As Duas Faces do Destino + Entrevista

Primeira resenha do ano (demorou, hem), mas essa é especial e por dois motivos:

1) As Duas Faces do Destino foi uma das minhas melhores leituras do ano passado e o livro entrou para o Top 5 de livros nacionais lidos em 2013;
2) A resenha acompanha uma entrevista com Landulfo Almeida, uma pessoa super simpática e um autor de mão cheia! Não deixem de conferir ao final do post. ^^ 


Título: As Duas Faces do Destino
Autor: Landulfo Almeida
Editora: Novo Século/Novos Talentos da Literatura Brasileira
Páginas: 488

ISBN: 9788576798170

Bruno há muito tempo não se sentia realmente vivo, deixando a vida simplesmente passar, como mero espectador. Os dias se arrastavam e nos últimos anos passara a manter um contato periódico com os amigos através de telefonemas e encontros, mais por obrigação do que por prazer. Esse sentimento, que nem Bruno conseguia explicar, não parecia ter fundamento. Era um homem bonito de 40 anos que tinha tudo, pelo menos tudo aquilo que a maioria das pessoas desejavam e/ou não tinham: um bom apartamento em um bairro de classe média alta em Salvador, um carro novinho, uma bela conta bancária, amigos e saúde. Bruno realmente não podia reclamar, mas também sabia que não poderia desconsiderar o sofrimento de três anos atrás, quando seu pai falecera: uma morte lenta devido ao câncer. Além disso, culpava-se pelo relacionamento de pai e filho que sempre fora atribulado. Apesar desse sentimento estranho (uma sensação de vazio) e da morte do pai (que ainda lhe causava sofrimento, sobretudo por pensar que poderia ter feito mais), Bruno seguia sua rotina em vez de se entregar. Atuava de maneira independente como trader da bolsa de valores, caminhava na praia, ia a academia, preso indefinidamente em um loop infinito, vivendo o mesmo dia sempre, sem saber como escapar, com a certeza que existia apenas o cotidiano e a morte. Essa vida que ele conhecia tão bem e esses pensamentos que o atormentavam iriam mudar radicalmente quando conhecesse Adrianna, uma linda mulher, ao acaso (pelo menos fora o que ele pensara), fazendo cooper na praia. 

"Mas eram apenas pensamentos contemplativos. Nos próximos minutos faria algo terrível e precisaria viver com as consequências, boas ou más. Enfrentar o resultado já seria suficientemente difícil sem se afeiçoar, caso isso acontecesse, seria ainda pior. Raciocinar de forma completamente cartesiana era a única solução. Era a atitude correta, ela sempre se repetia. Tomou o cuidado de lhe dirigir o olhar quando cruzaram. Até ensaiou um sorriso. Jamais pensou em intencionalmente seduzir um homem pelo qual não tivesse real interesse romântico. Mas era o certo a fazer, pensou mais uma vez." (p. 30) 

Um jogo de sedução começa, com Bruno interessadíssimo em Adrianna, uma mulher inteligente, bonita, educada e que aparentemente possui os mesmos gostos que Bruno. Enquanto se conhecem nos encontros que marcam, Adrianna sempre mantém uma postura neutra no quesito paquera, ora instiga Bruno, ora se afasta. Também estimula Bruno através das conversas sobre temas científicos e outros, como a teoria das cordas. Algo que o intriga e o leva a pesquisar sobre o assunto. 

"Se a teoria for verdadeira, além de explicar todas as forças conhecidas da natureza, ela revelará uma realidade chocante. Matematicamente ela comprova a existência de não apenas quatro dimensões, três para o espaço e uma para o tempo, mas também sete outras dimensões desconhecidas. A teoria ainda não foi provada." (p. 42)

Desde que encontrara Adrianna "por acaso", Bruno já havia desmaiado, sentira-se muito mal e experimentava agora uma hiperatividade, uma inquietação, e nem mesmo o treino na academia o cansava ou o fazia suar. 

"O pior cenário previsto era um desmaio e o melhor seria não ter sentido nada. Na opinião dela, o experimento estava indo muito bem". (p. 52)

Adrianna tinha planos e chegara a hora de testar Bruno de verdade, contar-lhe a verdade seria muito difícil, mas ela tinha esperanças de que aquele homem gentil e corajoso acabaria entendo seus motivos de agir daquela forma, ela também teria que enfrentar a descrença de Bruno, afinal não era todo dia que alguém dizia que não era da Terra. 

Tudo era muito confuso e louco e Bruno não sabia se ficava com raiva pelo fato de Adrianna ter mentido e o manipulado ou por falar coisas que não faziam sentido. Ela não era desse planeta, havia seduzido um homem porque encontrara nele alguém compatível para seus planos e para isso tinha seguido Bruno e possuía todas as suas informações. Bruno não poderia estar mais furioso, mas também curioso, afinal aquela mulher aparentemente "normal" havia lhe mostrado coisas que nenhum ser humano seria capaz de fazer. 

Vinda de uma sociedade muito mais avançada tecnologicamente e socialmente, Adrianna contou tudo para Bruno: Aqua estava com problemas e a solução buscada, que acabou não sendo aceita, abriu espaço para a revolta de um homem, Kerligan, que aliado com seu braço direito, MJ, conseguiu escapar matando cientistas e indo para a Terra, poupando apenas o professor Onan e Adrianna, que fora incumbida de ir atrás de Kerligan e MJ e arrasar com os seus planos. 

Kerligan é extremamente perigoso, um homem que teve acesso a informações que Adrianna desconhece, alguém que ama o poder e tem os meios para tornar-se o homem mais rico e poderoso do mundo, podendo controlar cada acesso e tecnologia superior criada por ele, um homem capaz de matar sem qualquer tipo de remorso. 

"- Imagine se Hitler tivesse à sua disposição uma tecnologia centenas de anos mais avançada que a dos aliados. Na verdade não precisaria ir muito longe, bastava ter desenvolvido a bomba atômica antes, não é mesmo? Como seria a vida hoje?" (p. 90)

Adrianna tinha uma proposta e apesar de tudo parecer irreal naquele momento Bruno aceitará seguir com o plano de Adrianna, buscando a ajuda de seus amigos mais antigos e passando por situações arriscadas, em meio a sabotagens e assassinatos, enquanto amizades serão testadas e verdades surpreendentes serão reveladas. 

As Duas Faces do Destino, de Landulfo Almeida, é fantástico e fica difícil fazer uma resenha porque dá vontade de escrever mais, aprofundar-se na trama e dar mais detalhes pois o livro é cheio deles, em uma narrativa que instiga o leitor e apresenta uma história cheia de reviravoltas, surpresas, segredos e acontecimentos inesperados. Apesar dos diversos personagens em As Duas Faces do Destino, o autor conseguiu dar a cada um deles uma personalidade distinta que faz com que o leitor consiga identificar cada um deles no momento da leitura e acabe se apegando/identificando com alguns. Cada um possui suas particularidades e sua função na trama, o que me fez gostar de todos e questionar quem é o "mocinho" e o "vilão" ou se na verdade cada um está trabalhando naquilo que acredita ser o "bem". 

Com uma trama extremamente bem desenvolvida, o autor já nos avisa no início que se esforçou para entender as teorias da Física e algumas linhas de pesquisa futurísticas da Medicina e o universo dos investimentos bilionários, moldando-os em favor da história e preservando a proximidade adequada com a verdade para que o leitor não se deparasse com algo ridículo e absurdo, mas uma hipótese fantástica, o que torna a história muito mais interessante e de forma alguma complicada, já que todos os termos científicos, médicos e do universo de investimentos são explicados de forma agradável, sem obscuridades. 

Enquanto lia o livro logo imaginei um filme, mas com o decorrer da leitura percebi que adoraria assistir uma série, já que o autor abrangeu diversos temas em seu livro e conseguiu manter um equilíbrio entre todos eles, uma série seria ótimo e iria atrair o mais variado público, assim como o livro pode agradar diversos leitores, dos mais variados gostos. 

*

Entrevista


Electric Beans: O que fez você começar a escrever? Quais autores mais te inspiraram? 

Landulfo Almeida: Oi Paula. Em primeiro lugar, gostaria de agradecer e dizer que é um prazer participar dessa entrevista. 

Eu sempre gostei de escrever, mas a possibilidade de escrever um romance surgiu mais recentemente. Comecei escrevendo críticas sobre filmes na época de faculdade. Não mostrava para quase ninguém. Envolvi-me tanto com as atividades profissionais que acabei me distanciando da escrita. Quando minha filha nasceu, resolvi diminuir o ritmo de trabalho e, naturalmente, voltei a escrever. Criei uma série de histórias para ela: "As histórias da princesa Lulu". Depois passei a registrar várias ideias de potenciais livros. Contudo, foi apenas quando reorganizei completamente minha atividade profissional, liberando preciosas horas durante o dia, que pude dar vazão ao forte desejo de colocar em papel uma grande história. De repente, escrever se tornou uma necessidade, uma terapia. 

Stephen King, Anne Rice e Marion Zimmer Bradley foram os culpados pelo meu amor aos livros. Também leio muito John Grisham. Mais recentemente, uma gama de autores maravilhosos me ajudou a decidir que tipo de autor eu gostaria de ser: J.K. Rowling, Stieg Larsson, Jeffrey Archer, Dan Brown e George R.R. Martin. Mas, leio de tudo. De biografias a clássicos. 

EB: Como surgiu a ideia de escrever As Duas Faces do Destino e onde encontrou mais dificuldade no processo de criação? 

LA: As ideias me vêm na forma de imagens, como num filme. Um belo dia eu corria no mesmo lugar onde Bruno e Adrianna se encontram pela primeira vez e a cena do primeiro capítulo do livro me veio à mente. Como na época eu assistia muitos documentários sobre teoria das cordas e universos paralelos o roteiro básico do livro se formou logo em seguida. Cheguei em casa e comecei a escrever. 

Entre a primeira palavra e a finalização foram três anos, com uma pausa de seis meses, aproximadamente, nesse período. A inexperiência me prejudicou. Após estabelecer a premissa inicial e escrever os primeiros capítulos, tive que parar para compor o roteiro detalhado da história. Foi preciso gerar arquivos de apoio e planilhas para manter a cronologia adequada e coerente dos fatos. Afinal, a história se passa num período aproximado de sete anos, quando a vida de todos os personagens muda completamente. Foi um aprendizado, pois perdi muito tempo nessa reorganização. A partir daí, as coisas foram surgindo em concordância com as necessidades da história. 

Hoje tenho um método de registro que facilita o trabalho e torna mais rápidas as consultas necessárias. 

EB: Existe algum personagem com o qual se identificou mais ou algum personagem favorito? Por quê? 

LA: Adrianna e Olívia são, sem sombra de dúvida, meus personagens preferidos. Eu tive a intenção clara de transformar Adrianna em um personagem forte, determinado e corroído pelas duras decisões que foi obrigada a tomar. Contudo, no processo de criação, tentei descrever Adrianna e suas motivações pelos olhos de Bruno. Esse método me fez admirar a personagem. 

Olívia foi uma experiência maravilhosa. Ela entrou na obra para ser apenas um personagem secundário. Com o desenvolver da trama ela passou a ser a solução viável para várias das questões do livro. Isso me obrigou a desenvolver mais a personalidade dela, criar motivações e histórico, além de um código de valores. Comecei a gostar da personagem e ela ganhou cada vez mais espaço na história. 

EB: Se pudesse se encontrar para um bate-papo informal com autores (vivos ou não), quais seriam? Pode nos contar como imagina o teor da conversa? 

LA: Entre os vivos, perguntaria a George R.R. Martin como ele consegue ser tão detalhista e criativo em suas "Crônicas de Gelo e Fogo". Tentaria entender o processo usado por ele para escrever. Para Jeffrey Archer eu pediria que contasse sua vida. Entre autor de sucesso, membro do parlamento inglês e presidiário, milhões de experiências fabulosas devem existir para ser compartilhadas. 

Entre os mortos acho que perguntaria a Stieg Larsson como ele imaginou os outros livros da série Millennium. Com os irmãos Grimm e Júlio Verne gostaria de conversar sobre criatividade e inspiração. 

EB: Podemos esperar mais histórias de Aqua

LA: "As duas faces do destino" foi concebido como uma obra única. Mas, ao longo do tempo tem crescido em mim a vontade de falar algo mais sobre Aqua e alguns eventos que sucederiam cronologicamente os acontecimentos do livro. Cheguei a fazer um roteiro básico. Contudo, hoje estou trabalhando em outro romance sem conexão direta com "As duas faces do destino". Quando terminar esse novo livro, talvez, volte para o multiverso onde Aqua e a Terra se encontram. 

EB: Como definiria Landulfo Almeida? 

LA: Alguém sempre em busca de superar os passos anteriores. Um eterno estudante, apaixonado por livros, cinema e fã ardoroso de minha filha.

6 comentários:

  1. O livro me parece ser realmente muito bom, estou encantada com ele e simplesmente amei a entrevista com o escritor. Autores brasileiros vem me surpreendo a cada dia.
    Beijos

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  2. Gostei do enredo do livro, a estória é muito fascinante e me deixou muito curiosa para ler, parece ser muito bom mesmo! Ainda não conhecia o autor mas amei a entrevista, ele é mesmo muito simpático.
    beijos ♥
    quemprecisadetvparaverbeyonce.blogspot.com.br

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  3. Amei a resenha Paula! Muito obrigado pelas palavras elogiosas e pelo carinho. Deixo aqui um abraço enorme para todos os leitores desse excelente blog.

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  4. Olá Paula!! Primeiro parabéns pela super entrevista e pela resenha, demais poder ler sobre o que se fala da historia e depois poder ler sobre as ideias, criação e pensamentos do autor!
    Já conhecia o livro e confesso que acho a historia bem diferente e interessante. E já tenho ele na minha lista de desejados!!
    Beijos!!

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  5. Paula parabens pela sua entrevista!! ela esta otima... eu n conhecia o livro nem o autor mas parece ser uma otima historia!! parabens para os dois ;)

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  6. É tão gostoso quando a gente começa a ler uma resenha e dá de cara com a frase: "foi uma das minhas melhores leituras " :)
    Eu ainda não conhecia o livro do Landulfo, mas agora estou me coçando de vontade de ler rs
    Que a literatura nacional continue trazendo ótimas publicações, enchendo de brilho o nosso olhar a cada virar de página.

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