Título: Almanova
Autor: Judi Meadows
Editora: Valentina
Páginas: 288
ISBN: 9788565859172
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Em Range havia uma milhão de almas e sempre houvera, cada uma delas fazendo sua parte para garantir o aperfeiçoamento da sociedade, cada uma possuindo dons ou habilidades necessários, como facilidade com os números ou palavras, imaginação para inventar coisas etc., fazendo que por milhares de anos tivessem conquistado o direito de ter uma vida digna.
Mas Ana não era como os outros, ela não havia renascido e com cinco anos percebeu como isso a tornava diferente. Foi na Noite das Almas, quando as pessoas se reuniam e contavam histórias sobre o que haviam feito nas três, dez, vinte vidas passadas. Batalhas, invenções… Ana não tinha nada para dizer e ninguém se importava em conversar com ela. Todas aquelas pessoas viveram antes, tinham memórias para compartilhar, vidas para esperar e agradeciam pela imortalidade.
"- Quem sou eu? - Foram as primeiras palavras que falei.
- Ninguém - respondeu ela. - Uma sem-alma." (p. 9)
Li sentia-se humilhada por ter dado à luz uma sem-alma e seu amante, Menehem, partira logo depois do nascimento de Ana. Li culpava Ana por tudo e só ficara com a filha porque o Conselho a obrigou. Ana sempre convivera com o desdém de Li e com a culpa, pois sabia que nascera no lugar de uma pessoa chamada Ciana.
"Esta não era a minha vida, Li havia me dito algumas vezes. Na época, não revelara o nome de Ciana, mas eu sabia que tomara o lugar de alguém. Uma vez, eu a ouvira fofocando sobre isso. Cada respiração minha deveria ter pertencido a alguém que todos conheciam havia cinco mil anos. A culpa era esmagadora." (p. 23)
A maior parte das pessoas deixava os pais ao completar treze anos, a essa altura já eram grandes e fortes o suficiente para ir aonde quisessem. Ana deveria ter ido embora antes do seu quindec (décimo quinto aniversário), o que para pessoas normais significava maturidade física. Mas Ana não havia vivido diversas vidas e precisava de mais tempo para aprender habilidades que outros já dominavam havia milhares de anos. Quando completou dezoito anos Ana tinha uma meta: iria para a cidade de Heart. Chegara a hora de ir até o Conselho e fazer algumas perguntas, também iria fazer algumas pesquisas na grande biblioteca, deveria haver alguma razão para que, após cinco mil anos de reencarnação das mesmas almas, ela tivesse nascido.
A viagem não seria fácil, mas Ana não contava com um inverno tão rigoroso e ataques de sílfides, tampouco com um salvador e um companheiro para sua viagem. Sam, um morador de Heart que se encontrava na floresta ajudou Ana a chegar até Heart. Ambos possuíam a mesma idade, pelo menos fisicamente. Embora resistente com relação aos cuidados e a gentileza de Sam, Ana sabe que estará segura com ele, ao contrário poderá morrer e no seu caso, não existirá volta. Mesmo assim, não compreende como ele pode querer ajudar uma sem-alma (todos sabem quem é Ana, ela é a única pessoa que não renascera em toda Range).
Sam corrige Ana, ela não é uma sem-alma, mas uma almanova e graças ao fato de ser nova ela tem a capacidade de tirar os cidadãos da rotina em que caíram, numa sociedade praticamente estagnada. Ninguém sabe o que esperar de Ana, quem ela é não está estabelecido aos olhos dos outros, diferentemente de todas as demais pessoas que continuam fazendo as mesmas coisas desde sempre.
Quando chegam a Heart Ana é surpreendida por uma enorme torre acima de um muro que se projeta na direção do céu, o templo, que envolve uma lenda antiga. Fica ainda mais impressionada quando descobre que Heart não fora construída, mas encontrada pelas pessoas, uma cidade imensa e com um templo, vazia.
Para desapontamento de Sam e Ana, para entrar em Heart é preciso ser um cidadão e para ser um cidadão é necessário ter tido um lar na cidade pelos últimos cem anos. A regra aprovada pelo Conselho claramente parece ser destinada a Ana. Mesmo assim, os dois conseguem entrar em Heart com Ana como aluna de Sam, com Sam tendo de enviar relatórios com o progresso da aluna todos os meses. Teria sido aquilo planejado?
A relação de Ana e Sam floresce, apesar do receio de ambos e nem todos os cidadãos de Heart são ruins como Ana pensava. Mas sua busca acaba parecendo não resultar em nada e Sam começa agir furtivamente, sumindo durante longos períodos da noite. Ana precisa enfrentar ainda inimigos (seres humanos e criaturas mitológicas) que querem atrapalhar o seu caminho.
O que falar sobre Almanova, de Jodi Meadows, primeiro volume da Trilogia Incarnate? Ou melhor, por onde começar? Eu simplesmente amei a leitura, apaixonei-me pela história, pela narrativa, pelo mistério e pelos personagens.
Almanova possui uma narrativa rápida em primeira pessoa, que envolve o leitor e que faz com que você não queira largar o livro. Os capítulos curtos também ajudam nessa ânsia por "quero mais" e a história traz mistérios cada vez mais elaborados e diversas reflexões durante a leitura.
Imaginar uma sociedade em que todos se conhecem e que lembram de suas vidas passadas é uma loucura. Como uma viagem no tempo, só que com as mesmas pessoas, fazendo as mesmas coisas, tendo os mesmo amigos e inimigos. Por um lado é interessante, você guarda suas lembranças e pode melhorar sempre naquilo que faz, aprimorando uma técnica etc., por outro lado é ruim, pois ninguém "sai da linha", continua fazendo a mesma coisa e não se dedica a algo novo, afinal esperam de você o de sempre.
Outra coisa interessante na história é ver como os personagens se dão uns com os outros. Amigos já foram amantes, um homem hoje já foi uma mulher e o pai de alguém poderia ter sido o filho dele. Existem diversos assuntos que podem ser discutidos com essa leitura e é por isso, e por tantos outros motivos, que ela se torna tão instigante.
Os personagens são extremamente interessantes e Ana é como um bebê no meio de todos eles (imagina, eles possuem cinco mil anos!), mas ela é forte e determinada, apesar de ter convivido com Li por dezoito anos e ter sua autoestima minada, o que a torna uma pessoa retraída e desconfiada.
Um livro recomendadíssimo, que traz uma história diferente e surpreendente, além de uma capa maravilhosa e uma bela diagramação.