Título: Fantasmas do Século XX
Autor: Joe Hill
Editora: Sextante
Páginas: 288
ISBN: 9788599296295
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Fantasmas do Século XX é uma coletânea com 17 contos e ganhou o Prêmio Bram Stocker, consagrando Joe Hill como um dos novos mestres do horror (tal pai, tal filho? Joe Hill é filho de Stephen King).
Todos os 17 contos são incríveis e foi difícil escolher os meus favoritos. São contos tão diferentes uns dos outros, o que torna o livro mais instigante, pois algumas coletâneas acabam pecando pela repetitividade devido ao tema, mas em Fantasmas do Século XX encontramos as mais diversas vertentes da literatura de terror: sobrenatural, suspense, fantasia...
O livro me deixou empolgada do início ao fim, a narrativa é impecável e confesso que alguns contos me deixaram com um nó na garganta, enquanto outros me perturbaram de uma forma maravilhosamente estranha. Alguns contos nem beiram ao terror, são mais melancólicos e sombrios e outros mais perturbadores, existem contos até mesmo de uma sensibilidade incrível.
O que eu mais gostei na narrativa de Joe Hill foi a sua forma de levar o leitor à completar alguma cena ou interpretar o final de determinado conto sem, no entanto, nos deixar "na mão", sem respostas e com um final "inacabado".
Prestar atenção ao início de cada conto e na trajetória dos personagens (às vezes uma única fala) pode ser o que irá nos levar a compreender o fim do conto. E isso fica bem claro logo no primeiro conto do livro, O Melhor do Novo Horror, onde Eddie Carrol, editor da coleção "O melhor do novo horror norte-americano", recebe um envelope e uma revista. No envelope encontra uma carta do editor da revista pedindo que leia um conto que publicou em sua revista (conto que fez com que 50 pessoas cancelassem suas assinaturas e fizeram o próprio editor ser demitido) e que, se possível, o conto, intitulado "ButtonBoy", possa estar na próxima antologia de "O melhor do novo horror norte-americano".
Eddie fica embasbacado com "ButtonBoy" (não lemos o conto na íntegra, seria um conto dentro de outro, rs), mas temos um resumo de "ButtonBoy": e é uma história brutal, perversa e realmente assustadora. O desfecho o deixa fascinado e é muito difícil algum conto surpreendê-lo ultimamente: a maior parte das histórias de terror não se importavam com nada a não ser com descrições de cenas sangrentas.
Eddie precisa entrar em contato com o autor, o que se torna uma tarefa difícil, mas acaba por encontrá-lo.
"Detestaram uma porção de coisas na minha história, principalmente o final". (p. 28)
"Porque não conseguiram prever o final. Provavelmente foi uma surpresa e tanto para muitas pessoas. Um final chocante está fora de moda nesse tipo de literatura". (p. 28)
"Na literatura de horror, muitas vezes o que confere poder a uma história é justamente aquilo que se deixa de fora". (p. 28)
Eddie, grande conhecedor de histórias de horror, sabia que finais imprevisíveis podiam estar fora de moda, mas definitivamente eram os mais fascinantes. E Eddie está prestes a encontrar o seu final, favorito ou não.
"Sabia o que estava atrás dele. Estivera atrás dele durante toda a sua vida. Sabia onde estava - em uma história prestes a chegar ao fim. Sabia melhor do que ninguém como essas histórias terminam (...)". (p. 31)
O conto Fantasma do Século XX me deixou fascinada e foi um dos que me deixou com um nó na garganta. Uma moça sempre aparece no cinema para conversar sobre um filme com alguém ao lado de sua cadeira. Apesar de manter sempre um sorriso, está triste: morreu antes do final de "O Mágico de Oz". O conto tem um final surpreendente e muito bonito.
Pop Art é um relato de um homem relembrando seus momentos com seu melhor amigo quando tinha 12 anos. Arthur (Art) era inflável e não tinha boca, não podia falar e por isso vivia com seu bloquinho em volta do pescoço preso a um pedaço de barbante e carregava lápis de cera no bolso. Tinha apenas 120 gramas e era feito de plástico e cheio de ar.
"Ele era branco. Não caucasiano, branco, branco feito um marshmallow ou o Gasparzinho. Uma costura descia de sua cabeça pelas laterais do corpo. Debaixo de um dos braços havia uma válvula de plástico por onde ele podia ser enchido de ar". (p.52)
O conto é lindo, com uma narrativa muito sensível e com outro final surpreendente. Amei esse conto.
Vocês Irão Ouvir o canto do Gafanhoto é uma mistura de ficção científica e filmes de monstros. Um garoto acorda um dia e se vê transformado em um gafanhoto. Lembrou de A Metamorfose, de Kafka? Bom, não é bem assim, pois o conto tem uma narrativa "divertida", um bom humor sombrio, muito diferente da narrativa que encontramos em Kafka.
Último Suspiro é incrível: um homem que possui um museu, mas não um museu qualquer, ali, no museu do silêncio, existem diversos jarros fechados aparentemente vazios.
"Não completamente vazios - retrucou Alinger.- Cada vidro está fechado a vácuo, hermeticamente vedado. Cada um deles contém o último suspiro de alguém. Eu tenho a maior coleção de últimos suspiros do mundo, mais de 100. Algumas dessas garrafas contêm a derradeira expiração de gente muito famosa". (p. 180)
Ao lado de cada jarro existe um mortoscópio, fazendo com que seja possível a pessoal "ouvir" o último suspiro, o silêncio particular do morto. No entanto, cada silêncio pode surtir um efeito colateral em quem ouve...
Bobby Conroy Volta dos Mortos está longe de ser um conto de horror, apesar de ser ambientado no set de filmagem de "Despertar dos Mortos", de George Romero. Pareceu-me mais um romance, cheio de figurantes maquiados como zumbis.
É impossível escrever sobre cada conto, cada um é especial e encantador da sua maneira. Para quem tem um pé atrás com histórias de horror mas quer começar a dar uma chance ao gênero, Fantasmas do Século XX é recomendadíssimo!