Pandemônio


Título: Pandemônio

Autor: Lauren Oliver
Editora: Intrínseca
Páginas: 304
ISBN: 9788580573138

Pandemônio é o segundo volume da Trilogia Delírio (leia a resenha do primeiro volume aqui), por isso esse post possui spoilers!

Lena consegue chegar até a Selva, mas ainda tenta entender o que aconteceu depois que pulou a cerca, a cerca que divide dois mundos tão distintos, e existe algo, ou melhor, alguém, que não sai da sua cabeça: Alex. 

Ela conseguira chegar à cerca da fronteira, mas os reguladores e guardas apareceram e eram muitos... Alex, seu melhor amigo, seu namorado, seu amor, ele simplesmente não conseguira, fora morto bem na frente de Lena.

A exaustão tomara conta de Lena, ela havia saído de Rochester, New Hampshire e cruzado a fronteira norte quando se perdera na Selva. Acabou sendo encontrada quase morta por uma garota um pouco mais velha que ela e levada para um local desconhecido. A garota, Graúna, explica-lhe que Lena se encontra em uma zona livre, algo que ela nunca ouviu: ninguém nunca chamou o território não regulamentado dessa forma. 

"Em uma parede há uma pequena cruz de madeira com a figura de um homem suspenso no meio dela. Reconheço o símbolo: é uma cruz das antigas religiões, da época anterior à cura, apesar de eu agora não conseguir lembrar qual era." (p. 13)

Ela escuta passos, ecos de risadas e conversa. Consegue identificar tons graves, de homens e garotos e risadas agudas. É claro que na Selva garotas e rapazes moram juntos, a liberdade de escolha, a liberdade para estar perto das outras pessoas, a liberdade para olhar e tocar e amar uns aos outros é óbvia, faz sentido nesse lugar, não é tratada como uma doença. Mas por mais que tenha experimentado um mundo diferente com Alex, Lena só vivenciou uma parcela dessa liberdade, uma parcela bem pequena. Antes de Alex viveu quase dezoito anos acreditando no sistema, acreditando que o amor era uma doença, que garotas e garotos deviam ficar separados para impedir o contágio. E apesar de ter mudado com o contato com Alex, Lena não se livrara do medo completamente. O pânico começava a dominá-la levemente. 

"Sinto uma pontada de culpa. Obviamente me deram a melhor cama, o melhor quarto. Ainda fico abismada ao pensar no quanto me enganei todos aqueles anos em que acreditei em boatos e mentiras. Eu achava que os Inválidos fossem animais; achava que me estraçalhariam. Mas essas pessoas me salvaram, me deram o lugar mais macio para dormir e cuidaram de mim até eu me recuperar, sem pedir nada em troca. Os animais estão do outro lado da cerca: monstros de uniformes. Falam com suavidade e contam mentiras e sorriem enquanto cortam sua garganta." (p. 23 e 24)

Várias pessoas vivem no lar e de diversas idades, todos possuem apelidos como: Lupi, Azul, Prego etc., ninguém mantêm seu nome antigo, seu nome do outro lado. O antes não existe mais, apenas o agora e o depois. Alistar é o único que mantem o nome "de antes", é também Alistar com quem Lane se sente mais próxima, apesar de ter sido difícil se sentir à vontade perto dele. Todas as lições que aprendeu, os alertas imprimidos nela justamente pelas pessoas que confiava e admirava, eram difíceis de esquecer. Mas Alistar era seu amigo, alguém que a fazia rir, coisa que Lena jamais pensou que aconteceria novamente. Lena descobriu que ele era um Antinatural (homossexual), termo usado dentro das cidades cercadas e algo que deveria ser repudiado.

Já Graúna era uma incógnita, não falava sobre seu passado de forma alguma e parecia ser a "chefona" daquele lugar. Ela é forte, confiante, uma verdadeira líder. Muitas das garotas mais novas a admiram e até tentavam se parecer com ela. 

Graúna dá um ultimato: Lena deve trabalhar, assim como todos, se quiser ficar.

O assentamento fica no subterrâneo do que antes era uma igreja, um dos muitos lugares que as bombas não atingiram. 

"Mal consigo respirar enquanto Sarah e eu andamos lentamente pela grama, que está úmida e em certos trechos bate quase na altura do joelho. É um mundo de ruínas, um lugar desprovido de sentido. Portas que se abrem para o nada; um caminhão enferrujado, sem rodas, largado no centro de uma área de grama desbotada, com uma árvore despontando bem do meio do veículo; pedaços retorcidos de metal reluzente por todo lado, derretidos e formando desenhos irreconhecíveis." (p. 37)

A clareira onde Lena está possui arcos de pedra quase caindo e pedaços de parede que mal se sustentam em pé, também existe uma série de escadas de concreto que sobem em espiral não levando a lugar algum. Lá era uma cidade e Sarah explica que o pior não foram as bombas, mas os incêndios que se sucederam.

Lena pode reconhecer uma escola: os armários ainda estão lá, abertos, alguns com roupas dentro. Existem também resquícios de um restaurante, de uma delicatéssen, uma mercearia e um banco. 

"Na escola, sempre aprendemos que a blitz - o saneamento - foi rápida. Vimos filmagens de pilotos acenando dos aviões enquanto as bombas caíam em um distante tapete verde, árvores tão pequenas que pareciam brinquedos, nuvens estreitas de fumaça subindo da vegetação como plumas. Sem sujeira, sem dor, sem sons de gritos. Só uma população - as pessoas que resistiram e ficaram, as que se recusaram a se mudar para as cidades reconhecidas e cercadas, aquelas que não acreditavam e as contaminadas - apagada de uma vez só, com a rapidez de um toque no teclado, transformadas em sonho." (p. 38)

Mas observando aquele cenário, Lena sabia que não fora assim: os armários ainda abertos, cheios. As crianças nem devem ter tido tempo para chegar às saídas. 

Na Selva as condições são precárias, às vezes as condições de caça não são boas e suprimentos não chegam do outro lado através de aliados pela própria segurança de ambos os lados. Sempre tem alguém doente na Selva também: o espaço é pequeno e todos vivem muito próximos, praticamente em cima uns dos outros, respirando e espirrando uns nos outros e usando os mesmos utensílios. 

"Eu obedeço. Parecia impossível que o corpo fosse assim tão pesado. Na morte, ela se tornou um peso de ferro. Estou furiosa com Graúna, tão furiosa que me dá vontade de cuspir. É a isso que somos reduzidos aqui. É isso que nos tornamos na Selva: passamos fome, morremos, enrolamos nossos amigos em lençóis velhos e surrados e os queimamos a céu aberto. Sei que não é culpa de Graúna - mas das pessoas do outro lado da cerca: eles, os zumbis, aqueles que costumavam ser minha gente -, mas a raiva se recusa a diminuir e queima um buraco em minha garganta." (p. 103)

Como os capítulos do livro são intercalados entre "antes" e "agora", no "agora" Lena está em uma missão, um trabalho que lhe foi dado por Graúna: ficar de olho na ASD (América Sem Deliria), acompanhar, infiltrar-se. Mas só isso, Lena não sabe de mais nada, não faz ideia de qual é o objetivo da missão. 

Pandemônio, de Lauren Oliver, é um livro com uma história muito mais madura e envolvente que o primeiro volume da Trilogia, que já é um ótimo livro. Estou adorando essa Trilogia e mal posso esperar pelo último volume, especialmente pelo final surpreendente que Pandemônio traz (apesar de ser algo esperado desde o começo, pelo menos eu esperava, rs). 

A narrativa acompanha o ritmo da história, que é mais forte e crua neste segundo volume. O leitor conhece a Selva, como vivem os seus habitantes e como lidam com o pouco que possuem. O leitor também adentra mais no mundo cheio de cercas, na Zumbilândia, como as pessoas da Selva chamam, a alienação, a visão deturpada, os segredos (muito bem enterrados) etc.

A trama é cheia de ação, intrigas, mistérios e descobertas e a protagonista, Lena, é um personagem muito bem elaborado, com determinado conhecimento e vivência e que deve reaprender a caminhar e a olhar o mundo com outros olhos e ser muito corajosa.

7 comentários:

  1. Oi Paula,
    Eu tinha vontade de ler Delírio, mas acabei esquecendo com tanto lançamento para me animar, agora com a resenha de Pandemônio a vontade voltou, vou tentar adquirir os dois logo antes que esqueça.
    Será que demora a sair o terceiro? Pq você disse que o final desse é surpreendente e eu sou super ansiosa. Expectativas mil, já que se o 1 é ótimo e o segundo ainda melhor, o terceiro tem que ser quase perfeito. =)

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  2. Eu não li a resenha pra não correr risco de pegar algum spoiler do primeiro pq nem li ainda, mas pretendo fazer isso logo, apesar de quê acho esse distopia muito genérica.

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  3. Oi, já ouvir falar dessa trilogia, já li resenhas sobre Delírio, mas, como tinha outros livros de maior interesse, acabei me esquecendo totalmente desse livro. Enfim, a trilogia parece ser muito boa, e quando tiver tempo eu irei comprar :)

    Adorei a resenha *-*

    Beijos, Andressa

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  4. Conheço a trilogia só pelas capas, primeiro vez que leio sobre a historia. Parece bem legal, fiquei curiosa pra saber como é esse lugar que eles chamam de Zumbilândia, parece interessante.

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  5. Tenho os dois volumes da Trilogia Delírio, mas não li ainda. O livro parece ser uma distopia interessante e parece trazer uma critica a sociedade com a Zumbilândia e sua alienação e visão deturpada

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  6. Eu tenho muita vontade ler Delírio, apesar de achar o enredo bem parecido com outras distopias que eu já li. Só li o finalzinho da resenha, pra não ler spoiler. As capas dessa trilogia é uma das mais lindas na opinião <3

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  7. Quero muito ler Delírio, parece interessantíssimo. Assim, não li tanto desta resenha pra não ficar sabendo o que acontecerá. Mas é bom saber que a história amadurece bastante.

    Luciana

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