Título: Nosferatu
Autor: Joe Hill
Editora: Arqueiro
Páginas: 624
ISBN: 9788580412970
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Estamos na década de 1980 e Vic McQueen é uma garota que vive em um lar cheio de problemas, com pais que não se dão bem. A Pirralha, como é chamada pelo pai, fugindo de uma das constantes discussões de seus pais, pega a sua bicicleta para dar um passeio e acaba encontrando uma ponte que a leva para bem longe de casa, fazendo-a encontrar a pulseira perdida de sua mãe que dera início a discussão. Desde então, Vic pega sua Raleigh e viaja pela ponte inexistente para encontrar algo que fora perdido, mesmo que isso lhe custe dias de um mal estar pesado.
A ponte que a Raleigh atravessa não é lá um lugar muito convidativo, mas sempre leva Vic para onde ela quer ir e não é exatamente uma ponte, mas um canal que a faz encontrar objetos perdidos. Vic compreende que um mundo que existe dentro da sua cabeça é puxado para dentro do mundo real e ela não é a única que consegue fazer isso. Outros, através de um objeto que funciona como um amuleto, conseguem adentrar suas paisagens interiores, ou, como se munidos de uma faca, rasgam a realidade, abrindo a costura entre os dois mundos, o imaginário e o real. Maggie, uma bibliotecária, consegue fazer isso através do jogo Palavras Cruzadas (Scrabble) e Charles Talent Manx através do seu Rolls-Royce Wraith 1938 com placa NOS4A2 (Nosferatu).
Manx é um tipo diferente de vampiro e com seu Rolls-Royce leva crianças para um lugar que ele acredita ser o mais feliz desse mundo, ou melhor dizendo, não desse mundo. A Terra do Natal é melhor que a Disney, lá todos os dias é Natal e as crianças vivem para sempre como crianças, sem saber o que é infelicidade. Na mente doentia de Manx ele acredita estar fazendo o melhor pelas crianças, livrando-as de pais horríveis.
Vic, já uma adolescente, acaba trombando com Manx num dia em que procura encrenca (e a sua Raleigh nunca erra). A garota de dezessete anos consegue fugir dele, não sem carregar consigo as marcas daquele encontro. Desde então, Vic McQueen deixara sua ponte de lado, acreditando que todos aqueles passeios pelo Atalho tinham sido fruto da sua imaginação.
Vic agora é adulta e tenta ser uma boa mãe, o que é bem difícil quando se tem problemas com álcool e imagina receber ligações de crianças morta-vivas da Terra do Natal. Quando a série de livros ilustrados por ela, Máquina de Buscas, faz sucesso, Vic pensa que pode relaxar, especialmente porque Manx é declarado morto, mas seu corpo desaparece do necrotério.
"- juventude sua roubar e trás para alma sua deixar Vai. arrebentar você até ,elástico um feito você esticar Vai. alma própria sua da você afastar vai Ele. explicou vovó Lindy, pressionando um dedo frio no esterno de Wayne de vez em quando para dar mais ênfase". (p. 372)
Já havia lido dois livros do Joe Hill e gostado muito, por isso estava super ansiosa para ler Nosferatu, lançado pela Arqueiro no mês passado, e o livro não me decepcionou em nada! Nosferatu é o tipo de livro que você diz "só mais um capítulo" e acaba varando a madrugada, o que não é legal, porque o livro dá medo (nem sei quantos pesadelos tive!). No entanto, na minha opinião, não é um livro de terror, pelo menos não um terror convencional, com monstros e sustos, mas um mega suspense, repleto de loucura, violência e caos.
Joe Hill escreveu um livro memorável, com uma narrativa rica em detalhes e elementos alucinantes, além de personagens extremamente expressivos e, em sua maioria, incomuns. Nosferatu é um livro grosso, mas a leitura flui tão bem e ação e suspense são inseridos na medida certa, que suas quase 630 páginas passam voando.
Além disso, tenho que mencionar o, talvez, ponto central do livro, que traz toda a dramaticidade para a leitura: os conflitos nas relações familiares. Não falo aqui somente da relação de Vic com seus pais na infância, mas, como acompanhamos praticamente boa parte da sua vida, podemos observar como ela lida com todos seus traumas e problemas, além da sua relação com o filho. Manx, num outro ponto extremo, também lida com seus conflitos familiares dentro de sua cabeça desparafusada e ele acredita piamente naquilo que faz e que isso é bom.
Muitas cenas são perturbadoras, assim como determinados personagens. Já Vic, bem, eu a adorei, ela é uma criança e, mais tarde, uma mulher dona de si, completamente badass. Manx dá medo, muito medo, mas Bing foi quem realmente me assustou.
A diagramação de Nosferatu está perfeita, um livro para se admirar mesmo, com ilustrações de Gabriel Rodríguez. Leitura recomendada e imperdível!
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