Hamlet


Título: Hamlet
Título original: The Tragedy of Hamlet, Prince of Denmark
Autor: Shakespeare
Editora: Penguin-Companhia
Páginas: 352
ISBN: 9788582850145

Nunca tive interesse em ler Shakespeare, mas depois de Graça Infinita (Infinit Jest) e dessa palestra aqui do Leandro Karnal eu fiquei bastante interessada pela tragédia de Hamlet, que não só inspirou o título do livro de David Foster Wallace, mas foi reinterpretada pelo autor, trazendo toda uma nova roupagem e frescor para os novos leitores. 

"Alas, poor Yorick! I knew him, Horatio; a fellow of infinite jest, of most excellent fancy; he hath borne me on his back a thousand times; and now, how abhorred in my imagination it is! My gorge rises at it. Here hung those lips that I have kissed I know not how oft. Where be your gibes now? Your gambols? Your songs? Your flashes of merriment, that were wont to set the table on a roar?". (Ato V, Cena 1)

Estudado e virado do avesso tantas e tantas vezes, Hamlet se mantém atual até hoje, especialmente porque é extremamente psicológico e explora temas (corrupção, traição, loucura (fingida e real), vingança, obsessão etc.) tão presentes na vida do homem. 

Um clássico pode parecer assustador, tanto por aquela obrigatoriedade de ter-que-gostar-porque-todo-mundo-gosta, quanto pelo grau de dificuldade que a leitura pode trazer, mas ao deixar de lado qualquer obrigação a leitura poderá ser extremamente prazerosa e proveitosa, além disso, é profundamente gratificante ler um livro que exige mais de você, o que também tornará a leitura de outros livros mais complexos não tão difícil e ainda mais agradável. 

Aliás, essa edição de Hamlet do selo Penguin-Companhia, da Companhia das Letras, traz uma maravilhosa tradução e uma excelente introdução de Lawrence Flores Pereira, além de diversas notas que explicam e esclarecem muitas coisas acerca do texto, fazendo com que o leitor não tenha nenhuma dúvida ao final da leitura da peça, sem contar o ensaio do poeta T.S. Eliot sobre o texto shakesperiano.

Te vendo um cachorro


Título: Te vendo um cachorro
Título original: Te vendo un perro
Autor: Juan Pablo Villalobos
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 248
ISBN: 9788535926316
Comprar: Comparar preços

Não li Festa no covil nem Se vivêssemos em um lugar normal que, com Te vendo um cachorro, formam a trilogia sobre o México de Juan Pablo Villalobos. Sabendo que a leitura fora de ordem não iria interferir em nada e com o crescente interesse que venho nutrindo pelos autores latino-americanos, não pensei nem duas vezes e solicitei o livro a Companhia das Letras, que o lançou mês passado.

A escrita de Juan Pablo Villalobos é fantástica, sua narrativa flui de forma maravilhosa e os personagens criados pelo autor são demasiadamente humanos, tudo isso em conjunto com uma história extremamente rica e densa, mesmo que o romance possua poucas páginas. Aliás, o autor distribui muito bem nas 248 páginas do livro o humor, a literatura, a política, a história, o sarcasmo, a vida adulta e a velhice e o México.

Teo fracassou na pintura, assim como o seu pai, mas dele herdou o temperamento artístico. Agora, aos 78 anos, Teo vive em um prédio tão velho e decrépito quanto os seus habitantes, que se dedicam a atividades organizadas por eles mesmos, como aulas de modelagem em miolo de pão, ginástica aeróbia, ioga, informática e macramê, tudo intercalado com o novo desafio da tertúlia literária: ler os sete tomos de Em busca do tempo perdido, de Proust (edição comemorativa da Aliança Francesa, que reuni os sete volumes em um só: quatro mil duzentas e trinta páginas, capa dura, papel-bíblia, três quilos e meio). A tertúlia, que para Teo está mais para uma seita satânica, é liderada por Francesca, a síndica do prédio, com quem ele mantém uma relação de amor e ódio. 

Mas não só a tertúlia e as atividades irritam Teo, as baratas são uma verdadeira praga naquele edifício e todos os moradores insistem no fato de que Teo está escrevendo um romance, coisa que ele deixa bem clara de não estar fazendo. 

"- Pode-se saber do que estou sendo acusado? De ser escritor? Pois eu me declaro inocente!" (p. 81)

Enquanto Teo passa os dias no boteco bebendo cerveja (e contando quantas cervejas pode tomar de acordo com as economias que lhe restam), na quitanda de Juliette (fornecedora oficial de todas as revoltas com os seus tomates fétidos), importunando os tertulianos, recebendo a visita do jovem mórmon "Güílen" e usando como arma, escudo e amuleto a Teoria estética, de Adorno, o leitor encontra uma narrativa que passeia pelo passado e o presente, conhece um jovem Teo que herdou do tio uma taqueria e, com ela, a técnica de preparar tacos à base de filés caninos, um Teo apaixonado, uma mãe que dedica sua vida aos cães e um garoto que vê neles lucro para o seu negócio. 

O autor passeia pela história e política do México, fala do mexicano, traz arte, literatura, pintura, loucura e esquecimento, situações realmente cômicas que encobrem tragédias. Te vendo um cachorro tem elementos absurdos e poéticos, um livro cheio de sentidos escondidos por trás da ironia de suas páginas e de seu personagem.