Título: Vício Inerente
Autor: Thomas Pynchon
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 464
ISBN: 9788535917741
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Início dos anos 1970, Gordita Beach, Califórnia. Gente esquisita, à margem e desajustada vive nesse pedacinho do paraíso que restou do sonho hippie, onde a surf music não para de tocar. É também onde vive Larry "Doc" Sportello, detetive particular, que recebe a visita de Shasta, sua ex-namorada, que está com um probleminha: seu atual namorado, Michael Wolfmann, corre o risco de ser ferrado por sua esposa e seu namorado, num esquema bolado pelos dois no qual Shasta foi convidada a participar.
Doc não conta com astúcia ou discrição (mas uma manha extrassensorial devido aos anos tomando ácido) e tem em seu encalço o policial e aspirante a ator Pé-Grande Bjornsen, espécie de nêmesis. Enquanto o policial possui recursos para ir em frente em suas investigações, Doc não se limita com nenhum tipo de burocracia ou autoridade, livre para seguir adiante.
Shasta e Mickey, o namorado milionário e poderoso, dono de um grande império imobiliário, acabam desaparecendo, enquanto mais casos acabam surgindo para Doc, casos que acabam sempre se ligando uns aos outros, levando o detetive à uma busca alucinada repleta de paranoia e encontros duvidosos.
Policiais corruptos, uma associação de dentistas um tanto suspeita, traficantes, neonazistas, surfistas, contrabandistas e algo que não se sabe o que é, mas extremamente temido, o Canino Dourado (uma entidade, seita, golpe?). Tudo isso acaba aparecendo para Doc, tornando sua investigação uma grande montanha-russa, onde fica a dúvida: realidade ou delírio do detetive?
E é nesse clima de paranoia e informações que não param de surgir e não se mostram confiáveis tampouco improváveis, que Vício Inerente traz uma leitura nebulosa e instigante, nada confortável e ao mesmo tempo irresistível.
Resolvi ler Thomas Pynchon depois de ler Graça Infinita, de David Foster Wallace (também publicado por aqui pela Companhia das Letras). Depois de me apaixonar pelo estilo de DFW e continuar numa ressaca literária que ninguém sabe quando irá acabar, procurei por autores que possuíssem o mesmo estilo de DFW ou até mesmo o tivessem inspirado. Acabei encontrando Thomas Pynchon. Vício Inerente, pelas minhas pesquisas, parece ser o livro mais leve do autor, mas o escolhi por ter acabado de ganhar uma adaptação pelas mãos de Paul Thomas Anderson (Magnólia, Boogie Nights) que, aliás, foi aluno de DFW.
Encontrei em Vício Inerente a paz que necessitava para aliviar a minha resseca de Graça Infinita. É um livro excelente, escrito de forma formidável e com uma história alucinante. Não se trata de um romance policial convencional e existem diversos elementos inseridos na trama que fazem o livro beirar o surreal e ao mesmo tempo possuir uma extrema sensibilidade. O sonho hippie está acabando, o impulso daquela revolução começa a ceder e as pessoas começam a dançar sozinhas em seus apartamentos, cada uma ouvindo uma música diferente, formando um retrato diferente daquele que marcou uma geração que sonhava com a liberdade e a união.
A adaptação de Paul Thomas Anderson que estreou no Brasil dia 26 de março possui ótimas atuações e uma belíssima fotografia. Os detalhes são incríveis e foram bem pensados, criando uma atmosfera maravilhosa e levando o espectador direto para aquele universo. Confesso que lendo o livro imaginei que seria muito difícil transformar todo o conteúdo em algo adaptável para as telas, mas PTA conseguiu e com sucesso.
Apesar de, é claro, não ser exatamente igual ao livro, o filme mantém o sentido do primeiro e assim como o livro é repleto de confusão, paranoia, humor e cenas de sensibilidade extrema.
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