verão, o cão tinha dois cobertores pequenos e uma tigela com ração (doação de pessoas que passam por ali). Quando alguém passa por esse rapaz e pelo cão, o que eu mais escuto é: "pobrezinho desse cãozinho!". O rapaz? Parece que ninguém dá bola. Muitas pessoas costumam dizer que o homem, por ser um ser racional, "escolheu esse caminho", "não se dedicou o bastante e acabou assim", enquanto o animal irracional é vítima do meio em que vive e, por isso, não escolheu viver daquela maneira. Na minha opinião, isso não é certo. Adoro animais, mas a dedicação, o amor e o carinho não devem ser dedicação exclusiva destes. Muitas pessoas acabam sobrecarregando seus animais com afeto por viveram de forma extremamente individualista e egoísta hoje, além disso, quando estão estressadas e nervosas, dão "patadas" nestes mesmos animais que tanto "amam", pois diferentemente dos humanos, eles não podem revidar e acabam virando saco de pancadas. 

9 comentários:

  1. Esse livro parece muito bom! Sempre gostei de historias envolvendo animais, quando soube do que esse se trata eu fiquei com muita vontade de ler. O livro parece ser super interessante e com certeza mostra uma historia de vida linda. Quero ler \o/

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  2. Quem diria que um gatinho ajudaria o rapaz a mudar? A responsabilidade surgiu sobre quatro patas.
    Deve ser lindo acompanhar o entrosamento deles. E ver as mudanças.

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  3. Apesar de amar gatos não leria o livro, não faz muito meu estilo este tipo de livro, e
    concordo com você vejo tantas pessoas que tratam os bichos melhor que o proximo..eu amo bicho, mas e as pessoas..tem uma crianaça na rua, corre que é marginal, tem um pit bull..ai que lindo tadinho ta abandonado..tenho pessoas proximas que ja fizeram isso perto de mim, pra que?! não prestou não rs,
    beijos.

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  4. Queria ler esse livro, ouvi falar muito bem desse livro.
    É triste saber que as pessoas só se importaram com James depois que ele começou a criar o gatinho. Acho que animais e seres humanos devem ser tratados com cuidado, a gente não pode desprezar os animais, mas não devemos fazer isso com humanos.
    Mas acho que é um livro que eu gostaria de ler.
    Beijos!

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  5. É muito boa essa trama, e que história heim? Já imaginou? Deu pra ver que é uma linda história, o tipo de experiencia que merece mesmo ser contada. Também quero ler!

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  6. Eu estou querendo esse livro!!!
    Apesar de não gostar muito de gatos, a história parece ser tão linda q me encantou completamente!!! Só de ler a resenha já dá pra imaginar algumas partes do livro!
    Gostei muito da resenha!

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  7. Eu fico mais encantada a cada resenha que leio desse livro! *-* A história desses dois parece ser linda demais. Quero muito ler esse livro e conhecer a história de amizade de Bob e James.
    Que horror o que você presenciou, Paula! Claro que devemos cuidar dos animais abandonados, eles geralmente ou já nasceram nas ruas ou foram abandonados por seus donos. Mas o ser humano também merece cuidados. Não é porque vive na rua que é vagabundo. Na maioria das vezes, essa foi a única solução para as suas vidas. Devemos cuidar de ambos, sempre!

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  8. Quero tanto ler esse livro *O*
    Eu amei a sinopse e a cada resenha que vejo fico mais ansiosa para ler. Ansiosa para conhecer um pouco mais da historia de James e Bob.
    Beijos

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  9. Ah eu quero muito conhecer essa trama de amor e amizade, :)

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