A Garota das Cicatrizes de Fogo

Título: A Garota das Cicatrizes de Fogo

Autor: Ricardo Ragazzo

Páginas: 256

Editora: Novo Século

ISBN: 9788542800678

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Johnny Falco havia sido demitido e enquanto voltava para casa não conseguia pensar em algo que pudesse justificar sua presença tão cedo em casa para a sua esposa. O casamento já não andava muito bem e a notícia apenas tornaria as coisas piores. 

"Avistei a casa e segui para a garagem. Estacionei o carro e permaneci por mais alguns minutos ouvindo a voz rouca e harmoniosa de Leonard Cohen cantando "The Future". A letra da música, em determinado momento, dizia "Se prepare para o futuro: é assassinato". Refleti se, ao substituir a última palavra por "divórcio", a música não poderia se chamar "My Future". Em alguns minutos, saberia que a letra original não poderia ter sido mais profética. Assassinato estava em meu futuro e em um futuro mais próximo do que poderia imaginar - ou acreditar!" (p. 12)

Sim, a música estava corretíssima. Quando Johnny entrou em casa não encontrou sua mulher Nora, mas algo que parecia restar dela. Seu rosto, que apesar de conter as suas formas, possuía um aspecto cadavérico, estava seco, como se músculos e sangue e todo o resto exceto pele ou osso tive sido retirado dali. 

O quarto de sua filha estava vazio, o que foi tanto um alívio, já que Diana não se encontrava como a mãe, uma carcaça seca, quanto desesperador, já que sua filha, agora, estava desaparecida. 

Quatro anos haviam se passado desde a morte inexplicável de sua esposa e do desaparecimento de sua filha e Johnny continuava tendo o mesmo pesadelo: aquele dia retornava à sua mente mas em seus sonhos Diana chamava pelo pai, pedindo para ele vir buscá-la. 

Depois da tragédia que colocara sua vida de ponta cabeça, Johnny havia conhecido Sal Salvatore, também conhecido como Duplo Sal. Assim como Johnny, Sal tinha sido vítima de uma tragédia, onde seus pais foram assassinados em casa e o crime nunca fora desvendado pela polícia. Sal fora quem apresentara para Johnny o lado B do mundo, uma parte assustadora e bem diferente, que beirava a loucura, o tipo de mundo repleto de situações que davam veracidade a qualquer tipo de história que todos consideravam fantasiosas. Apesar disso, Sal não acreditava em sinais, diferentemente de Johnny, que acreditava que aqueles pesadelos poderiam significar algo. Mesmo sem ter encontrado nenhuma pista da filha nestes anos todos, o pai acreditava que Diana esperava-o. 

Mas Sal queria ajudar o seu amigo, que havia estado ao seu lado sempre quando ele precisou. Duplo Sal tinha descoberto algo importante: duas pessoas haviam sido encontradas mortas em uma cidade chamada Valparaíso, os corpos ressecados como ameixa seca, dois esqueletos apenas com pedaços de pele. Essa informação era uma luz no fim do túnel para Johnny e com seu velho Landau 78 e uma maleta recheada de dinheiro, partiu para Valparaíso. 

Em Valparaíso outra pessoa tinha pesadelos: Lisa Gomez. Seu pesadelo também era sempre o mesmo e trazia à tona uma memória que gostaria muito de esquecer. Quando criança, Lisa adorava brincar no gramado em frente a sua casa e nunca deixava de levar sua fiel amiga Patty, uma boneca de pano. Naquele dia queria bater o recorde de sua melhor amiga Débora em pular corda, até que um carro estacionou em frente ao jardim de sua casa e chamou a sua atenção. Desobedecendo o conselho de sua mãe de não falar com estranhos, Lisa aproximou-se do carro e falou com o homem que pedia informações. Tudo, então, aconteceu muito rápido. O homem derramou um líquido com uma arma de plástico em Lisa, o cheiro era forte e inebriante e ficava cada vez mais forte à medida que a roupa e o cabelo da garota eram banhados pelo líquido. O homem acendeu um fósforo e uma pequena chama inofensiva acabou por transformar-se em uma enorme labareda humana. 

"Finalmente, Lisa gritou. Como nunca havia gritado antes na vida." (p. 22) 

Lisa estava sendo tratada há seis anos e vivia no hospital, usava roupas largas que escondiam seu corpo e suas cicatrizes e uma pergunta não saía da sua cabeça: Por quê? 

Patty continuava ao seu lado e parecia a única a entender seu sofrimento. A boneca também carregava as cicatrizes. 

O mesmo médico havia tratado da garota durante todos esses anos e dessa vez Lisa sentia que existia algo de errado. Em todos os anos de Medicina o Dr. Henry nunca havia se deparado com aquilo: o corpo de Lisa tinha sido 80% queimado e agora todas as suas cicatrizes haviam sumido! Após uma bateria de exames nenhum médico conseguia explicar o acontecido, mas Lisa não queria entender, para ela aquilo poderia ser um milagre, não importava, ela estava feliz.

Os destinos de Johnny Falco e Lisa Gomez acabam por se encontrar na pequena cidade de Valparaíso e os dois irão conhecer o misterioso Alex, um garoto de rua que apareceu na cidade e que não se lembra de nada, nem mesmo do seu próprio nome. Os três irão acabar descobrindo que suas vidas e as tragédias que as cercam estão mais interligadas do que podem imaginar e Lisa irá descobrir se sua regeneração "milagrosa" pode ser realmente considerada uma benção ou uma maldição. 

Li A Garota das Cicatrizes de Fogo, de Ricardo Ragazzo, através do Book Tour organizado pelo E o mundo terminou em livros. Já estava com muita vontade de ler A Garota das Cicatrizes de Fogo e a leitura não me decepcionou nem um pouco, aliás, me surpreendi com a qualidade da história e da narrativa, que me deixaram de boca aberta! Ricardo Ragazzo sabe escrever, e muito bem! Seu texto flui de maneira incrível, sua narrativa é engenhosa e a história, ah! É forte e muito bem elaborada, cheia de mistério, suspense e surpresas. Johnny Falco é um personagem adorável apesar de durão, obcecado em descobrir o(s) assassino(s) de sua mulher e encontrar a sua filha, assombrado por uma tragédia e, mesmo assim, divertido e bastante irônico.

O autor faz várias referências à cultura pop e os capítulos são intercalados entre a narrativa em primeira pessoa de Johnny e terceira sobre Lisa, até que os dois se encontram. Diagramação nota 10 e capa linda!