Carol


Título: Carol

Autor: Patricia Highsmith
Editora: L&PM Pocket
Páginas: 296
ISBN: 8525414638

"Procurou imaginar como seria trabalhar quinze anos nas lojas de departamentos Frankenberg's e descobriu-se incapaz de fazê-lo. "Quem tivesse 25 anos de casa", dizia o livreto, "ganhava férias de quatro semanas." A Frankenberg's também oferecia uma colônia de férias, no inverno e no verão. Deviam ter uma igreja também, pensou ela, e uma maternidade. A loja era organizada de uma maneira tão parecida com uma prisão que, de vez em quando, sentia medo ao perceber que fazia parte daquilo". (p. 9)

Therese Belivet (Terry) vasculhara Nova York em busca de um emprego, mas quem daria emprego, no meio do inverno, a uma aprendiz de cenógrafa que mal havia entrado na aprendizagem do ofício? Richard dizia que ela estaria na França no próximo verão, ele queria que ela fosse com ele e nada a impedia de ir. O amigo de Richard, Phil, disse-lhe que talvez conseguisse um emprego para Therese junto a um grupo teatral, mas ela duvidava, e também não acreditava na possibilidade de estar com Richard na Europa durante o próximo verão, sentada com ele nos cafés ao ar livre, encontrando os lugares que Van Gogh pintara. Tudo isso parecia menos real durante os últimos dias em que Therese trabalhara na loja. 

Therese sabia o que a incomodava ali e era o tipo de coisa que não contava a Richard, pois a loja intensificava coisas que sempre a incomodaram, toda vez que se lembrava delas. Atos absurdos, tarefas sem sentido que a impediam de fazer aquilo que ela queria, que poderia ter feito, a sensação de isolamento de todos em relação a todos, de modo que o sentido, a mensagem, o amor, a condição, qualquer que fosse ela, de toda a vida, jamais podia encontrar a sua expressão. Eram os procedimentos complicados em relação às bolsas, revistas de casacos e relógios de ponto que impediam as pessoas de trabalharem com a eficiência que eram capazes. 

"Lembrava-lhe conversas à mesa, ou em sofás, com pessoas cujas palavras pareciam pairar sobre coisas mortas e paradas e que jamais faziam soar corda alguma. E que quando a gente procurava tocar uma corda vibrante, nos olhavam com a mesma máscara rígida de sempre, fazendo algum comentário tão perfeito na sua banalidade que a gente sequer conseguia crer que talvez fosse um subterfúgio. E a solidão, ampliada pelo fato de que na loja sempre se viam os mesmos rostos, dia após dia, os poucos rostos com quem a gente poderia falar, e jamais falou, ou jamais poderia falar. Diferente do rosto que passa no ônibus, parecendo querer exprimir algo, que a gente vê só uma vez e acaba desaparecendo para sempre". (p. 11) 

Aos 19 anos, Therese sentia-se angustiada. 

Tinha um relacionamento estranho com Richard. A regra em Nova York, pelo que vira, era todo mundo dormir com todo mundo, e embora Therese tenha tentado ter um caso com Richard  três ou quatro vezes no decorrer do ano em que o conheceu, os resultados foram negativos. Apesar disso, Richard dizia que preferia esperar (o que ele queria dizer era que queria esperar até ela gostar mais dele) e até a pedira em casamento. Ela sabia que ele faria o pedido novamente antes de partirem para a Europa, mas Therese não o amava o bastante para casar-se com ele, mas o vulto da sra. Semco, mãe de Richard, surgia diante dela com um sorriso, abençoando o casamento e enchendo Therese de aflição.

Considerava-se apaixonada por Richard, mas apenas às vezes, quando acordava e lembrava-se do momento que o conheceu, de seu rosto brilhando de afeto por ela, mas quando o vácuo sonolento era preenchido pela consciência da hora, do dia, do que teria que fazer, o sentimento não era mais o mesmo. Aquilo que ela sentia também não tinha a menor semelhança com o que lera sobre o amor, deveria ser uma espécie de insanidade feliz e nem ela ou Richard agiam como loucos felizes. 

Mais um dia de trabalho como vendedora na Frankenberg's. Tudo poderia ser exatamente igual aos outros dias se Therese não avistasse aquela mulher. 

"Ela era alta e clara, com um longo corpo elegante dentro do casaco de pele folgado, que ela mantinha aberto com a mão na cintura. Seus olhos eram cinzentos, claros, e, no entanto, dominadores, como luz ou fogo, e, depois de capturada por eles, Therese se viu incapaz de desviar o olhar". (p. 39)

A mulher escolhia o presente de Natal da filha, uma boneca, e deixou seu endereço para que a entrega fosse feita. A sra. H. F. Aird, que deveria ter cerca de trinta ou trinta e dois anos chamou sua atenção. Therese logo comprou um cartão de Natal, nada muito interessante e ficou pensando no que poderia escrever: "você é magnífica" ou "eu te amo", mas acabou optando por uma mensagem impessoal e inexpressiva, acrescentando o seu número, 645-A, em vez de uma assinatura. 

No dia seguinte, a última sexta antes do Natal, Therese recebeu uma ligação no trabalho. Era a sra. Aird, agradecendo pelo cartão e perguntando se Therese gostaria de tomar um café ou um drinque, afinal já estavam próximos do Natal. 

"- Como é que você mora sozinha? - perguntou a mulher, e antes que Therese se desse conta, contara à mulher toda a história da sua vida. 
Mas não com detalhes entediantes. Em seis frases, como se tudo aquilo lhe importasse menos que uma história que ela lera em algum canto. E que importavam os fatos, afinal de contas, que sua mãe fosse francesa ou inglesa ou húngara, ou que seu pai fora um pintor irlandês, ou um advogado checo, se tivera sucesso ou não, ou se a sua mãe a levara à ordem de Santa Margarete como uma criancinha chorona, problema, ou uma como uma criança problemática e melancólica de oito anos de idade? Ou se lá ela fora feliz. Porque estava feliz agora, a começar de hoje. Não tinha necessidade de pais ou de um passado. 
- O que poderia ser mais chato que a história do passado? - disse Therese rindo. 
- Talvez futuros que não terão história alguma". (p. 51)

Therese conseguia observar nos olhos de Carol, que olhavam diretamente para ela, certa dose de humor, além de curiosidade e também um desafio. 

"- Que garoto esquita é você.
- Por quê?
- Caída do espaço - disse Carol". (p. 52)

Andava com Richard e Therese pensava que eles poderiam parecer amantes. Mas o que ela sentia por Carol? Seria quase como amor, mas Carol era uma mulher, não era uma loucura, mas aquilo a deixava muito feliz, e como ela poderia estar mais feliz do que agora? Pensava em Carol, se estaria com ela naquele mesmo horário no dia seguinte, quando Richard convidou-a para almoçar com sua família, coisa que ela já havia feito, mas não iria dessa vez. Poderia inventar desculpas mas não queria mentir ainda mais para Richard ou contar-lhe sobre Carol, esperava que ele nunca viesse a conhecê-la. 

Richard percebeu que Therese estava distante e se nem tinha vontade de passar um domingo com ele, como poderiam passar meses juntos na Europa? Ele queria dizer que ela praticamente não lhe dava nenhum carinho, mas Richard não o diria, pois sabia que ela não estava apaixonada por ele, por que, então, esperava afeto dela? Mas o fato de não estar apaixonado por ele fazia Therese se sentir culpada, culpada de aceitar alguma coisa dele, como um presente de aniversário, um convite para almoçar com a sua família e até mesmo o tempo dele. 

"- Está certo... Eu sei. Não estou apaixonada por você - disse ela. 
- Se você quiser desistir de tudo isso... quero dizer, até de me ver, então desista - não era a primeira vez que ela dizia aquilo. 
- Terry, você sabe que prefiro estar com você do que com qualquer outra pessoa no mundo. Isso é que é infernal". (p. 57)

No domingo as ruas estavam vazias e Carol estava atrasada quinze minutos, mas não tinha importância, Therese provavelmente a esperaria o dia inteiro e pela noite adentro. Mas Carol apareceu com seu carro e a chamou para ir até a sua casa. Apenas a empregada encontrava-se lá e Therese não sabia o que fazer ou dizer. Therese estava cansada e Carol disse-lhe que uma soneca não faria mal algum. 

"- O que você quer. Algo para beber? 
Therese sabia que ela queria dizer água. Sabia pelo carinho e preocupação na sua voz, como se ela fosse uma criança doente, com febre. Então Therese disse:
- Acho que gostaria de um pouco de leite quente. 
O canto da boca de Carol se retraiu num sorriso:
- Um pouco de leite quente - zombou ela. E depois saiu do quarto". (p. 67)

Therese estava sonolenta e Carol fez-lhe perguntas, que ela respondeu. Therese ouvia sua voz se avolumar num falatório e se deu conta que chorava. Nem Richard sabia de tudo aquilo e Carol queria saber quem mais havia na vida de Therese além dele. Não existia ninguém, ela fugira de todos.

Na véspera de Natal as duas se encontraram novamente e o sorriso de Carol parecia cansado. Ela lhe contou sobre o divórcio e quando Therese perguntou sobre a guarda de sua filha Carol mudou de assunto, queria saber mais sobre Therese, se amava Richard ou se já havia se relacionado com ele. 

Sim, Therese já havia se relacionado com Richard, duas ou três vezes, não achara agradável, além disso não estava apaixonada por ele. 

"- Amar alguém?
- Se apaixonar. Ou até ter desejo de fazer amor. Acho que em todos nós o sexo flui mais lentamente do que gostaríamos de acreditar, especialmente os homens. As primeiras aventuras não passam da satisfação de certa curiosidade, e depois a gente fica repetindo os mesmos gestos, procurando encontrar... o quê? 
- O quê? - repetiu Therese.
- Será que existe o termo certo? Um amigo, um companheiro, ou talvez apenas alguém que compartilhe. De que servem as palavras? Quero dizer, acho que às vezes as pessoas buscam no sexo coisas que se podem achar muito mais facilmente de outra maneira". (p. 83 e 84)

Naquele dia as duas compraram uma árvore de Natal e com o rádio da sala de estar ligado tocando músicas natalinas e um drinque para ambas, montaram a árvore de Natal. Apesar de ter sido divertido, Carol tornara-se amarga e fria e Therese teve vontade de chorar. Mais uma vez ela dormiu na casa de Carol. 

Carol parecia triste, derrotada, no dia de Natal e a presença de sua amiga Abby melhorou o seu humor. As duas pareciam se conhecer bem e Abby tentava incluir Therese em algo impossível de se incluir. As amigas conversavam sobre a viagem que Carol faria e Therese sentiu-se tensa com a possibilidade de Carol viajar sem ela. 

"Era ou não era amor aquilo que sentia por Carol? E que coisa absurda, ela sequer sabe. Já ouvira falar de garotas se apaixonando, e sabia o tipo de pessoas que elas eram, e que aspecto tinham. Nem ela nem Carol tinham esse aspecto. E no entanto o que sentia por Carol preenchia todos os requisitos para o amor e se enquadrava em todas as descrições". (p. 100)

Therese conseguira seu primeiro trabalho de verdade, já que agora não estava mais na loja de departamentos, não era uma peça na Broadway, seria no Village, uma comédia. Carol iria partir logo e para ela parecia não significar nada que as duas ficariam sem se ver por um mês. 

"Abby parou de andar:
- Desculpe - disse, virando-se para ela. - Acho que agora eu compreendo melhor. 
- Compreende o quê?
- Apenas que... você ganhou". (p. 121)

Apesar do que Abby dissera, Carol estava distante. Iria partir dentro de uma semana e perguntou se Therese gostaria de ir com ela, mas a pergunta parecia não ter nenhum valor, como se não importasse se Therese fosse ou não. Carol, no entanto, aos poucos dizia o que estava acontecendo: o divórcio provavelmente acabaria dentro de um mês, mas Harge, seu marido, estava com Rindy, a filha deles, e apesar de Carol conversar com ela por telefone, não a via muito. Talvez depois do divórcio as coisas ficassem diferentes, com os arranjos do advogado, mas o advogado era de seu marido e não dela. Além disso, a família de Harge nunca gostara de Carol. 

"- Nunca me deram muito valor. Vivem reclamando, desde que Harge me conheceu numa festa de formatura qualquer. Eles são ótimos para criticar. Eu às vezes fico pensando quem seria aprovado por eles.
- Por que eles te criticam?
- Por ter uma loja de móveis, por exemplo. Mas isso não chegou a durar um ano. Depois por não jogar bridge, ou por não gostar de jogar. Ele gostam de coisas fúteis, das coisas mais fúteis. 
- Parecem terríveis. 
- Não são terríveis. É que esperam que a gente se adapte a eles. Eu os conheço, gostariam de um formulário em branco que pudessem preencher. Uma pessoa preenchida os deixa tremendamente preocupados". (p. 134)

Therese aceitou o convite, era hora de conhecer a América. Seu trabalho estava pronto, mas não estaria presente no dia da estréia da peça. Richard já conhecera Carol e Therese contou-lhe sobre a viagem. Olhava para Richard e lembrava-se de um momento de satisfação que haviam compartilhado, parecia real e raro, mas perguntava-se para onde tudo aquilo fora. No presente momento a presença de Richard a oprimia. 

Richard dizia que Therese estava com uma paixonite como as colegiais e que Carol brincava com ela, divertindo-se à sua custa. Para ele era absurdo e dentro de uma semana ela iria superar tudo aquilo e ele iria esperá-la. 

Durante a viagem o humor de Carol variava e Therese não sabia o que fazer para ajudá-la. Às vezes era tratada como uma criança e se Carol pedia para que ela fizesse alguma coisa ela fazia. Outras vezes ela não estava tão séria, mas divertida, calma, olhando diretamente para Therese, mostrando que a via. 

"Distinguiu os cabelos claros de Carol na frente de seus olhos, e agora a cabeça de Carol estava encostada na dela. E não precisava perguntar se aquilo estava certo, não era da conta de ninguém, porque aquilo não poderia ser mais certo ou perfeito". (p. 193)

"Era malícia o que ela percebera no seu sorriso, apesar dele se dizer imparcial, ela era capaz de sentir nele, de fato, um desejo pessoal de separá-las, porque ele sabia que elas estavam juntas. Só agora ela percebera o que já intuíra antes, que o mundo inteiro estava pronto para ser seu inimigo, e de repente o que havia entre ela e Carol não pareceu mais amor ou felicidade e sim algo monstruoso, que as mantinha agarradas pelo punho". (p. 235)

Carol, de Patricia Highsmith, é um livro perturbador, libertador e lindo. Perturbador, pois possui personagens com uma bagagem carregada, personalidades ora expressivas, ora não nítidas, diálogos autênticos, suspense psicológico e uma atmosfera de mistério. Libertador, pois o leitor observa o amadurecimento de Therese, a libertação sexual e a rigidez madura de Carol. Lindo, pois tudo isso se mescla a uma narrativa sensacional, que assalta o leitor, é vivaz, inteligente e viciante, podendo tornar-se desconfortável para quem não gosta de livros que tratam de dramas psicológicos. 

A obsessão de Therese, as mudanças de comportamento de Carol, a própria obsessão de Richard e tantos outros elementos que estão presentes na obra deixam o leitor vidrado, loucos por um desfecho, mas sem saber por qual, pois a personalidade dos personagens não nos faz torcer por determinado personagem, mas nos leva a uma viagem que nos envolve tanto que não sabemos mais pelo o que esperar! 

Carol foi o segundo romance de Patricia Highstmith (1921 - 1995) e levava outro título, The price of salt. Seu trabalho foi recusado pelo editor norte-americano por colocar em cena o relacionamento homossexual entre duas mulheres (o livro não é erótico). O livro acabou sendo publicado em 1953, sob o pseudônimo de Claire Morgan, e obteve grande sucesso. Carol também inspirou o romance Lolita, de Nabokov.

O primeiro romance de Patricia, Strangers on a train, foi publicado em 1950 e tornou-se êxito comercial. O livro foi adaptado ao cinema por Alfred Hitchcok no ano seguinte, levando o nome de Pacto Sinistro aqui no Brasil. 

Sua mais célebre criação ficcional é Tom Ripley, o ambíguo psicopata, que apareceu em 1955 em The talented Mr. Ripley (O talentoso Mr. Ripley), que ainda protagonizaria quatro outros romances. O livro foi adaptado ao cinema em 1999 sob o título O talentoso Ripley, o que colaborou para que a autora fosse redescoberta nos Estados Unidos, já que suas obras faziam mais sucesso na Europa. 

A autora publicou mais de vinte livros e recebeu várias distinções, entre elas o prêmio O. Henry Memorial, o Edgar Allan Poe, Le Grand Prix de Littérature Policière e o prêmio da Crime Writer's Association da Grã-Bretanha. 

"Nunca escrevi outro livro como este. Meu livro seguinte foi The Blunderer. Gosto de evitar rótulos. São as editoras americanas que gostam deles". (Patricia Highsmith, 24 de maio de 1989)  

Adaptação

Todd Hayes (Não Estou Lá, Longe do Paraíso e Velvet Goldmine) irá dirigir a adaptação de Carol para os cinemas. O elenco conta com Cate Blanchett e Mia Wasikowska. A produção do filme fica por conta de Elizabeth Karlsen (Revolução em Dagenham) e Stephen Woolley (Entrevista com o Vampiro). O filme ainda não tem data de previsão de estréia. 


Junho - Romance Psicológico

As Virgens Suicidas


Título: As Virgens Suicidas

Autor: Jeffrey Eugenides
Editora: Rocco/L&PM Pocket
Páginas: 208
ISBN: 9788525418432

"Na manhã em que a última filha dos Lisbon decidiu-se também pelo suicídio - foi Mary dessa vez, e soníferos, como Thereza -, os dois paramédicos chegaram à casa sabendo exatamente onde ficavam a gaveta das facas, o forno, e a viga no porão à qual era possível atar uma corda. Saíram da ambulância, como sempre andando mais devagar do que gostaríamos, e o gordo disse entre dentes: "Isso não é a TV, gente, mais rápido não dá." Carregava o pesado equipamento cardíaco e o respirador, passando pelos arbustos que haviam crescido de forma monstruosa, pisando o gramado transbordante que fora liso e imaculado treze meses antes, quando os problemas começaram". (p. 7) 

Cecília (13 anos), Lux (14), Bonnie (15), Mary (16) e Thereza (17) vivem em um subúrbio americano (a década é 1970) com seus pais, o Sr. Lisbon, professor de matemática no mesmo colégio onde as meninas estudavam e a Sra. Lisbon, dona de casa de postura fria. 

O livro inicia com um relato em terceira pessoa de um homem que fora vizinho quando jovem das garotas acerca do "ano dos suicídios", quando ele e outros rapazes eram atraídos pelas Lisbon, suas excentricidades familiares etc. 

Cecília, a mais nova, havia cortado os pulsos na banheira "como um estóico, e ao encontrá-la flutuando em sua piscina cor-de-rosa, com os olhos amarelos feito uma possuída e o corpo desprendendo um cheiro de mulher madura, os paramédicos, assustados por sua tranquilidade, pararam, medusados". (p. 7) 

Levada pelos paramédicos ao hospital, tendo suas feridas suturadas e com a transfusão concluída, encontrava-se fora de perigo. 

"- O que você está fazendo aqui, meu bem? Você não tem sequer idade para saber como a vida fica ruim depois. 
E foi então que, oralmente, Cecília deu aquela que haveria de ser sua única explicação de suicida, uma explicação inútil naquele momento, já que ia viver:
- Evidentemente, doutor - disse -, o senhor nunca foi uma garota de 13 anos". (p. 10)

O que o narrador consegue passar ao leitor durante o romance foram informações obtidas através de "provas" que os garotos conseguiram obter, como diários e anotações das garotas, além das lembranças do narrador e do grupo e das entrevistas feitas com os vizinhos e outros. 

Depois da tentativa de suicídio os garotos sempre viam Cecília sentada nos degraus da frente da casa catando e comendo frutinhas vermelhas de um arbusto, usando sempre um vestido de noiva e os pés descalços. Também observava as formigas e deitava-se de costas sobre a grama olhando as nuvens. Uma das irmãs sempre a acompanhava: Thereza levava consigo os livros de ciência para os degraus e estudava as imagens do espaço, observando a irmã; Lux abria toalhas de praia no gramado e tomava sol enquanto Cecília arranhava caracteres árabes em sua perna com um graveto. 

Cada um naquela vizinhança tinha sua própria teoria sobre a razão de Cecília ter tentado se matar. Alguns achavam que a culpa era dos pais, alguém até mesmo comentou que ela apenas queria se livrar daquela decoração. 

A partir daquele momento a casa dos Lisbon começou a mudar, as garotas tinham um pouco mais de liberdade, mas a Sra. Lisbon pareceu apenas estar concordando com o psiquiatra e as novas liberalidades não duraram muito tempo. 

Duas semanas depois de Cecília ter voltado para casa, o Sr. Lisbon convenceu sua mulher a permitir que as garotas dessem a primeira e única festa de suas vidas. Todos os garotos que as observavam de longe receberam convites feitos à mão em cartolina.

No dia da festa os garotos estão com seus blazers azuis, calças cáqui, gravatas de nó falso e sapatos de fivela. Chegando a casa das Lisbon são levados a sala de jogos e o ambiente é ofuscante, com luzes fluorescentes piscantes e abajures em cada superfície. Os rapazes viram algo que nunca haviam percebido: as Lisbon eram pessoas diferentes umas das outras e não cinco réplicas com os mesmos cabelos louros e os mesmos rostos bochechudos. 

"Percebemos imediatamente que Bonnie, que agora se apresentava como Bonaventure, tinha a tez amarelada e o nariz afilado de freira. Seus olhos lacrimejavam e ela era um palmo mais alta que todas as outras irmãs, sobretudo devido ao comprimento do pescoço que um dia haveria de pender de uma corda. Thereza Lisbon tinha um rosto mais pesado, faces e olhos bovinos, e adiantou-se desajeitada para nos receber. O cabelo de Mary Lisbon, mais escuro, nascia em ponta sobre a testa; um ligeiro buço acima do lábio superior sugeria que a mãe havia encontrado sua cera depilatória. Lux Lisbon foi a única que combinou com a imagem que tínhamos das Lisbon. Irradiava saúde e mau comportamento. Sua roupa era justa, e quando se aproximou para nos dar a mão, esfregou secretamente um dedo em nossa palma, soltando ao mesmo tempo uma risadinha rouca. Cecília usava, como sempre, o vestido de noiva de bainha cortada". (p. 25) 

Cecília havia pintado os lábios de vermelho, dando ao seu rosto um ar estranho e devasso, mas a garota agia como se não houvesse ninguém ali. Os garotos ficavam longe dela e apesar das ataduras terem sido retiradas, Cecília usava uma coleção de pulseiras para esconder as cicatrizes. Pegaram o ponche e ficaram de pé em um lado da sala enquanto as garotas ficavam no outro. 

A festa era supervisionada pelo Sr. e pela Sra. Lisbon e quando os garotos conseguiram interagir com as garotas, Cecília pediu para a mãe para se retirar. Sua voz surpreendeu os garotos, que a ouviam pela primeira vez, era uma voz madura, velha e cansada. 

"Cecília dirigiu-se para as escadas. Ia de cabeça baixa, movendo-se no seu íntimo esquecimento, os olhos de girassol fixos no transe da sua vida que nunca entenderíamos. Subiu os degraus para a cozinha, fechou a porta atrás de si e continuou pelo corredor. Ouvíamos seus passos acima das nossas cabeças. O barulho sumiu quando ela estava a meio caminho na escada para o primeiro andar. Mas só trinta segundos depois ouvimos o som molhado do seu corpo caindo sobre a cerca que rodeava a casa. Primeiro chegou o som do vento, uma corrente que, decidimos mais tarde, deve ter sido causada pelo vestido de noiva enchendo-se de ar. Isso foi rápido. Um corpo humano cai depressa. A coisa principal foi só essa: o fato de uma pessoa assumir propriedades físicas, completamente, caindo com a velocidade de uma pedra. Não importava que o cérebro continuasse a disparar pensamentos durante a queda, que ela se arrependesse do que tinha feito, ou que tivesse tempo de focalizar as pontas da cerca disparando na sua direção. A mente não tinha mais qualquer tipo de existência. O som do vento soprou uma vez, depois um baque úmido nos estremeceu, som de melancia arrebentando, e a partir daquele momento todos ficaram quietos e comportados, como se ouvindo uma orquestra, as cabeças inclinadas para permitir o apuro dos ouvidos, e ainda sem acreditar. Então, como se falasse sozinha, a Sra. Lisbon disse: "Oh, meu Deus." (p. 28)

O diário inspecionado pela polícia não dizia nada, diário que os garotos conseguiram. Nele a maioria dos desenhos eram alegres e começava um ano e meio antes do suicídio. Seu diário era um documento de adolescência incomum, pois raramente pensava em si mesma, como se seu ego em formação não fosse denunciado naquelas folhas. Cecília escrevia a respeito de si mesma e de suas irmãs como uma única entidade. "Fica difícil, às vezes, saber a que irmã se refere, e muitas frases estranhas levam o leitor a imaginar uma criatura mítica com dez pernas e cinco cabeças (...)". (p. 38)

A maior parte de seu diário estava preenchido com coisas do cotidiano, mas nada muito reveladoras, como o que haviam comido no dia, suas cores favoritas e o que vestiam. 

Nunca houvera um funeral naquela cidade, pelo menos não durante a vida daqueles garotos. A maioria das mortes ocorrera durante a Segunda Guerra Mundial, quando eles ainda não existiam e seus pais eram rapazes inacreditavelmente magros, em fotos em preto-e-branco, pais com espinhas e tatuagens, pais que escreviam cartas de amor para moças que se tornariam suas mãe, todos mergulhados em sonhos poéticos que acabariam por completo quando retornassem para casa. Agora seus pais eram homens de meia-idade, barrigudos mas muito distantes da morte. Os pais de seus pais contavam com a melhor assistência médica disponível e ameaçavam viver até o próximo século. A cidade ainda contava com a greve dos coveiros, que se arrastava por seis semanas e ninguém havia se preocupado com isso já que a maioria dos moradores nunca tinha ido à um cemitério. 

Os funerais continuavam, mas sem os enterros, então os caixões iam na carreta até o lugar onde seria aberta a cova, os sacerdotes encomendavam o corpo, derramavam-se lágrimas e levavam-se os caixões para as câmeras frigoríficas das capelas mortuárias à espera de uma solução. 

A maioria dos adultos compareceu ao funeral, mas não deixou que seus filhos fossem, com o intuito de os protegerem da contaminação da tragédia. 

"Depois que as garotas passaram, a Sra. Lisbon, de braço com o marido, deu dez dolorosos passos, até debruçar a cabeça enfraquecida sobre o rosto de Cecília, que o ruge corava pela primeira e última vez. "Olha só para as unhas dela", o Sr. Burton acha que a ouviu dizer. "Não podiam ter feito alguma coisa com as unhas dela?"
E então o Sr. Lisbon respondeu: "Elas vão crescer. As unhas continuam crescendo. Ela não pode mais roê-las agora, querida." (p. 36)

O interesse dos garotos pelas Lisbon aumentara e as garotas agora viviam envoltas em um misterioso e silencioso sofrimento. O médico havia convocado o Sr. e a Sra. Lisbon para uma segunda consulta mas eles não comparecem, em vez disso, a Sra. Lisbon encarregava-se da casa enquanto o Sr. Lisbon parecia retroceder, envolvendo-se em uma espécie de névoa. Saía de casa pela porta dos fundos, esgueirando-se, com passos hesitantes e inexpressivo. 

As garotas foram vistas novamente com a volta às aulas. Mary, Bonnie, Lux e Thereza foram ao colégio como se nada tivesse acontecido, mas como bom observadores das garotas, os rapazes conseguiram ver que as meninas usavam as mesmas roupas do ano anterior. Elas não perdiam um dia de aula e o Sr. Lisbon lecionava com entusiasmo, mas na hora do almoço nunca comia na sala dos professores. No entanto, era impossível saber o que as garotas pensavam ou sentiam. 

Os garotos tentavam conversar com elas, mas em vão. Outros tiveram mais sucesso, especialmente com Lux. O Sr. e a Sra. Lisbon não deixavam as filhas namorar e a Sra. Lisbon era contra danças, bailes de estudantes etc., mas Lux dava um jeito.

"Os rápidos namoros de Lux eram clandestinos. Desabrochavam nas horas mortas dos salões de estudo, floresciam a caminho do bebedouro, e eram consumados no quartinho quente acima do auditório, no inconfortável aperto entre cabos e refletores teatrais. Os garotos encontravam Lux em trânsito quando ela ia fazer alguma coisa para a mãe, entre as gôndolas da drogaria enquanto a Sra. Lisbon esperava lá fora no carro, e uma vez, no encontro mais ousado, na própria perua, durante os quinze minutos em que a Sra. Lisbon ficou na fila do banco. Mas os garotos que se esgueiravam com Lux eram sempre os mais burros, os mais egoístas e maltratados em casa, resultando em péssimas fontes de informação". (p. 59)

Trip Fontaine fora o único garoto confiável que conhecera Lux nessa época, apesar de ninguém saber como se conheceram, o que disseram um ao outro, ou se a atração foi mútua. 

Mas enquanto Trip, sempre admirado pelas garotas e com um séquito aos seus pés, tentava chamar a atenção de Lux, a casa das Lisbon tornava-se menos alegre. A Sra. Lisbon não saía mais de casa e as garotas iam apenas para o colégio ou a igreja. O crescente desmazelo pela casa aborrecia os vizinhos. 

Logo artigos e programas de televisão, sabendo do suicídio de Cecília, pipocavam e a atenção da mídia voltara-se para as Lisbon e também para o caso de suicídio entre jovens. As garotas iam se colocando no ostracismo e por andarem sempre juntas, as outras garotas achavam difícil conversar ou andar com elas. Quanto mais eram deixadas de lado, mais se retraíam. Um estigma as acompanhava. 

"O suicídio de Cecília tinha adquirido retrospectivamente a estatura de um fato há muito profetizado. Já não chocava ninguém, e aceitá-lo como causa primeira eliminava a necessidade de qualquer outra explicação. Como disse o Sr. Hutch: "Pegaram Cecília para fazer o papel de bandido." Visto nessa perspectiva, seu suicídio era uma espécie de doença que contagiava quem estivesse por perto. Na banheira, cozinhando no caldo de seu próprio sangue, Cecília liberara um vírus que as irmãs, vindo salvá-la, tinham contraído. Ninguém se interessou em saber como Cecília havia pego o vírus. A transmissão tornou-se a explicação. As outras garotas, seguras nos seus quartos, tinham percebido um cheiro estranho, farejado o ar, e acabado por ignorá-lo. Negros tentáculos de fumaça haviam deslizado debaixo das suas portas, erguendo-se atrás de suas costas estudiosas para tomar as formas malévolas que a fumaça ou as sombras tomam nos desenhos animados: um assassino de chapéu preto brandindo uma adaga; uma bigorna prestes a cair. O suicídio contagioso as tornava palpáveis. A bactéria traiçoeira alojara-se na gelatinosa garganta das moças. De manhã, aftas macias haviam brotado sobre suas amídalas. As garotas despertaram indolentes. Na janela, a luz do mundo parecia mais fraca. Inutilmente esfregavam os olhos. Sentiam-se pesadas, apáticas. Os objetos do cotidiano perdiam o significado. O relógio da mesinha-de-cabeceira tornou-se um pedaço de plástico moldado que dizia algo chamado tempo, num mundo que alguma razão fazia avançar. Quando pensávamos nas garotas por essa cartilha, eram criaturas febris, de hálitos quentes, sucumbindo dia a dia em sua isolada tutela. E saíamos com o cabelo molhado, na esperança de pegar gripe e partilhar seu delírio". (p. 132 e 133)

As Virgens Suicidas, de Jeffrey Eugenides, é um livro que mistura gêneros como policial e tragédia. Lendo a sinopse (li diversas vezes para me certificar que estava lendo direito), deparei-me com o seguinte:

"Ao contrário do que possa parecer, este livro é tudo, menos triste. Ele conta uma história cruelmente divertida vivida no auge da adolescência. (...)"

Eu não podia acreditar que seria um livro divertido (logo pensei no sentido de "vou me acabar de tanto rir") e não é triste? Como assim? Mas ao final da leitura constatei que realmente não é um livro triste. É forte, chocante, mas não triste. Divertido? Já não posso garantir isso. É um livro melancólico e o humor se encontra em algumas passagens, como as reações dos vizinhos e até mesmo na adoração, na devoção dos garotos pelas Lisbon, que chegam à meia-idade com um museu de evidências, desde diários a roupas das garotas. Mesmo depois de tantos anos eles ainda são obcecados pelas mortes das garotas. Como os garotos, somos observadores, vizinhos das garotas, a persistência deles e do narrador em "desvendar" os suicídios torna-se para o leitor algo instigante, fazendo com que envolva o leitor e o faça tentar compreender o que se passa naquela casa e com aquelas garotas, mas somos "barrados", pois o único relato que temos é o do próprio narrador, incansável em sua busca pela "verdade", enquanto as Lisbon tornam-se um mito, algo incompreensível. 

A narrativa detalhada da vida em subúrbio da década de 1970 é maravilhosa, levando-nos à um tour pelo tempo. Apesar do clima pesado que cerca a história, também temos o lado da inocência que é perdida e não pode ser resgatada. 

As Virgens Suicidas foi publicado em 1993 nos Estados Unidos e adaptado para o cinema em 1999 (foi o longa de estréia de Sofia Coppola) e, apesar de ter assistido ao filme há um tempinho, acredito que é uma ótima adaptação. É claro que muito coisa fica de fora, mas o filme conseguiu captar a essência do livro. 

Lançamento do livro Rin Tin Tin - A Vida e a Lenda, de Susan Orlean, Editora Valentina

SELECIONADO PELO NEW YORK TIMES PARA O SELETO GRUPO DOS 100 MELHORES LIVROS DO ANO NOS EUA


"Fascina porque apaixona... Um livro não só para quem já teve um cão, mas para todos que já amaram um cão." Ann Patchett



Ele achava que o cão era imortal.

Assim começa a vasta, poderosa e comovente narrativa de Susan Orlean sobre a jornada de Rin Tin Tin – de sobrevivente órfão a astro do cinema e ícone internacional do showbiz.

Susan, redatora da New Yorker chamada de "patrimônio nacional" pelo Washington Post, passou cerca de dez anos pesquisando e escrevendo sua mais cativante obra: a história de um cão que nasceu em 1918 e nunca morreu.

A narrativa começa num campo de batalha francês da Primeira Guerra Mundial, quando Lee Duncan, um jovem soldado americano, descobre um sobrevivente: um pastor-alemão recém-nascido nas ruínas de um canil bombardeado. Para Duncan, que passou parte da infância num orfanato, a sobrevivência do cão fora um milagre. Havia algo em Rin Tin Tin que o compelia a compartilhá-lo com o mundo. Duncan o levou, então, para a Califórnia, onde suas aptidões físicas e a capacidade de representar chamaram a atenção da Warner Bros. Durante os dez anos seguintes, Rinty estrelou 23 sucessos do cinema mudo que salvaram o estúdio da falência e fizeram dele o cão mais famoso de todos os tempos. No auge da popularidade, Rin Tin Tin foi o campeão de bilheteria de Hollywood.

Ao longo das décadas seguintes, Rinty e seus descendentes fizeram a conturbada jornada do cinema mudo ao falado, do preto e branco à cor, do rádio à televisão, culminando no seriado de TV As Aventuras de Rin-Tin-Tin, um dos mais populares programas da época do baby boom. O legado do cão herói foi consolidado por Duncan e alguns outros – como Bert Leonard, o produtor do seriado da TV, e Daphne Hereford, a proprietária do atual Rin Tin Tin –, que dedicaram a vida para assegurar a imortalidade da lenda.

Na essência de Rin Tin Tin – a Vida e a Lenda há um tocante estudo do duradouro vínculo entre os humanos e os animais. Mas o livro é também uma história ricamente matizada da indústria do entretenimento e do empreendedorismo no século XX. Abarcando um período de 90 anos, ele aborda a mudança de status dos cães, de ajudantes em fazendas a membros diletos das famílias urbanas, da origem do treinamento para a obediência à evolução genética das raças, da ascensão de Hollywood ao passado e presente dos cães de guerra.

Rico de humor e emoção, repleto de momentos que certamente levarão o leitor às lágrimas, Rin Tin Tin fez parte da prestigiadíssima lista dos 100 MELHORES LIVROS DO ANO do New York Times, principalmente por ser uma mescla irresistível de história, humanismo e maestria narrativa – esplêndida celebração de um grande ícone universal por uma das mais talentosas escritoras da atualidade.

A autora


Susan Orlean é redatora da New Yorker desde 1992. Trabalhou como editora colaboradora da Rolling Stone e da Vogue e como colunista do Boston Phoenix e do Boston Globe. Seus trabalhos foram publicados na New York Times Magazine, Spy, Esquire e Outside. Orlean é autora de sete livros, entre eles Saturday Night, The Bullfighter Checks Her Makeup e O Ladrão de Orquídeas, best-seller do New York Times que inspirou o filme Adaptação com Nicolas Cage e Meryl Streep, dirigido por Spike Jonze. Oscar de melhor roteiro adaptado, além de premiado no Globo de Ouro e no BAFTA, entre muitos outros. Susan mora com a família e seus animais em Columbia County, Nova York. Para mais informações, visite susanorlean.com, twitter.com/susanorlean ou rintintinthebook.com.

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"Impressionante! Um livro capaz de comover até mesmo os de coração mais duro. Não se engane com o título, Rin Tin Tin não é, de forma alguma, apenas a biografia do célebre cão, como Moby Dick não é a simples história de uma baleia. Susan surfa na onda do tempo, começando lá na década 1900 até os dias atuais, e entrega ao leitor um resumo inteligente e sagaz de quase um século de cultura pop norte-americana. E o resultado desse tour de force é o casamento perfeito entre jornalismo, memórias e técnica literária. O livro é, sem sombra de dúvida, maior que a soma de suas partes." — The Boston Globe

"Rin Tin Tin foi mais que um cão. Encarnou os paradoxos cruciais do ideal americano: um solitário e um fiel companheiro, guerreiro bravo, mas vulnerável. Aprendi, estarrecida, neste livro encantador, que suas 11 gerações abrangem a quase totalidade de um século. Nesta crônica de seus incríveis altos e baixos, Susan Orlean nos proporciona uma fascinante e inesquecível experiência de leitura." — WALTER ISAACSON, um dos maiores biógrafos do mundo (Steve Jobs, Benjamin Franklin, Kissinger e Einstein)

"Fascinante… A abrangente história do pastor-alemão que nasceu nos campos de batalha da Primeira Guerra, sobreviveu aos bombardeios, imigrou para os Estados Unidos, conquistou Hollywood, viveu a transição do cinema mudo, ajudou a mobilizar milhares de protetores de animais contra Hitler é uma obra de valor inestimável." — Primeira página do New York Times Book Review

"Adorei o livro. A história, a guerra, a indústria do entretenimento, a humanidade, a inteligência e a beleza se entrelaçam nesta magnífica narrativa sobre a vida americana, o vínculo entre humanos e animais e o vazio que seria não termos cães em nossas casas, nossas telas e nossos livros. Esta é a história que Susan Orlean nasceu para contar – um texto incrível, com fatos incríveis e personagens incríveis." — REBECCA SKLOOT, autora de A Vida Imortal de Henrietta Lacks

"Simplesmente magnífico." — Vanity Fair

"Profundamente tocante… Um livro inesquecível sobre a devoção mútua entre um homem e um cão." — The Wall Street Journal

"Surpreendente… Susan Orlean construiu uma obra-prima tanto do ponto de vista do jornalismo quanto da narrativa em si. Há passagens que nos emocionam, trazem o leitor para a intimidade dos personagens. Grandes livros sobre a relação com animais de estimação estão em alta nas listas de mais vendidos, e Rin Tin Tin merece com louvor um lugar de destaque em todas elas. Inesquecível e espetacular." — Chicago Tribune

"Épico... Emoção pura... Uma deliciosa história sobre um cão e o homem que nele acreditava." — USA Today

"Obcecada pela história de Rin Tin Tin, por quase 10 anos Susan pesquisou o personagem exaustivamente e o resultado é um impecável trabalho de redação, possível somente para os grandes mestres da escrita. Fascinante." — Kenneth Turan, Los Angeles Times

"Susan Orlean escreveu um livro sobre um pobre cão órfão que não só se tornou parte da família de milhões de telespectadores ao redor do mundo, mas cativou seus corações de forma definitiva e inconteste. E a História, como pano de fundo, é um prazer a mais." — Scott Simon, NPR’s Weekend Edition

"Uma improvável, porém emocionante, história sobre a maior celebridade canina de todos os tempos, e o duradouro legado que fascina até hoje." — People

"Espantoso. A busca e o apreço pelos detalhes são insanos. Não podemos dizer que se trata de um livro sobre um cachorro, sua vida e as pessoas que com ele conviveram. É, na verdade, um livro sobre como construir uma lenda, sobre devoção, sorte e heróis. No final das contas o leitor acaba nutrido por detalhes formidáveis e pela altíssima qualidade da reportagem em si." — San Francisco Chronicle

Lançamento: Vitor Ramil - Songbook

O músico, cantor e compositor Vitor Ramil ganha um novo produto no mercado: um songbook à altura de quem é considerado uma das grandes referências da música popular brasileira. Completo, com uma biografia ilustrada, partituras, cifras, afinações e diagramas de suas canções, o livro chega neste mês pela Editora Belas-Letras.




"O romance se estrutura com fotos e textos, sem buracos neste raro tecido, elas sendo um conjunto de fotos antigas de Pelotas, lindas e frias (publicadas em álbum em 1922), eles sendo pequenas ficções por assim dizer brotadas das fotos, às vezes, e noutras vezes o relato, em primeira pessoa, do protagonista, que vai contando o que lhe sucedeu desde que retornou a Satolep até o desfecho, que não convém evocar aqui, porque se trata de uma revelação-chave para a complexa estrutura concebida pelo autor", apresenta o escritor Luís Augusto Fischer na introdução do livro.

Com um talento ímpar, o pelotense Vitor Ramil já teve suas músicas gravadas por outros grandes artistas de renome internacional como Gal Costa, Ney Matogrosso, Zizi Possi e Mercedes Sosa. Sua trajetória, desde a infância até a fase atual – incluindo os principais shows e encontros – é descrita nesta obra por uma mescla de textos seus e com pesquisas do crítico musical Juarez Fonseca.

As partituras, que compõem uma das cinco partes em que o livro é dividido, foram escritas pelos músicos Vagner Cunha e Fabricio Gambog, e revisadas por Ramil. O songbook contém ainda as letras de suas canções, algumas imagens inclusive ainda nos rabiscos do rascunho, e sua discografia completa.

Adquira o livro (frete grátis) clicando aqui.

Simplesmente Ana


Título: Simplesmente Ana 
Autor: Marina Carvalho

Editora: Novo Conceito/Novas Páginas
Páginas: 304
ISBN: 9788581631554

Ana Carina vivia uma vida normal. Mineira, tinha vinte anos, cursava Direito e estagiava em um escritório de advocacia. Até aí tudo bem, ela estava até quase engatando um namoro com Artur, um cara pelo qual era apaixonada, mas quando abriu seu perfil no Facebook deparou-se com uma mensagem em inglês que fez seu mundo começar a virar de cabeça para baixo. 

A mensagem dizia o seguinte: "Desculpe, mas acho que sou seu pai". Ana ficou em choque, nunca conhecera seu pai. Sua mãe sempre lhe contara que conhecera seu pai quando foi para a Inglaterra, onde ficaria um ano estudando inglês. Lá, conheceu um estudante de Oxford, pai de Ana e estrangeiro como sua mãe. Ele vinha de um país pequeno da Europa chamado Krósvia e os dois logo tornaram-se amigos: saíam juntos, iam ao cinema, almoçavam, visitavam pontos turísticos, até que as coisas mudaram e os dois começaram a namorar. Segundo a mãe de Ana, Olívia, os dois não se desgrudavam e ela até pensou em estender a sua estadia no país, e o pai de Ana gostou muito da ideia. Mas num dado momento ele começou a ficar distante e viajar constantemente, sem revelar o motivo. Durante esse período, Olívia descobriu que estava grávida e ficou apavorada, afinal só tinha 18 anos. E quando contou a novidade para seu pai ele simplesmente pulou fora e voltou rapidinho para o seu país. Já a mãe de Olívia foi buscada na Inglaterra pelos avós de Ana e nunca mais teve notícias daquele rapaz. Ana sempre imaginou as piores coisas do pai e nunca quis conhecê-lo. Mas vendo aquela mensagem bem na sua frente, ela sabia que não teria outra oportunidade dessas, além disso, sabia que não se tratava de um maluco qualquer. Não foi a foto nem a mensagem que a induziram a responder, mas o seu nome: Andrej (pronuncia-se Andrei) Markov.

Na suíte presidencial do Hotel Ouro Minas lá estava Ana e o homem que dizia ser o seu pai. Ela imaginava que não deveria ter ido até lá, apesar de já ter procurado pelo nome dele no Google e esclarecido quem era Andrej, mas ter sido negligenciada por vinte anos machucou Ana, no entanto, sua curiosidade foi maior que sua indignação. 

Falando em inglês, Andrej Markov explicou à Ana que não sabia de sua existência, que sua mãe terminara com ele e sumira do país. Ele só encontrara Ana por pura coincidência, enquanto estava no Brasil e assistia a um programa de culinária onde a convidada era Olívia, dona de um buffet, que respondera a algumas perguntas sobre sua vida íntima, incluindo sua filha de vinte anos. 

Andrej queria falar com Olívia e Ana também. Precisava ouvir urgentemente o outro lado da história. Quando os três se encontraram no escritório da empresa da mãe de Ana, ela só ficou afastada, assistindo ao diálogo dos dois como espectadora de um dramalhão mexicano. 

No final, o que afastara sua mãe de Andrej e a fizera fugir sem lhe avisar sobre a gravidez fora o fato de Andrej ser um rei (na época um príncipe) e uma filha ilegítima não se encaixaria nos planos dos pais para ele. Olívia apenas não sabia que a família real da Krósvia levava outro tipo de vida e sua gravidez, apesar de ambos serem muito jovens, nunca seria recebida com desprezo. 

Ana sabia que sua mãe fora covarde, mas ao mesmo tempo entendia o medo que ela sentira. Não fugiu e nem tentou gritar com a mãe, já estava bem grandinha e sabia que ter ficado sem pai por vinte anos não importava, pois sempre tivera sua mãe ao seu lado. 

Seu pai queria que Ana passasse um tempo na Krósvia, afinal, se não fosse pelo grande mal-entendido, ela teria vivido no país a vida inteira. A Krósvia também era o seu lugar e Ana poderia trancar a matrícula por um semestre e passar seis meses no país para conhecê-lo. Seria uma experiência, seu pai não estava pedindo para que Ana assumisse o trono e governasse o país junto com ele (apesar de Andrej ter se casado, sua mulher havia morrido há dois anos de câncer e os dois não tiveram filhos. Elena era jovem, tinha 45 anos e quando se casaram ela já tinha um filho, Alexander, mas não podia mais ter filhos, pois tivera que retirar o útero. Alex foi criado como filho de Andrej, mas ele não é sucessor do trono, pois a legislação da Krósvia não permite isso para filhos adotivos (Alex não foi adotado no papel, pois conhecera o pai biológico e gostava muito dele). E Andrej só tem uma irmã, Marieva, casada e com filhos pequenos, que não são herdeiros do trono).

Uma parte de Ana queria muito ir para a Krósvia, mas haviam muitos fatores a considerar: sua mãe, seus avós, seus amigos e Artur. Ela também estava preocupada em descobrir como lidaria com tudo aquilo... 

"- É que não estou preparada para mudar minha vida assim - disse, enrolando uma mecha de cabelo entre os dedos. - Hoje estou aqui, sentada com você, tomando um suco de manga de caixinha, completamente anônima e dona do meu nariz. Se amanhã eu for para a Krósvia, não vou ter controle de mais nada. Vou ser vigiada e controlada o tempo todo, coisa que nunca fui, nem mesmo pela minha mãe, você sabe". (p. 16)

Sua melhor amiga, Estela, estava vibrando por saber que a amiga era uma princesa. Já imaginava Ana como uma celebridade e ganhando roupas e sapatos de grife. 

"- Não seja dramática. Você tem que ir porque é a outra metade da sua história. Ser mineira, de BH, estudante de Direito e apaixonada pelo abestalhado do Artur é fácil. Você tira de letra. Só que você não é só isso e precisa descobrir como é ser do outro jeito, mesmo que depois prefira a forma antiga". (p. 17)

Sua avó foi enfática, Ana estava sendo ridícula. Devia passar um tempo com o pai e se ele era rei, isso era apenas um detalhe. E foi assim com todo mundo, até sua mãe foi a favor, acreditava que os sentimentos de Andrej eram verdadeiros e que ele queria que Ana conhecesse e fizesse parte do seu mundo. 

Artur disse que ficaria triste mas que Ana não deveria fugir da sua história, eles poderiam esperar e quando ela voltasse eles conversariam sobre seus sentimentos. 

A festa surpresa de despedida emocionou Ana, lá estavam sua mãe, seus avós, tios e primos, Estela, Artur e até mesmo seu pai. Ana chorou a festa inteira, sabendo que aquelas pessoas a amavam e sentiriam sua falta. Ela relutava em se despedir das pessoas e sentia uma terrível solidão dentro de si. 

Sentada há 13 horas na confortável poltrona do avião da família real de Krósvia, Ana não sabia o que a esperava lá embaixo. Seu pai queria que ela se sentisse à vontade e disse que haveria um momento em que deveria apresentar sua filha ao país, mas primeiro queria que Ana conhecesse o local. Para sua sorte, Andrej comentou que ela não teria problemas em se comunicar, já que em Krósvia a maioria das pessoas também falava inglês. 

O tempo estava agradável, era final de outono na Europa e ao sair do aeroporto e pegar a avenida que levava ao centro da capital, Ana percebeu que a natureza era encantadora. Perla era repleta de flores, de todas as cores e tamanhos, ornamentando praças, canteiros, jardins e janelas. Ao chegar ao Palácio Sorvinski, ficou impressionada. Havia uma fonte em frente do palácio que ficava dentro de um imenso lago cristalino, com mais de vinte jatos de água que se alternavam em jorros dançantes. Enquanto se aproximavam mais do palácio, a paisagem urbana deu lugar a um cenário bucólico, quase paradisíaco, à beira do oceano. 

Andrej apresentou Irina, uma mulher simpática e espontânea que iria ajudá-la em sua ambientação, seria como uma companhia, assessora, secretária.

"A escaria do castelo da frente do castelo era um prenúncio do que viria a seguir. De alguma forma, ela me pareceu meio familiar. Acho que me lembrou a mansão do Sr. Darcy no filme Orgulho e Preconceito. Os degraus eram de mármore, ladeados por um guarda-corpo em colunas. Tudo muito antigo. Ao passar pelo portal de entrada; tão enorme e pesado, com o brasão da família Markov esculpido no centro, dei de cara com um salão gigantesco, mobiliado ao estilo do século XVIII. Longas e pesadas cortinas de veludo cobriam as janelas; havia várias poltronas escuras, parecidas com as dos filmes e novelas de época; tapetes - será que da Pérsia? - forravam o chão de mármore branco e polido. U-au! E o luste? Nunca tinha visto um assim: do teto, pendia uma escultura de cristal formada por uma infinidade de gotas cristalinas. A peça devia ter o tamanho de um Fusca. Sem brincadeira". (p. 30)

Entrando na sua suíte, Ana calculou que o quarto deveria ter o tamanho de seu quarto em BH, mais o quarto de sua mãe e a sala de televisão. Ela não precisava de tudo aquilo, mas não podia negar que era lindo. A cama era gigantesca e havia uma lareira, com duas poltronas em frente. O closet era enorme, maior que o seu quarto no Brasil. 

Exausta, Ana entrou na banheira e dormiu na cama gigantesca. Acordou e por uns instantes pensou estar sonhando ou em um universo paralelo. Lembrou-se que estava perdida, o palácio era enorme, cheio de portas e corredores e não havia prestado atenção o suficiente para decorar o caminho. O jeito era arriscar. Ana saiu às cegas pelo castelo, abrindo portas, entrando em cômodos estranhos e não encontrando ninguém. Já era noite e encontrou uma porta dupla com o brasão da família real, entrou e encontrou um lugar incrível: Ana estava na maior e mais recheada biblioteca particular que havia visto! Louca por livros, imaginou as horas que passaria ali. Apenas não esperava encontrar um belíssimo rapaz por lá, mas com uma atitude um tanto irritante. Ele levou Ana até Andrej e os dois foram apresentados: tratava-se de Alexander, enteado do rei, que na hora do jantar lançava olhares provocativos para Ana e comentários sarcásticos. 

Nos dias seguintes Ana comunicava-se com sua família e amigos por e-mail e era levada por Irina de um lado para o outro, de forma clandestina. Mesmo que Andrej não houvesse divulgado oficialmente sua existência, ainda temia por sua segurança. Ana deslumbrava-se com a beleza de Perla e Irina resolveu ir às compras com Ana que, apesar da relutância, aceitou o cartão que seu pai lhe deu: "use sem moderação"

O guarda-roupa estava reestruturado, as unhas feitas e o cabelo limpo e brilhante: Ana estava pronta para encarar essa vida diferente e mágica. Já ficara amiga de Karenina, a principal cozinheira do castelo, e sempre passava pela cozinha antes de se entocar na biblioteca. Mas naquele dia seria diferente, lá estava Alex na cozinha, cheio de indiretas para cima de Ana e com um olhar inquisidor. Ainda bem que ele tinha o seu próprio apartamento e não morava no castelo. 

"- Sabe de uma coisa? - perguntou ele, enquanto terminava de engolir um pedaço de pão. - Embora eu não acredite muito nessa história de filha perdida no mundo, até que você parece com o Andrej. Nem precisa fazer exame de DNA, eu acho". (p. 51)

Ana só não esperava que Alex se ofereceria para acompanhá-la nos passeios pela cidade. O enteado de Andrej convenceu-o de que Irina deveria cuidar dos preparativos para o evento de apresentação de Ana enquanto ele poderia ajudá-la a se ambientar e conhecer os costumes de Krósvia. 

"- Venho te pegar às oito. - Então recuou um passo e me olhou dos pés à cabeça, lentamente. - Vista algo confortável. Nem pense em colocar as lingeries novinhas da sua orgia consumista de hoje". (p. 57)

O primeiro passeio com Alex foi divertido, pelo menos não no começo, mas parecia que suas defesas contra Ana haviam desaparecido, até o momento que seu tom ácido voltou. 

Ana fazia um balanço da sua vida, afinal, tanta coisa tinha mudado! Apesar disso, ela ainda se sentia a mesma. Agora ela tinha um pai e mesmo ele sendo um doce e querendo o melhor para ela, acabava sendo muito ausente. A saudade que sentia da sua mãe acabou fortalecendo o laço entre as duas, falavam-se por telefone, MSN ou qualquer outro meio. Ana também conversava com Estela, mas quando tocava no nome de Artur, a amiga desconversava. Artur raramente procurava por Ana e quando isso acontecia o rapaz esquivava-se de assuntos mais íntimos. Ana ainda se considerava apaixonada por ele, apesar de nunca terem formado um casal. 

Ana acaba descobrindo que Alex tem namorada: Laika, filha de um antigo adversário político de Andrej, agora senador e muito influente no Congresso. Ela cursara Administração na Inglaterra e trabalhava na empresa da família, uma fábrica de peças de avião. Os dois estavam juntos há dois anos e segundo as fofocas, Laika estava louca para enfiar uma argola dourada no dedo anelar da mão esquerda. 

"Mas agora já era. Eu não me permitiria nem mais um pensamento censurável. Nunca mais olharia para aquela tatuagem impressa naquele tríceps modelado. Nem sequer andaria na garupa da BMW sei lá das quantas. Ou melhor, poderia até andar, mas seguraria na própria moto. Nada de agarrar a cintura cheia de músculos de Alexander. Também nunca mais queria ouvir Lady Gaga cantando "Alejandro". Sim, porque eu nunca tinha admitido em voz alta, mas toda vez que escutava essa música... bom, digamos que os nomes - Alejandro e Alexander - não sofrem grandes alterações fonéticas. Oh, céus!". (p. 78)

A apresentação de Ana à população da Krósvia como filha do rei já tinha data marcada e Ana ficou felicíssima em poder convidar sua mãe, sua avó e sua melhor amiga para esse dia tão especial. Mas nos próximos dias Ana caiu em uma rotina, uma rotina boa. Alex vinha buscá-la e os dois iam à Perla ou à uma cidadezinha rural perto da capital. Às vezes, Alex chegava com um humor obscuro e Ana ficava na sua, deixando a poeira baixar, outras vezes ele chegava todo alegre e deixando o clima agradável. Mas nunca mencionava Laika, ou como Ana a chamava, Nome de Cachorro. 

"- Não, Alexander.
Hein? Fiquei olhando para ele com a maior cara de boba, porque eu realmente não tinha entendido nada. Então, Alex esclareceu:
- Diga meu nome de novo.
Então era isso. Mas o que isso representava, afinal? Um caso esquisito de narcisismo, ou seja, um amor enorme pelo próprio nome que o fazia querer ouvi-lo pronunciado pelas pessoas?". (p. 95)

Um mês longe de Artur fez Ana perceber que a paixão dos dois não era tão grande assim, fazia dias que ela não pensava nele e havia outros motivos, como ele nunca fazer contato com ela ou ser evasivo nas poucas conversas que tinham. Mas nada disso tinha a ver com Alex, de jeito nenhum! 

Ana finalmente conheceu Laika, linda e maravilhosa mas extremamente chata e fútil. Ninguém no castelo parecia gostar da Nome de Cachorro e ela logo deixou claro que Ana deveria ficar longe de Alex ou ela iria se arrepender profundamente. 

O dia da apresentação havia chegado e seria bem diferente do que Ana pensara: primeiro seu pai iria reunir a imprensa e fazer o comunicado oficial, em seguida chamaria Ana. Nesse momento, a população estaria reunida em frente ao Palácio de Perla e Ana iria surgir na sacada principal. Depois, Ana, Andrej e Alex iriam sair em uma volta em carro aberto pelas ruas de Perla. 

"Assim que me olhei no espelho de corpo inteiro de meu closet e constatei que não faltava mais nada, suspirei. A sorte estava lançada. Em poucos minutos, eu deixaria de ser simplesmente Ana Carina Bernardes para me tornar algo próximo a uma celebridade". (p. 118)

Não haveria coroação, pelo menos não agora. Príncipes e princesas não precisavam ser coroados para serem reconhecidos como herdeiros do trono, mas no caso de Ana, Andrej fazia questão disso... desde que sua filha decidisse viver em Krósvia para sempre. 

Ana sentia falta do anonimato, jornalistas com câmeras e curiosos de plantão não desgrudavam da entrada do Palácio Sorvinski, a guarda do castelo teve que ser reforçada e Ana foi terminantemente proibida de sair desacompanhada, ou seja, dois guarda-costas sempre deveriam estar com ela. 

"Quando chegasse a hora de voltar para Belo Horizonte, uma parte de meu coração ficaria para trás. Digo isso sem querer ser piegas nem sentimental demais. O fato é que me apeguei às pessoas. Karenina, Irina, tia Marieva, meus primos, as meninas do orfanato - de quem eu queria cuidar, proteger, dar carinho -, meu pai... E era melhor eu nem colocar Alexander nesse grupo, se não aí é que a coisa ficaria feia mesmo". (p. 175)

Simplesmente Ana, de Marina Carvalho, é um romance divertido e leve, gostoso de se ler e com personagens carismáticos, que fazem o leitor rir e se emocionar. A narrativa em primeira pessoa tem toda a carga de uma voz jovem e de uma pessoa que está se descobrindo e passando por um momento de novidades e novas experiências. O leitor sente que a personagem está "falando" diretamente com ele, em um bate-papo informal, o que torna a leitura muito prazerosa e faz com que as páginas voem. Ana é uma jovem que está dividida: é Ana Bernardes ou Ana Markov? E como conciliar essas duas pessoas sem abdicar da sua essência? 

Simplesmente Ana tem príncipes, reis, princesas, castelos e até mesmo bruxas. É um conto de fadas que se passa nos dias atuais e faz o leitor sonhar com suas descrições mágicas e uma história romântica. E a capa? É linda!

Entrevista com Gail Carriger, autora de Alma?

Confiram a entrevista com Gail Carriger, autora de Alma? (resenha aqui) com perguntas realizadas pelos blogs amigos da Editora Valentina. (:


PERGUNTAS DOS BLOGS AMIGOS

  • Irene Moreira, do blog Saleta de Leitura (http://www.saletadeleitura.blogspot.com.br/) 
- A sombrinha da Alexia Tarabotti além de ser bem especial e diferente é a sua marca registrada e que deu o nome à série. Pode nos dizer por que escolheu a sombrinha? 

Gail Carriger: As sombrinhas, além de fazerem parte do cotidiano das jovens elegantes da época vitoriana, são uma ótima arma, sobretudo quando se tem vontade de dar uma sombrinhada na cabeça de alguém. Além disso, "sombrinha" é uma palavra muito agradável. 

- No império Britânico os sobrenaturais conviviam em harmonia com os humanos em virtude de regras impostas evitando com isso o ataque e de se alimentarem de humanos. Já para o americano queimava vivo qualquer um que fosse acusado de sobrenatural. O que a levou a colocar os americanos como inimigos em potencial dos britânicos em relação aos sobrenaturais? 

GC: Quis deixar um possível conflito no ar para os livros seguintes. 

- O mordomo Floote e o Lorde Akeldama são personagens que nos cativaram durante a história. Seus nomes são bem diferentes e sugestivos. Pode nos explicar em que se inspirou para batizá-los com esses nomes? 

GC: Só em pouquíssimas ocasiões o personagem escolhe o próprio nome (Alexia sempre seria Alexia). Na maioria das vezes, os nomes que uso são cookies, ou seja, uma recompensa para o leitor cuidadoso. O nome pode passar aos leitores informações sobre o personagem, sua origem, sua identidade real e seu verdadeiro objetivo ou se relacionar a um aspecto histórico (Tarabotti) ou ainda dar alguma pista ou prognóstico ao seu respeito (Akeldama). Como adoro nomes, brinco com eles, quando possível. Um dia eu gostaria de escrever a história de Alessandro e Floote, mas ainda vai demorar um pouco. 

  • Aline Polito, do blog Memoirs and Books (http://memoirsandbooks.blogspot.com) 
- Você já conhecia ou já trabalhou com o Steampunk antes da série Protetorado da Sombrinha? Utilizou alguma fonte inspiradora para isso? 

GC: Comecei a ter contato com o steampunk como movimento estético. Há muito tempo sou fã de roupas de época e do estilo gótico, e o steampunk me atraiu por mesclar ambos de um jeito divertido. Também adoro ver tecnologias antigas serem recicladas e transformadas em jóias, e adoro observar os incontáveis exemplos da incrível criatividade das pessoas nos últimos anos. 

  • Camila Palmeira, do blog Daily of books (http://dailyofbooks.blogspot.com.br/) 
- Em que você se inspirou para construir uma personagem tão autêntica quanto a Alexia? 

GC: Alexia é uma solteirona que lida com diversas questões constrangedoras: é filha de italiano (e, ainda por cima, parece ser italiana), lê demais, é desalmada, matou sem querer um vampiro e anda sendo incomodada por um lobisomem grandalhão. Costuma lidar com esses probleminhas dando sombrinhadas nessas criaturas ou conversando com elas, ambas atitudes com resultados desastrosos. Ah, e sua melhor amiga adora usar uns chapéus super espalhafatosos. 

  • Bianca Carvalho, do blog Amor, Mistério e Sangue (http://www.amormisterioesangue.com) 
- Quais são suas maiores influências literárias? Há algo de Jane Austen e/ou Agatha Christie nelas? Estou sentindo esse clima ao ler seu livro. 

GC: Minhas maiores influências literárias costumam vir de autores como Charles Dickens, Elisabeth Gaskell e P.G. Wodehouse. Também busco inspiração nos deuses do steampunk e da urban fantasy, tais como Jules Verne ou Horace Walpole e, então, recorro à comédia e à narrativa burlesca para lidar com os arquétipos inerentes a cada estilo. 

  • Gabrielle Alves, do blog Livros e Citações (http://www.livrosecitacoes.com) 
– Saindo um pouco de O Protetorado da Sombrinha, no início do ano saiu o primeiro volume da saga spin-off, Finishing School, protagonizado por uma garota de quatorze anos. Como será essa nova etapa? Afinal, envolve uma garota de quatorze anos. O humor negro continua? 

GC: Todos os meus livros têm aspectos cômicos. Esse lado engraçado é fundamental para mim, como escritora. Até coloquei um bilhetinho na lateral do computador com a frase: "Gail, use o seu senso de humor!" Acho muito melhor fazer as pessoas rirem que chorarem. Quero que os leitores dos meus livros se sintam felizes ― a realidade já é deprimente demais, sem a minha ajuda. Ademais, eu tinha me dado conta de três fatores desconcertantes antes de escrever Alma?: dos contos que escrevi, os únicos que vendiam eram os que tinham aspectos cômicos; tanto o steampunk quanto a urban fantasy costumam ser bastante sombrios; a maioria dos meus autores favoritos era engraçada (PG Wodehouse, Douglas Adams, Terry Pratchett, Jasper Fforde). Achei que estava na hora de dar uma remexida nos gêneros e escrever um livro que incluísse um pouco de tudo do que eu mais gostava: uma heroína de personalidade forte, steampunk, urban fantasy E comédia. 

- Todos os steampunks que li envolviam personagens na faixa etária de quinze anos, então por que uma mocinha mais velha, não seria mais fácil uma nos padrões convencionais? 

GC: Pelo que li até agora, não creio que seja esse o caso. Então, não tenho como responder a essa pergunta, uma vez que foi feita uma generalização que não corresponde à minha experiência.

- Os direitos de adaptação da saga foram comprados pela Parallel Films há quase um ano. Como você mesma havia dito, é difícil uma adaptação dos livros pelo orçamento sair caro. Houve algum retorno desde que o anuncio foi feito? E, hipoteticamente falando, se a adaptação saísse, qual seria seu cast dos sonhos? 

GC: Não tenho notícias recentes a respeito da adaptação para o filme. Dê uma olhada em: http://gailcarriger.livejournal.com/208802.html. Fiz um post com o elenco dos meus sonhos para um filme, aqui: http://mybookthemovie.blogspot.com/2009/09/gail-carrigers-soulless.html


PERGUNTA DA EDITORA VALENTINA

– Lorde Akeldama é um vampiro com interesses bastante peculiares, alguns que não eram aceitos até bem pouco tempo atrás. Você recebeu alguma crítica negativa devido a esse personagem em particular? 

GC: Lorde Akeldama é um dos meus personagens mais populares. Eu o adoro porque me divirto muitíssimo quando escrevo sobre ele ― aquele seu jeitinho peculiar que requer o uso de itálicos. Só mesmo lendo-o dá para entender por quê.


Não deixem de conferir também o novo site da Editora Valentina, está lindo!

Proibida



Título: Proibida 
Autor: Velvet

Editora: Novo Século
Páginas: 228
ISBN: 9788576798828

Ariel Renée Vaughn percorreu um longo caminho desde sua infância, onde vivia em uma casa apertada com outras cinco crianças órfãs, todas abrigadas em um lar temporário, já que sua mãe havia entregado-a para a adoção depois do parto, mas a garota nunca fora adotada. Ariel passou sua infância mudando de casa, sempre em lares temporários, até ir parar na casa da sra. Grant, uma viúva com grande coração, que encorajou a garota a estudar muito e obter boas notas, pois só assim conseguiria ser aceita em uma boa faculdade e conseguiria um bom emprego. Foi o que Ariel fez, e com a bolsa de estudos que conseguiu na Columbia University estudou Direito, sendo recrutada pela Yales Gilcrest meses antes da sua formatura. Agora Ariel era uma das três mulheres associadas à Yates Gilcrest, uma das líderes entre as firmas de advocacia de Nova York, com escritórios em cada grande cidade do mundo. Com um gordo salário, um apartamento luxuoso e um dos juízes mais poderosos da cidade como amante, Ariel sentia-se inquieta, como se algo faltasse na sua vida, mas não sabia dizer o quê.

Ariel e Preston Hendricks estavam juntos há anos e mantinham um relacionamento sério, mas há muito tempo as coisas haviam esfriado. Preston era como um sapato velho: confortável. Os dois tinham estabilidade financeira e respeito na comunidade legal, além disso, formavam o tipo de casal perfeito para as fotos. Hendricks logo tentaria a sorte na carreira política e Ariel estaria ao seu lado rumo a Washington. 

Como havia completado trinta anos há alguns anos, sua mãe a pressionava para se casar com Preston e ter uma família. A sra. Grant sabia o quanto isso era importante para Ariel: estabilizar-se e ter uma família, um homem com quem contar e ser a mãe que sua mãe biológica não foi.

Apesar de quinze anos mais velho, no início do relacionamento Preston tinha um apetite sexual por Ariel insaciável. Ele, divorciado e com a vida amorosa estagnada e Ariel, jovem, com um corpo exuberante e cheio de curvas, formavam uma dupla explosiva. Mas com o passar do tempo o foco de Preston se transferiu dos desejos sexuais para os objetivos políticos.

Além da vida sexual que havia esfriado, Preston nunca estava disponível para sair com Ariel. Em em evento beneficente que ocorreria logo, Ariel recusava-se a comparecer sem um acompanhante e logo ligou para sua melhor amiga, Meri Renick, viúva e sem filhos para sustentar, gastara milhares de dólares até recuperar seu rosto de trinta anos de idade e um corpo adequado às feições. Podia-se ver Meri frequentemente em um restaurante elegante jantando com um ou dois bonitões, ou caminhando pela Madison Avenue com um acompanhante de cada lado.

As duas se conheciam há dez anos e Ariel ainda se espantava com a liberdade com que Meri contava os detalhes de suas experiências sexuais. Com quase cinquenta anos, ela fazia mais sexo que muitas mulheres de vinte. O conselho de Meri para a falta de companhia de Ariel era simples: utilizar o serviço de acompanhantes que a própria Meri usava.

"- Acredite em mim, você não vai ser a única mulher na sala com um acompanhante de aluguel. Na verdade, vou levar um dos meus antigos. E como sempre, vou criar uma persona impressionante para ele, e ninguém vai perceber nada. Sugiro que faça o mesmo". (p. 19)

Quando Ariel estava prestes a se encontrar com o tal acompanhante, sentia-se extremamente nervosa. Nunca havia saído nem mesmo em um encontro às cegas e ir encontrar um desconhecido para uma noite na cidade era praticamente incompreensível para ela. Quase pensou em desistir quando o carro parou e Ariel se deparou com o homem mais atraente que já vira.

"Devia ter um metro e noventa e cinco de altura, era marrom como chocolate, tinha a cabeça raspada e um cavanhaque desenhado que emoldurava os traços esculpidos perfeitamente. Mesmo através do smoking feito sob medida, Ariel conseguia ver que ele era forte, com músculos definidos e ombros largos como os de um zagueiro". (p. 23)

Mason Anthony, o acompanhante, seria apresentado como um amigo da família que está na cidade para participar de uma conferência médica. Uma ótima escolha, disse Mason, que cursava o terceiro ano de Medicina na Columbia e trabalhava como acompanhante para poder pagar a faculdade, o que deixou Ariel em dúvida.

A noite transcorreu maravilhosamente bem e ninguém havia suspeitado da verdade. Quando Mason foi embora, entregou para Ariel um cartão de papel preto e brilhante com o desenho de uma porta e mais nada, do outro lado do cartão via-se um número de telefone gravado em letras vermelhas.

Meri queria saber de todos os detalhes sobre o encontro com o acompanhante, mas Ariel deixou-a frustrada, dizendo que não aconteceu nada além do combinado. Mas mostrou-lhe o cartão que Mason lhe entregou.

"Ao ver o cartão preto e brilhante, Meri não conteve um sorriso luminoso. 
- Ah, sim, a Black Door. 
Ariel observava a expressão de Meri, e agora estava mais curiosa que nunca.
- O que é a Black Door?
- A pergunta deveria ser, "o que não é a Black Door" - Meri respondeu, levantando uma sobrancelha perfeitamente arqueada". (p. 42)

Meri explicou para Ariel que a Black Door tratava-se de uma boate destinada para o público feminino. Só para associadas e nem todas as mulheres eram aceitas, deveriam ser indicadas. Eles investigavam seu passado para ter certeza de que não era uma policial disfarçada, depois submetiam cada membro a um exame de sangue para garantir que todas são saudáveis. Todas as sócias eram livres para ousar e usavam uma máscara personalizada para garantir o anonimato.

"- Guarde em lugar seguro para o caso de uma emergência sexual.
Ariel deixou o cartão sobre a mesa.
- Não preciso disso. Preston volta hoje à noite para atender às minhas emergências - Ariel anunciou orgulhosa. Nunca o traíra durante o longo relacionamento e não pretendia começar agora". (p. 44)

Ariel estava animada com a volta de Preston e caprichou na produção e no jantar, mas mesmo com tudo planejado Preston não tardou em devorar o jantar (sem dar tempo de Ariel preparar a mesa), deitar no sofá e começar a roncar.

Para se redimir por ter dormido no sofá Preston convidou Ariel para passar o fim de semana em Washington. Ele ligara dizendo que queria compensá-la com um fim de semana cheio de jantares à luz de velas e muito sexo. Ariel queria desesperadamente reviver a estagnada vida amorosa do casal e planejava tirar proveito máximo daquelas quarenta e oito horas em que estariam juntos.

Quando a limusine preta de Preston chegou ao prédio de Ariel e ela desceu toda contente, deparou-se com um Preston irritado que mal olhava para ela, reclamando do seu atraso e com uma jovem e atraente desconhecida no banco de trás. Preston apresentou a mulher: Michele Richards, sua nova assistente, contratada para ajudá-lo em sua iminente indicação à Suprema Corte.

Ariel pensou que Michele os acompanharia apenas até o aeroporto, mas quando o motorista passou direto pela saída do aeroporto Ariel perguntou à Preston o que estava acontecendo: eles iriam de carro, pois Michele achou que poderiam trabalhar mais no carro.

Quando chegaram no hotel, Michele se instalou em um quarto no mesmo andar e Ariel pensou que poderia ter, finalmente, algum momento a sós com Preston, mas o juiz estava muito ocupado enviando documentos importantes por fax para o governador, além disso, avisou Ariel que teria de se preparar para as reuniões que Michele marcou para o fim de semana. Apesar de ter prometido um final de semana romântico, e de início era mesmo, pois só tinha uma reunião com o senador, Michele conseguira programar vários almoços.

Mesmo se desculpando, Ariel ficou furiosa e se sentia um estorvo. Resolveu voltar para Nova York, odiava se sentir negligenciada, era a mesma sensação que tinha quando a mãe de criação passava mais tempo com uma nova criança que havia entrado na família, em vez de ficar com ela. Parte de Ariel, aquela parte madura e profissional, entendia a ambição de Preston, mas a outra parte, a criança insegura que nunca a abandonara, queria a atenção integral do amado.

Logo quando chegou em seu apartamento o telefone estava tocando, torcia que fosse Preston, pedindo desculpas, mas era Meri. A amiga percebeu que Ariel estava desanimada e ela contou tudo sobre o final de semana fracassado e sobre como Preston não tinha mais tempo para ela. Meri sabia o que a amiga deveria fazer: associar-se à Black Door. Mas Ariel não queria trair Preston, apesar de toda sua frustração sexual. Então Meri lhe aconselhou a só visitar o local e dar uma olhada nos colírios, afinal Preston parecia estar banqueteando os olhos com a nova assistente. Mas passar por todo aquele processo de triagem, especialmente com Preston tentando chegar à Suprema Corte... seria muito arriscado. Por isso Meri teve a idéia de lhe emprestar a sua própria máscara.

"Ariel relutava um pouco, mas a tensão sexual acumulada realmente era grande, grande demais para recusar a oferta generosa da amiga. Ver uma sala cheia de homens sexy era, provavelmente, tudo de que precisava para reduzir seu fogo até Preston voltar a prestar atenção nela". (p. 69)

Ariel não conseguia acreditar na tensão sexual que pairava no ar, todos ali pareciam estar tocando alguém, menos ela. Mesmo não sendo uma puritana, seus padrões não podiam ser comparados aos da Black Door. Ariel esperava encontrar um local completamente diferente daquele, uma decoração moderna mas ao mesmo tempo decadente, no lugar disso, deparou-se com sofás de estofamento escarlate e seda dourada, com uma variedade de almofadas decorativas espalhadas pelo ambiente. Do teto pendia um lustre de cristal de seis camadas com suaves lâmpadas ocres, no centro do salão havia uma fonte ornamentada que jorrava uma vodca bastante gelada, em torno dela várias mulheres mascaradas e vestidas com pouquíssimas roupas interagiam com alguns homens, os chamados servidores.

O segundo andar era bem mais escuro, iluminado pelo azul índigo. O som era de um jazz hipnótico e o carpete grosso abafava o barulho dos saltos. Uma grande janela panorâmica recortada em uma parede interna mostrava do outro lado uma cama king size e um trio: tratava-se de um espelho unilateral, quem estava de fora podia ver o espetáculo, quem estava do lado de dentro não via ninguém, aquela era a Sala do Voyeurismo.

Ariel estava passando por uma sobrecarga sensorial, insinuações sexuais estavam em todos os lugares para onde olhava. Quando estava prestes a ir embora e descia os estreitos degraus, um homem usando uma máscara de couro preto com ônix brilhante adornando as têmporas se aproximou. Havia algo de diferente nele, Ariel logo notou. Sua atitude era discreta e ele se movia em silêncio e com determinação. Seu traje diferia muito dos outros homens: ele vestia uma calça jeans preta e uma camiseta branca, enquanto os outros se exibiam em shorts e fio dental, com o peito nu.

"- Talvez eu o encontre novamente na próxima vez. - Agora o que sabia que a Black Door tinha a oferecer, sabia sem nenhuma dúvida que voltaria como participante ativa, não como uma frígida espectadora". (p. 77)

A sra. Grant liga mais uma vez dizendo para filha que quer vê-la casada antes de deixar este mundo, o que deixa Ariel se sentido extremamente culpada. Ela realmente queria ter uma família, a família que nunca teve e sabia que Preston era um dos caras bons. Precisava sentir seus braços em volta dela antes que voltasse à Black Door e fizesse algo pelo qual se arrependeria.

Ariel queria se desculpar com Preston por ter ido embora tão repentinamente de Washington e foi até sua casa, mas quem a recebeu foi um Preston irritado e uma Michele com roupas claramente elaboradas para seduzir. Ariel estava paranoica, atribuindo o fato da recente perda de interesse sexual de Preston à sua nova assistente.

Ariel sabia que voltaria à Black Door, mesmo que fosse para experimentar a energia que havia sentido com o servidor da máscara preta. Ela precisava de uma boa dose de autoestima e ele serviria perfeitamente para isso.

"Ariel se levantou para encarar o sedutor. Seus joelhos se dobraram quando ela viu a máscara de couro preto e ônix. Nenhum dos dois disse nada, apenas ficaram ali parados, olhando nos olhos um do outro pelas frestas das máscaras. Era como se, em transe, pudessem ler a mente um do outro. Ela não sabia quem era esse homem, mas, quem quer que fosse, ele não tinha apenas o seu corpo, mas capturava também sua mente com o olhar intenso." (p. 103)

Enquanto isso, o homem da máscara preta revia em pensamento os breves momentos em que estivera com a mulher da máscara vermelha, sem saber de que se tratava de Ariel. Ele não conhecia essa mulher, mas apenas a sua lembrança acelerava sua respiração. De alguma forma ela tocara seus sentidos.

Preston recebeu uma ligação do senador e ele lhe dizia que não existia nenhuma dificuldade em garantir sua nomeação, mas Preston deveria estar preparado para o Comitê Judiciário que iria analisar não só a sua vida profissional, mas pessoal também, minuciosamente. O senador garantiu que eles querem um candidato completo com uma vida doméstica estável e apesar de estar comprometido com Ariel, não estava casado com ela.

Preston nunca pensara em se casar novamente e embora amasse Ariel, não planejava outro casamento tão cedo, talvez nunca. Seu primeiro casamento não fora feliz mas será que estava disposto a abrir mão de sua liberdade para assegurar a indicação? Talvez o senador tivesse razão: ter como esposa uma advogada de renome fortaleceria suas chances de garantir a indicação. Quanto mais pensava na idéia, Preston tornava-se disposto a se casar novamente, especialmente se ter uma mulher ao seu lado significava apresentar uma imagem mais forte. Mas sabia que havia se afastado de Ariel ultimamente e precisaria persuadi-la de que o pedido de casamento era sincero.

"O relacionamento estava em piores condições do que havia imaginado, e seria necessário mais que um jantar romântico e algumas palavras doces para reconquistar Ariel. Mas não a deixaria dissuadi-lo de sua missão. Ser um juiz da Suprema Corte era seu sonho desde que conseguia se lembrar, e um pequeno problema - ser solteiro - não arruinaria seu projeto tão bem traçado". (p. 111)

Ariel não sabia dizer quem havia substituído o verdadeiro Preston, ele estava mudado, persegui-a para saírem juntos. Saíram e ele pediu desculpas por sua ausência, disse-lhe que ela era a pessoa mais importante em sua vida e a pediu em casamento. Aquilo a pegou de surpresa e Ariel precisava pensar: de um lado pesava a voz de sua mãe de criação, dizendo para ela aceitar, do outro lado pensava no encontro com o sr. Máscara Negra.

Ariel amava Preston, mas ter se relacionado com o homem misterioso na Black Door fez com que ela questionasse se realmente estava pronta para dormir com um homem só o resto da vida. Tantos pensamentos conflitantes passavam por sua cabeça! Mas, por fim, aceitou o pedido.

Infelizmente, na festa de noivado Preston comportou-se como de costume, trancou-se na biblioteca para cuidar de assuntos relacionados a sua indicação e deixou Ariel sozinha em meio aos convidados. Mesmo querendo acreditar que as coisas seriam diferentes, sabia que sempre seria um apêndice.

"- O que aconteceu? - perguntou para si mesmo. - Ah, merda - resmungou ao olhar para baixo e ver a máscara caída no chão. - Acho que ela não gostou da minha cara". (p. 169)

Ariel agora sabia da identidade do homem da máscara de couro preta com ônix e agarrava-se a um fio de esperança: sua máscara havia permanecido no lugar. Restava apenas uma dúvida: por quanto tempo conseguiria guardar esse segredo?

Proibida, de Velvet, é o primeiro volume da série The Black Door e é o primeiro livro realmente erótico que leio. Apesar de já ter lido os quatro volumes da série Irmãos Sullivan, de Bella Andre, considero-os bem light e mais românticos. Proibida é um livro cheio de luxúria e sedução, além de mistério e uma dose de suspense. O tipo de livro que arranca suspiros e possui uma narrativa envolvente, que prende o leitor pela história (nem tanto pelos personagens, apesar de Meri ser uma personagem divertida e completamente despudorada).

A autora tenta identificar o passado de Ariel em suas atitudes na vida adulta, mas às vezes isso parece um pouco forçado. Ariel é uma personagem neutra na minha opinião, não dá para odiá-la, ela não é a "mocinha" recatada que de repente se vê em um mundo louco e cheio de prazeres, mas também não dá para amá-la, pois torna-se indecisa muitas vezes e toma algumas atitudes um pouco sem sentido de vez em quando.

O final me deixou de queixo caído, algo que eu realmente não esperava. Gostei da leitura e acredito que a série irá agradar, pois a Black Door é uma caixinha de surpresas.

Já foram lançados quatro livros da série (Proibida é o primeiro aqui no Brasil), mas o segundo livro (Seduction) não é uma sequência, é uma história completamente diferente, com um dos personagens não principais de Proibida aparecendo. O terceiro livro (Betrayal) volta com a história de Ariel e o quarto livro (Naughty) traz outra história bem diferente.