O Anjo Poeta

Título: O Anjo Poeta - Contos e Prosas Poéticas 

Autor: Eddy Khaos

Editora: Literata

Páginas: 114

ISBN: 9788563586605

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"O animal humano, desde a infância de sua espécie, busca explicar fenômenos que escapam à mensura de seu entendimento com narrativas onde seres fantásticos (e quase sempre) superiores a si desfilam realizando atos que vão do mais heroico altruísmo à mais tenebrosa vilania. Nessa miríade de lendas, estabeleceram-se os entes conhecidos por Anjos, Djins e uma série de nomes que não caberiam neste espaço se devidamente citados. Protetores, observadores imparciais, agentes de transformação ou simplesmente soldados de um poder celestial, essas criaturas povoam a imaginação da humanidade há eras". 

Li O Anjo Poeta, de Eddy Khaos, através do Book Tour organizado pelo blog O Diário do Leitor. Já havia lido histórias com anjos mas os personagens criados pelo autor me chamaram a atenção devido a sua personalidade: guerreiros, assassinos, manipuladores, carrascos, apaixonados, sábios, invejosos etc. São esses personagens que, unidos a uma narrativa admirável, transformam a leitura de O Anjo Poeta cativante e sensível. 

O livro compreende três contos e quinze poesias, além de curiosidades sobre os anjos (um pouco de história, hierarquia angelical, anjos caídos, nefilins etc.), parte que considerei muito interessante. As curiosidades são explicadas de forma coesa e em poucas páginas o autor consegue explicitar muitas coisas.

O primeiro conto, dividido em duas partes, Selva de Concreto, Prisão Humana e O Apocalipse Angelical foi o que mais me agradou. Um homem que viu seu sonho desaparecer, impotente, enfrentava da maneira que podia todos os obstáculos que surgiam e perguntava-se o motivo de Deus castigá-lo daquela forma. Morava nas ruas de São Paulo, a barba já grisalha e mantinha consigo uma garrafa com o líquido que aquecia sua velha carcaça. Rafael era seu nome e despertara com alguém chamando-o, um ser angelical de ar andrógino que viera buscá-lo de sua prisão terrena. A sentença de Rafael havia sido revogada e seu erro perdoado pelo Grande Pai. Quem falava com Rafael era o Arcanjo Gabriel e seu irmão celestial estava pronto, agora lembrando-se de tudo, para abandonar sua prisão humana. 

Rafael passara centenas de anos morrendo e reencarnando nessa prisão, sem lembrança alguma, mas agora o círculo interminável acabava. 

"- Meu irmão, isto não é apenas o revogar de um mero castigo. O exército angelical precisa de seu melhor general para a batalha que está por se iniciar, pois a humanidade, munida com ignorância e armas de destruição em massa, não estão só aniquilando os de sua espécie. O plano celestial também sofre as consequências. Muitos seres angelicais já pereceram; e os seres infernais só estão se fortalecendo com a situação.

- O Grande Pai já ordenou a extinção da humanidade. Alguns poucos seres de coração puro caíram em sono profundo, para só despertarem após a penumbra do Apocalipse Final". (p. 18)

O Dia da Grande Batalha havia sido comandado pelos terríveis Arcanjos Rafael, Miguel, Gabriel e Uriel. Todos haviam fugido, mas um homem vagava pela cidade morta, entre destroços e corpos em decomposição, em um silêncio aterrador. David, piloto das Forças Unidas Humanas lutou na batalha contra os seres alados e sobreviveu. Aos poucos suas memórias voltavam, memórias perdidas que iriam lhe revelar o porquê de ter sobrevivido: ele não era um homem comum, filho de uma humana e de um Anjo da Morte que sofreram nas mãos de anjos devido ao amor que nutriam, David era um Nefilin.

Os malditos seres alados haviam destruído tudo e todos que David conhecia e amava, o híbrido caminhava há anos, deparando-se apenas com a devastação do Apocalipse Angelical. 

"(...) David se perguntava qual era a diferença entre ambos, se é que havia alguma diferença entre céu e inferno, entre Anjos ou Demônios". (p. 35)

Enquanto caminhava na busca por sobreviventes encontrou um velho Nefilin cego, com a vida já se esvaindo. O tempo do velho havia se esgotado, mas conseguiu avisar David sobre a "Morada dos Homens", local onde existia vida e lutava-se para que a raça humana não perecesse diante da opressão dos Anjos de Deus. 

A próxima batalha irá definir o destino dos homens e irá mostrar a verdadeira face dos Anjos: cruéis ou defensores dos seres humanos? 

Detetive das Sombras é um conto um pouco mais curto, porém de uma sensibilidade enorme e tocante. Um homem preso há trinte e um anos a uma existência mortal, vinte deles como Detetive das Sombras. Essa era a sua punição, reencarnar na terra dos homens como um deles, mas apesar de estar preso em um corpo humano, junto aos homens de barro, como os anjos ironicamente chamam os seres humanos, ele mantinha suas lembranças e seus poderes. Ele caçava vampiros, monstros que poucos sabiam existir. Mas sua vida rotineira era invadida por pensamentos e lembranças de sua amada Laís, que não via há anos e não sabia onde se encontrava. Não tinha esperanças de reencontrá-la, nem de ser perdoado ou viver um final feliz. 

Em O Anjo Poeta encontramos Azariel, um anjo da guarda que desejava conhecer a morada dos filhos de Deus. Queria andar em meio aos seres humanos, assim como muitos de sua casta, mas Azariel ainda estava sob treinamento. Jovem e impaciente, foi levado pelo impulso e contrariou todas as ordens de seus superiores. Expulso do Reino Celestial, tornou-se um Anjo Caído, mas isso não o entristeceu. Podia viver como um ser humano normal, trabalhar e estudar os costumes daqueles que estavam ao seu redor. Mantinha o amor pela escrita e escrevia belas poesias. Logo tornou-se um poeta famoso e apaixonou-se, mas nem tudo em sua vida deu certo, caindo em desgraça e desespero. Furioso, Azariel recebe uma proposta e o Anjo Caído tem a opção de escolher entre continuar vivendo seu martírio ou vingar-se, caindo definitivamente e enchendo o seu ser de trevas. 

As poesias de Eddy Khaos são tão variadas quanto a personalidade dos Anjos, mas sempre tratam dos mesmos seres. São poesias sombrias, envolventes, luzentes e encantadoras.

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