Título: S.E.G.R.E.D.O.
Autor: L. Marie Adeline
Editora: Globo Livros
Páginas: 224
ISBN: 9788525053633
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"Garçonetes são hábeis em ler linguagem corporal. Bem como esposas furiosas que viveram sob o mesmo teto com um bêbado furioso. Eu fui ambas: mulher de um por quatorze anos e garçonete por quatro. Parte de meu trabalho era saber, às vezes até antes de os clientes sequer terem ideia, o que eles queriam. Eu conseguia fazer o mesmo com o meu ex também, prever exatamente o que ele queria no exato segundo em que ele cruzava a porta. E, no entanto, quando eu tentava utilizar essa habilidade comigo mesma, para antecipar minhas próprias necessidades, não conseguia." (p. 7)
Cassie nunca planejara virar garçonete, mas com a morte de seu ex conseguiu o emprego no Café Rose, em New Orleans, onde morava há seis anos. Nos quatro anos seguintes a morte de seu ex, enquanto oscilava entre a tristeza e a raiva à uma espécie de limbo entorpecente, Cassie servia: servia às pessoas, ao tempo e à vida. Mas ela não odiava o seu emprego.
Will, seu chefe, é um cara ótimo e namora Tracina, uma das garçonetes. O namoro começou depois que Will chamou Cassie para sair e isso não o levou a lugar algum. Cassie, é claro, ficou lisonjeada pelo interesse dele, mas naquele momento precisava mais de um amigo do que namorar o próprio chefe e agora os dois eram bons amigos e, apesar da atração que Cassie sentia por Will, ela conseguia neutralizar toda e qualquer sensação.
Gostava de atender aos excêntricos, aqueles que tinham as melhores histórias, mas davam as piores gorjetas. Seus favoritos eram os casais, observá-los desencadeava em Cassie um anseio profundo e familiar, mas na vida que levava sabia que aqueles anseios não tinham lugar, assim como a ternura não era algo familiar para ela. Seu ex-marido, Scott, conseguia ser gentil e generoso quando sóbrio, mas quando bebia ele não era mais nada. Sua morte fez Cassie chorar por toda a dor que ele causara, mas não sentiu a sua falta. Algo havia se atrofiado nela até morrer e cinco anos se passaram, cinco anos desde que se relacionara pela última vez.
"Eu costumava pensar nesse celibato acidental como se ele fosse um cachorro magro e velho, sem outra opção senão me seguir. Cinco Anos ia comigo a toda parte, a língua pendendo para fora, trotando na ponta das patas. Quando eu experimentava roupas, Cinco Anos ficava ofegante no chão do vestiário, com os olhos reluzindo, ridicularizando minha tentativa de parecer mais bonita em um vestido novo. Cinco Anos estacionou também sob cada mesa de cada encontro morno a que insisti em ir, caído aos meus pés." (p. 8 e 9)
Nenhum encontro que fora se revelou algo que valesse a pena e aos trinta e cinco anos Cassie acreditava que "aquilo" nunca mais aconteceria: ser desejada, intensamente cobiçada, como o casal que observara no Café Rose, algo que parecia ter saído de um filme estrangeiro, em uma língua que ela jamais aprenderia.
Naquele dia seu casal favorito estava no Café e Cassie percebeu que a mulher usava uma pulseira, uma grossa corrente de ouro decorada com pequenos talismãs, também dourados. A pulseira era incomum, de um amarelo pálido e acabamento fosco e os talismãs tinham algarismos romanos gravados sobre eles de um lado e, do outro lado, palavras que Cassie não conseguiu distinguir. O casal foi embora e Cassie viu que a mulher esquecera um caderninho de notas, cor de vinho, com as iniciais PD gravadas a ouro.
Em casa Cassie abre o caderninho pertencente a Pauline Davis e se depara com uma tabela de conteúdo que relata passos, de um a dez. No restante do caderno Pauline havia escrito notas sobre cada passo e Cassie mal podia tirar os olhos daquelas páginas cheias de palavras sensuais.
O caderno não possuía outra identificação além do nome de Pauline, não havia um endereço ou telefone. Mas Pauline apareceu no Café dois dias depois, não com o seu amante de sempre, mas com uma mulher mais velha, com cerca de cinquenta ou sessenta anos. O caderninho foi entregue e Pauline foi embora atordoada, enquanto sua amiga, Matilda, que estranhamente sabia o nome de Cassie, continuou no Café. Nada de complicações. Por isso Cassie ficou surpresa com a visita de Matilda no dia seguinte, dessa vez sozinha, pedindo para Cassie se juntar a ela na mesa.
"Então ela ofereceu um cartão com o nome dela. "Se você tiver alguma dúvida sobre o que leu no caderninho, recomendo-lhe que me telefone. Falo sério. Caso contrário, não vou voltar aqui. Nem Pauline. É assim que você consegue falar comigo. Dia ou noite."
"Ah, ok.", eu disse, segurando o cartão com cuidado, como se fosse radioativo. Matilda Greene, e seu número de telefone. Na parte de trás havia um acrônimo, S.E.G.R.E.D.O., e três frases: Sem julgamentos. Sem limites. Sem vergonha. "Você é terapeuta ou algo assim?"
"Dá para dizer isso. Eu trabalho com mulheres que chegam a uma encruzilhada na vida. Normalmente na meia-idade, mas nem sempre."
"Como uma preparadora para a vida?"
"Mais ou menos. Mais como uma guia."" (p. 35)
Cassie levou uma semana para ligar para Matilda, mas ligou, e não fazia ideia de que tipo de espécie de ajuda ela iria lhe oferecer. Relutante, quase desistindo, chegou ao escritório de Matilda. Mesmo não conhecendo aquela mulher a sua frente, conseguiu contar a sua história. Contou para Matilda como foi crescer em Ann Arbor, como sua mãe morrera quando Cassie ainda era jovem e como seu pai, um empreiteiro de cercas industriais, quase nunca estava por perto e, quando estava, alternava seu humor entre azedo e excessivamente afetuoso, especialmente quando estava bêbado. Contou que crescera arredia e que sua irmã saíra de casa assim que pôde e que hoje mal se falavam. Depois contou sobre Scott, o Scott doce e o Scott desgraçado, aquele que dançara música country com ela lentamente e aquele que lhe batera duas vezes e lhe implorava perdão, perdão que não podia conceder. Contou que sua morte não a libertara, mas fizera com que ela criasse um cativeiro seguro. Cassie não tinha ideia de como precisava falar com outra mulher, de como havia se isolado.
""Cassie, tome um gole e, por favor, tente relaxar. Isto é uma coisa boa. Uma coisa maravilhosa, confie em mim. O Comitê é simplesmente um grupo de mulheres, mulheres amáveis, muitas delas como você, e querem ajudar. Elas recrutam participantes e criam as fantasias. O Comitê faz suas fantasias acontecer."
"Minhas fantasias? E se eu não tiver nenhuma?"
"Ah, você tem. Você só não sabe disso ainda. E não se preocupe. Você nunca vai ter que fazer algo que não queira, e jamais terá que ficar com alguém com quem não queira. O lema do S.E.G.R.E.D.O. é: Sem julgamentos. Sem limites. Sem vergonha."
O copo de água balançou em minha mão. Tomei um gole grande e engasguei.
"S.E.G.R.E.D.O.?"
"Sim, é como se chama o nosso grupo. Cada letra representa algo. Mas toda a nossa razão de ser é a libertação por meio da completa submissão a suas fantasias sexuais."" (p. 46)
Existem nove fantasias, o Décimo Passo é uma decisão que Cassie deve tomar. Ela pode permanecer no S.E.G.R.E.D.O. por um ano, recrutando outras mulheres como ela, treinando participantes de fantasias, ou ajudando outros membros a viabilizar fantasias. Ou pode decidir usar seu conhecimento sexual em seu próprio mundo, talvez até mesmo em um relacionamento amoroso.
O Comitê é formado por diversas mulheres, todas diferentes umas das outras, mas com um objetivo em comum: ajudarem umas as outras. Cassie as observava e queria se tornar como elas, sentir-se viva e viver em seu corpo novamente.
Não queria mais ouvir aquela voz crítica que surgia na ausência de Scott, observando as suas falhas e destacando os seus erros. Queria parar de chorar pela perda de quinze anos de sua vida casada com um homem que nunca a merecera. Precisava voltar a viver, juntar-se ao mundo novamente, sair do ritmo estável e confiável que sua vida tomara.
"Olhei no espelho novamente: toda aquela carne, tudo disponível e macio, mas de alguma forma trancado. Entrei na banheira e me sentei, então deslizei inteira sob a água, submergindo a cabeça sob a espuma por alguns segundos. Eu podia ouvir meu coração debaixo d'água, batendo um eco triste. Isto, pensei, é o som da solidão." (p. 26)
Agora, dentro do S.E.G.R.E.D.O., Cassie ganhava uma pulseira de ouro pálido, mas sem nenhum talismã. A cada Passo que completasse ela receberia um, para celebrar sua conclusão.
"Olhei para a lista uma última vez. Minha cabeça estava repleta de encanto e preocupação, alegria e medo que essas fantasias iriam liberar. Imagine ter tudo o que você sempre quis e muito mais. Imagine ser o que os outros querem e desejam - cada centímetro de você, exatamente como você é. Aquilo estava acontecendo. Estava acontecendo comigo. Pensei que minha vida havia acabado, mas estava prestes a mudar para sempre." (p. 61)
S.E.G.R.E.D.O., de L. Marie Adeline, pseudônimo de uma autora canadense, é o primeiro livro de uma Trilogia. Parece que ainda não existe nenhuma confirmação sobre o segundo livro, mas espero que a autora continue escrevendo, pois adorei S.E.G.R.E.D.O.! Um livro erótico com uma história super bem elaborada e com personagens "reais", nada de ricaços, amor à primeira vista etc., geralmente presente nos livros eróticos.
Gostei da narrativa, que envolve o leitor e do enredo, que realmente existe e não é só um "apêndice" para jogar para o leitor páginas e páginas com erotismo exacerbado, o que acaba cansando e não prende o leitor.
Cassie é um personagem que cativa, pelo qual torcemos e acompanhamos, aos poucos, como ela consegue retomar as rédeas de sua própria vida. Sua transformação é maravilhosa: um grito de liberdade, cheio de força feminina.
A julgar pela sua resenha acho que o livro é bem legal. Parece não ser apenas mais um livro erótico ''idiota''. fiquei curiosa com o enredo.
ResponderExcluirOiiii,
ResponderExcluirJá tinha ouvido falar desse livro, mas nunca pesquisei direito sobre ele, porque, quando eu vi que se tratava de um livro erótico, e eu já pensei logo: amor a primeira vista, o cara riquinho, submissão... Pelo o que você disse na resenha, esse livro não é assim, é diferente, então, acho que vou ler ele.
Adorei a resenha.
Beijos, Andressa.
Esse tipo de livro não faz meu estilo, de jeito nenhum :/
ResponderExcluirNunca leria, não gosto dessa temática então passo.
Vc mudou um pouco as suas resenhas. São mais detalhadas, mas de um jeito que acaba contando muito =/
ResponderExcluirAh, a ideia do livro não e agradou, não me interesse esse tip de leitura. Beijos
Esse livro parece legal, tinha visto a capa dele mas é a primeira vez que leio uma resenha.
ResponderExcluirRealmente, personagens ricaços e esses clichês cansam. Que bom que esse livro é diferente
Esse foi um dos poucos que me chamou atenção mesmo sem resenha, e agora que sei que há uma 'história' por trás fiquei mais interessada a capa é bem legal, fico imaginando a pulseira. E foi uma ideia bem legal da autora.
ResponderExcluirOlhando a capa nem imaginava sobre o conteúdo do livro. Gostei do fato do livro ser erótico sem todo aquele clichês comuns nestes livros. Gostei dos quotes que li.
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