A artista do corpo


Don DeLillo apresenta o mundo silencioso de Lauren Hartke, artista que mescla teatro e mímica e toma o corpo como estátua plástica e viva, último reduto de sua alma fragilizada por um luto recente. Lauren, depois da morte do marido, se fecha para o mundo na praia despovoada onde viviam, no casarão alugado de muitos quartos vazios. Ali ela encontra um homem de origem e idade indefinidas, de existência quase irreal, um ser masculino que parece conhecê-la desde sempre. É capaz de imitá-la, e a seu companheiro morto, com perfeição sobrenatural. Na companhia do intruso, Lauren Hartke, a artista do corpo, testa os mistérios da percepção humana e os limites do tempo, "a força que nos diz quem somos". 

Na contramão de suas obras anteriores (retratos surreais e selvagens da vida americana), o autor nascido em 1936 no Bronx, apresenta uma obra com uma narrativa curta que nos faz meditar sobre a natureza do tempo e da percepção humana. Escrito de forma poética, é um texto delicado e que ao mesmo tempo nos desestabiliza. 

No primeiro capítulo (o mais longo), podemos observar Lauren e o seu marido Rey Robles, cineasta independente, em uma encenação de repetições e rotinas que rege a relação dos dois em um simples café da manhã. 

Com a morte de Rey e da entrada do estranho ser no casarão, a história passa para um campo quase metafísico. 

O que é o passado, o presente e o futuro? O ser que Lauren descobre em casa (um alienígena? Um autista? Um fantasma? Ela mesma?), as imagens de Kotka, na Finlândia, o luto... parecem mostrar a aspereza do tempo. 

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