Patas na Europa

Título: Patas na Europa

Autor: Antonio F. Costella

Editora: Ediouro

Páginas: 366

ISBN: 9788500022593

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Antonio F. Costella tem 31 livros publicados, com gêneros que variam entre ficção, literatura infanto-juvenil e técnico-acadêmica. Foi professor universitário durante 3 décadas na USP e um dos docentes pioneiros da Escola de Comunicações e Artes (ECA). O autor também é artista plástico e tornou-se renomado especialista em gravura. No ano de 1987, fundou a Casa de Xilogravura, em Campos de Jordão, museu que reúne mais de trezentos artistas em seu acervo de milhares de obras. 

No começo dos anos 1990, o professor recebeu um convite para dar um curso de um mês na Faculdade de Jornalismo do Porto, em Portugal. Aproveitou a oportunidade para programar uma viagem de férias de mais uns dois meses pela Europa. Mas havia um problema: seu cão de estimação, o vira-lata Chiquinho, não sobreviveria a três meses longe dos donos, segundo o diagnóstico do veterinário. 

Quando Chiquinho nasceu, o menor da ninhada, logo saltou a tábua onde estava sua mãe e os outros filhotes. Antonio, ouvindo o choro do filhote e não tendo idéia da dinâmica canina, recolheu o filhote e colocou-o ao seu lado, no sofá. Quando foi devolver o filhote à mãe, ela não mais tomou conhecimento dele, enquanto lambia, brincava e mimava os outros filhotes. Tendo de voltar para São Paulo, pois encontrava-se em Campos de Jordão, levou Chiquinho consigo (que levou esse nome por ter nascido no dia 4 de outubro, dia em que se comemora São Francisco de Assis). 

Chiquinho, com um mês e pouco já acompanhava o professor e sua mulher na época, em suas idas e vindas semanais de São Paulo para Campos de Jordão. 

Altivo, embora obediente, não era chegado a afagos, mas era extremamente dependente de seus donos (no decorrer do livro Chiquinho os chama de "padrinho" e "madrinha"), o que tornaria impossível a viagem de três meses. 

Antonio tomou uma decisão: Chiquinho iria junto. Quando regressou ao Brasil, Costella decidiu publicar um livro de viagem e teve a feliz idéia de convidar o cachorro para ser o narrador, muito inteligente, aliás, pois sempre morou na biblioteca da casa do dono. 

Costella e Chiquinho

Costella escreveu quatro livros: Patas na Europa, A Viagem Continua, Ossos de pizza e A odisséia final. Em homenagem à memória de Chiquinho, escreveu um quinto livro: Vida de cachorro, biografia (não) autorizada. Os cinco volumes estão reunidos neste livro que apresento, Patas na Europa. 

Nunca li um guia de viagens, por isso não posso compará-lo, mas Patas na Europa é divertido no sentido de ser narrado por Chiquinho. 

"Não se espante o leitor com minha erudição. Já mencionei que sempre dormi na biblioteca. Criei, por isso, familiaridade com os livros e a cultura dos humanos". (p. 32)

Gostei das descrições dos lugares, que não são exageradas mas fazem o leitor imaginar direitinho o lugar, além das fotos que acompanham o livro para dar ênfase às descrições. Chiquinho passa por Portugal, Espanha, França, Itália e Grécia, sempre na companhia de Teobaldo, um cavaleiro templário, com quem inicia uma grande amizade (e com quem discute bastante também sobre a natureza humana). Como Chiquinho não podia entrar em diversos locais (injustiças humanas!) e era deixado no carro sempre a sombra de uma árvore, fantasmas apareciam para ele, para que pudesse andar pelos locais e conhecer a história deles. Teobaldo está sempre presente, maravilhado com as modernidades. Personagens históricos aparecem, como D. Pedro I, Abul Fida (historiador, geógrafo e sultão local árabe), Pelaio (nobre e cavaleiro medieval), Júlio César, Nostradamus, Van Gogh, José Garibaldi, Napoleão Bonaparte, Louis Pasteur, Leonardo da Vinci, Dante Alighieri, Marco Polo, Michelangelo, Lord Byron, Pitágoras (ufa!), entre outros. 

Muitos personagens interagem entre si e cada um conta a sua história o que nos traz muitos aspectos diferentes da história que conhecemos. Infelizmente, nenhuma personagem histórica feminina aparece e, confesso, arrastei um pouco a leitura por considerá-la muitas vezes didática demais, com datas etc. 

Muitos diálogos são travados entre Chiquinho e os personagens históricos, o que faz com que o cão reflita bastante sobre a natureza humana (é claro que Chiquinho também sempre está falando sobre a condição canina e a de outros animais, muito maltratados pelos homens). As observações de Chiquinho acerca da condição humana e sua opinião sobre os bípedes nem sempre são lisonjeiras, mas podem ser divertidas se o leitor sair do "pedestal" de senhor do mundo. 

Para quem gosta de História e deseja ler um livro com uma dinâmica diferente, Patas na Europa é uma ótima pedida. Para quem não se interessa tanto assim ou não estiver no clima de uma leitura muito densa, pode ser cansativo. 

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