O Advogado da Vida (resenha + entrevista)

Título: O Advogado da Vida

Autor: Jean Postai

Editora: Novo Século/Novos Talentos da Literatura Brasileira

Páginas: 416

ISBN: 8576797496

Comprar: Comparar preços

Um casal entra na bela clínica do Dr. Arthur Galanidel, uma clínica muito bem conceituada, onde atrizes, cantoras, mulheres ricas etc., já haviam realizado o parto de seus filhos. No entanto, o casal estava na clínica por outros motivos: Alana estava grávida de 5 meses e levava consigo diversos exames que havia realizado com outros médicos com o diagnóstico de uma doença que faria com que a criança não sobrevivesse muito tempo, no máximo algumas semanas. 

O médico diz que um procedimento com sessões com um psicólogo poderão ajudar a tranquilizar Alana, mas a alerta que a estimativa de vida do bebê é de pouco tempo. Patrick, acompanhando Alana e antes nervoso, sabia onde queria chegar.

"Exato, doutor. É nisso que penso, no sofrimento do bebê, e também no nosso, confesso - disse, olhando para Alana. E continuou: - O que quero dizer é que se esse bebê irá falecer dentro de alguns meses e irá sofrer enquanto estiver vivo... será que realmente precisamos ter essa criança?" (p. 17)

Dr. Arthur disse que aquele era um assunto muito delicado e sério e que deveria ser muito bem pensado, mas o casal estava decidido e quando mencionaram o contato que os indicou o médico se abriu, contando como era realizado todo o procedimento em sua clínica, com os profissionais mais capacitados e materiais de primeira linha. Também respondeu outras perguntas do casal, afirmando realizar o procedimento em fetos saudáveis ou quando não existia risco para a mãe. 

"- Tem um valor que informarei a vocês, mas é relativamente baixo, em vista da pessoa que os indicou. O maior valor é a felicidade de vocês, em suas vidas. Fiquem absolutamente tranquilos quanto a isso, pois faço esse procedimento por ideologia, por acreditar que essa é uma escolha do casal, que os tornará mais felizes, e não deve ser uma imposição do Estado". (p. 22)

Uma consulta foi marcada para a próxima semana, consulta que nunca ocorreu. Pois o conceituado jornalista Patrick e sua companheira de trabalho, a repórter investigativa, Alana, já tinham o que queriam: uma gravação com áudio e imagem do Dr. Arthur confessando realizar abortos. 

O jornal para o qual Patrick e Alana trabalhavam já circulava nas ruas e o vídeo tomava forma na internet. Nesse momento Patrick recebe uma ligação de uma mulher que quer que o jornalista entreviste sua filha: uma garota que realizou um aborto na clínica do Dr. Arthur ainda menor de idade, sendo induzida pelo médico a realizar o procedimento, sem o consentimento da mãe. A mulher queria o médico na cadeia e Patrick sabia que aquela entrevista seria o furo que precisava para continuar alimentando a sua matéria.

A entrevista foi chocante e Patrick sabia: Dr. Arthur não teria mais escapatória. 

Os policiais logo chegaram a casa do médico com uma ordem judicial, onde sua prisão preventiva havia sido decretada. Dr. Arthur entrou na caminhonete da polícia rumo ao Presídio Regional de Segurança. Incrédulo, mas logo se recompondo, o médico logo começou a pensar em alguma alternativa que pudesse salvar sua reputação, sua carreira e até mesmo sua vida. O médico pensou em uma única pessoa naquele momento que poderia ajudá-lo, não somente mudando o resultado da sua prisão, mas também mostrando que as acusações que estava sofrendo não continham toda a verdade e que eram injustas. Bastava um único telefonema...

David recebeu uma ligação inusitada aquela noite em que festejava o aniversário de sua noiva. O senhor do outro lado da linha era seu tio, irmão de seu falecido pai, e pedia ajuda. David estava confuso: não tinha contato com o tio há anos, na verdade mal o conhecia e não fazia idéia de como o médico descobriu que David era advogado. No entanto, resolveu visitar o homem que não via desde criança no presídio, afinal Arthur podia ser bem insistente e persuasivo. Mas por que um homem rico e influente como Arthur iria querer como advogado David, um homem de 25 anos, no início de carreira, que pegava apenas pequenos casos? 

"- Pense em uma coisa importante: você tem o caso de sua vida nas mãos, rapaz! Pode se tornar famoso e reconhecido por defender o médico que realizava aborto em mulheres famosas e ricas! Olhe o que a imprensa está fazendo comigo! Você vai aparecer em todos os jornais. Pense nisso!". (p. 70)

O pagamento também seria ótimo e apesar de David não ter uma vasta experiência na área, provaria que seu cliente era inocente. David apenas não previra diversas coisas: em sua profissão nunca havia esbarrado com grandes surpresas antes, agora encontraria-se em um caso que moveria não só a imprensa, mas a igreja e a sociedade; David também acreditava poder encerrar o caso na primeira audiência, só não contaria que seu cliente iria colocar sua própria defesa por água abaixo, tendo que levar o caso para o Tribunal do Júri. 

David estava quase certo de que seu cliente era um maluco idealista e não compreendia o que Arthur desejava contratando-o. O advogado, dentro do caso, irá confrontar a promotora Morgana, uma mulher experiente e com muita vontade de ganhar o caso, com mais de 20 anos de carreira e contatos que a ajudavam realizando alguns "serviços", porém nada de ilegal a ponto de torná-la criminosa, mas o suficiente para discutir a ética da promotora no exercício de sua profissão. Enquanto isso, David contava com uma pequena equipe: Teo, um estagiário motoqueiro e Elaine, uma secretária da terceira idade que um dia já fora candidata a Miss Universo em 1972 (sendo eliminada na primeira seletiva). 

David começa uma nova e perigosa empreitada, sofrendo com perseguições da imprensa, roubo de documentos, muitos machucados e dramas familiares, enquanto nem mesmo o advogado possui uma opinião formada com relação ao aborto.  

"- Ei, David, você pode querer se apressar, mas lhe dou um último conselho: tome muito cuidado! Esse caso está mexendo com os brios de muita gente. Você está lidando com aquilo que, vocês, advogados, consideram como direito fundamental... A vida, lembra?" (p. 134)

O Advogado da Vida é um thriller jurídico instigante e reflexivo, com uma história extremamente bem elaborada e com doses bem equilibradas de tensão, excitação e perigo. Fiquei presa nas páginas do livro, adorando cada diálogo e as ações dos personagens, curiosa para descobrir o final dessa emocionante obra. 

Jean Postai conseguiu escrever de maneira que o leitor entendesse o que estava acontecendo no decorrer da história, não se utilizando de uma linguagem técnica ou difícil, já que o livro se trata de um thriller jurídico. O livro também não é tendencioso, não aponta o que é certo ou o que é errado, é neutro, no sentido de levar o leitor a tomar suas próprias conclusões acerca do tema. 

Independentemente da opinião/postura do leitor, é uma leitura que recomendo, pois aborda diversos aspectos do tema e possui uma história extremamente enriquecedora. 

*

O autor concedeu uma entrevista ao blog para que vocês conheçam um pouco mais sobre a obra, sobre o processo de escrita e sobre o próprio autor.

Electric Beans: Qual o livro mais marcante que leu até hoje? Por que?

Jean Postai: Que pergunta difícil! Rsrsr São tantos os livros bons que já li, mas o que me lembro agora é A Revolução dos Bichos, de George Orwell: polêmico, questionador e muito bem escrito.

EB: Enquanto escrevia O Advogado da Vida, compartilhou suas ideias para a história com alguém ou pediu conselhos?

JP: Li bastante sobre o tema, mas só fui compartilhar as ideias depois de ter o projeto pronto. Enviei para alguns parentes e amigos e fui lapidando o livro. Antes, era só eu e o computador mesmo.

EB: Seu livro aborda um tema bastante polêmico, que gera diversas discussões. Por que decidiu escrever sobre ele? 

JP: Porque para quem não trabalha com Direito, o Direito muitas vezes é visto como algo chato. E eu queria provar que pode ser empolgante e fantástico. Então, por que não começar minha carreira nesta área com o mais fundamental dos direitos, o direito à vida?

EB: Pretende continuar escrevendo? Se sim, irá seguir com o mesmo gênero (thriller jurídico)?

JP: Com certeza. O segundo já começou e será thriller jurídico também. Aliás, sempre que algum leitor ler "thriller jurídico", quero que se lembre dos meus livros. É um objetivo que tenho.

EB: Durante o processo de escrita de O Advogado da Vida havia um local ou horário especiais que o ajudavam neste momento?

JP: Sim, durante à noite, em casa, após trabalhar como advogado durante o dia. Gostava de escrever no sofá, com o notebook no colo e, às vezes, alguma bebida do lado.

EB: Na sua opinião, qual a importância da leitura na vida de uma pessoa? 

JP: Essencial. Faz pensar, refletir, ousar e abre a mente. Ler é essencial.

EB: Quais autores/livros despertaram sua atenção nos últimos anos?

JP: Sempre gostei muito do Júlio Verne, da Agatha Christie. Achei interessante  "O Código da Vinci" também, do Dan Brown, não pela escrita, mas pela forma como abordou o suspense.

EB: Como define o advogado e escritor Jean Postai? 

JP: Trabalhador, sempre em busca de evolução. Acho que posso e vou melhorar muito em ambas as profissões. Me considero criativo também.

EB: Alguma dica para quem pretende iniciar no mundo da literatura?

JP: Persista. Trabalhe. Erre. Você deve conhecer um monte de gente que tem uma ideia para um livro. O mundo é de quem faz! Ter a ideia é fácil, difícil é colocar em prática. Você vai encontrar um monte de gente que faria melhor que você, que teria uma ideia mais interessante que a do seu livro. Enquanto estiverem no "faria", no "teria", você deve estar no "faz" e no "tem". É muito mais gratificante, mas é mais trabalhoso também.